terça-feira, agosto 28, 2007

Première Brasil

Notícia fresquinha:

Os organizadores do Festival do Rio acabaram de divulgar os selecionados para a Première Brasil deste ano. São ao todo 34 longas e 24 curtas. E a abertura do evento será dia 20 de setembro, com a exibição de “Tropa de Elite”, de José Padilha. O Festival do Rio vai do dia 20 de setembro a 4 de outubro

Mostra Competitiva de Longas de Ficção

A Casa de Alice, de Chico Teixeira
Deserto Feliz, de Paulo Caldas
Estômago, de Marcos Jorge
Maré, Nossa História de Amor, de Lucia Murat
Mutum, de Sandra Kogut
Onde Aandará Dulce Veiga?, de Guilherme de Almeida Prado
Sem Controle, de Cris D'Amato
O Signo da Cidade, de Carlos Alberto Riccelli
A Via Láctea, de Lina Chamie

Mostra Competitiva de Longas Documentários

Andarilho, de Cao Guimarães
Condor, de Roberto Mader
Diáriod e Sintra, de Paula Gaitán
Estratégia Xavante, de Belisario Franca
Memória para uso diário, de Beth Formaggini
O Engenho de Zé Lins, de Vladimir Carvalho
Panair do Brasil, de Marco Altberg
Pindorama – A Verdadeira História dos 7 Anões, de Roberto Berliner, Lula Queiroga e Leo Crivelare PQD, de Guilherme Coelho
Rita Cadillac, A Lady do Povo, de Toni Venturi

Hors-Concours Longa–Metragem

Brigada Pára-Quedista, de Evaldo Mocarzel
Grupo Corpo 30 Anos – Uma Família Brasileira, de Fabio Barreto e Marcelo Santiago
Iluminados, de Cristina Leal
Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho
Juízo, de Maria Augusta Ramos
Mulheres Sexo Verdades Mentiras, de Euclydes Marinho
Nome Próprio, de Murilo Salles
Pequenas Histórias, de Helvécio Ratton

Mostra Retratos Longa–Metragem

Carlos Oswald - O Poeta da Luz, de Regis Faria
A Etnogradia da Amizade, de Ricardo Miranda
O Tablado e Maria Clara Machado, de Creuza Gravina

Mostra Novos Rumos
5 Frações de Quase História, Armando Mendz, Cris Azzi, Cristiano Abud, Guilherme Fiúza, Lucas Gontijo e Thales Bahia
Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro
Corpo, de Rossana Foglia e Rubens Rewald
Meu Nome é Dindi, de Bruno Safadi

CURTAS

Mostra Competitiva de Curtas –Metragens

7 minutos, de Cavi Borges, Julio Pecly e Paulo Silva
A Maldita , de Tetê Mattos
Alphaville 2007 d.C. , de Paulinho Caruso
Cabaceiras , de Ana Barbara Ramos Ramos
Esconde-Esconde, de Alvaro Furlone
Icarus, de Victor-Hugo Borges
O crime da atriz, de Elza Cataldo
O Lobinho nunca mente, de Ian SBF
Outono , de Pablo Lobato
Pequenos Tormentos da Vida, Gustavo Spolidoro
Picolé, pintinho e pipa, de Gustavo Melo
Réquiem, de Felipe Duque
Saliva, de Esmir Filho
Satori Uso, de Rodrigo Grota
Sentinela, de Afonso Nunes
Um Ramo, de Juliana Rojas e Marco Dutra
Vida de Maria - Márcio Ramos

Mostra Retratos Curta–Metragem

Elke, de Julia Rezende
Lêda de Arte Leda, de Daniela Gontijo
Maria Lenk, de Sonia Nercessian
O Homem-Livro, de Anna Azevedo
Quanto Mais Manga Melhor, de Michele Lavalle

Hors Concours Curta–Metragem

Noite de Sexta, Manhã de Sábado, de Kleber Mendonça Filho
Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba, de Thomaz Farkas e Ricardo Dias

Mostra de cinema Rock and Totem

A partir de amanhã, o Senac de Copacabana (Rua Pompeu Loureiro, 45) recebe a mostra "Rock and Totem". Vale a pena dar uma conferida:

29/08 ( Quarta )
19h - Festival
21h - Festival Express

30/08 ( Quinta )
19h - Tributo a Tim e Jeff Buckley
21h - The complete Monterey Festival

31/08 ( Sexta )
19h - Cat power, speaking for trees
21h - Dig

01/09 ( Sábado )
19h - The stones in the park
21h - Spinal tap

02/09 ( Domingo )
17h - Lemon jelly 64/95
18h - Genghis blues
20h - The holy mountain

Ah... a entrada é franca!

domingo, agosto 26, 2007

Grandes estréias

Há tempos que não se via um fim de semana com tantas boas estréias: “Santiago”, de João Moreira Salles, “O ultimato Bourne”, de Paul Greengrass, “O grande chefe”, de Lars von Trier (apenas em Sampa; no Rio no próximo fim de semana), e “Possuídos”, de William Friedkin. Isso sem contar com a exibição da série “A Pedra do Reino”, de Luiz Fernando Carvalho, nos cinemas, e da estréia de “Fora do jogo” no Rio – há ainda o lançamento do criminoso “A ponte”, sobre o qual escrevi durante o festival do Rio.

O MAM e o CCBB também aparecem com boas pedidas. A cinemateca exibe hoje às 18h um dos melhores filmes de Ruy Guerra, “Deuses e os mortos” (1970).

Aliás, esta semana segue com muitas opções para o cinéfilo. O Odeon recebe a quarta edição do evento “Cinema que pensa”. Dessa vez, o tema será “Os povos e corpos do cinema afro-luso-brasileiro” - inspirado no texto “Tri continental” de Glauber Rocha.

Nos três dias do encontro, além de alguns curtas, serão exibidos os seguintes longas:
dia 27/08, às 21h: “O Leão de Sete Cabeças”; filme africano de Glauber Rocha
dia 28/08, às 21h: “O Herói” do angolano Zezé Gamboa, filme que mostra, dialeticamente, as repercussões da guerra civil em Angola;
dia 29/08, às 21h: “A Margem”, de Ozualdo Candeias

E na quinta (30) o cineclube Tela Brasilis completa quatro anos com uma homenagem a Sergio Bernardes Filho e José Agrippino de Paula.

Às 18h30, na cinemateca do MAM, passam o curta “Passeios no recanto silvestre” (2006), de Miriam Chnaiderman”, e o longa “Desesperato” (1968), de Sérgio Bernardes Filho.


O grande chefe ****

Lars Von Trier muda para continuar o mesmo. Em “O grande chefe” o cineasta dinamarquês retorna num tom mais sutil e discreto, com uma comédia inspirada sobre política de escritório e como seus piores medos a respeito de seu chefe podem ser verdadeiros. O filme traz a história de Ravn (Peter Gantzler). Ele é dono de uma empresa de TI e pretende vendê-la. O problema é que, quando abriu a companhia, Ravn inventou um presidente inexistente para servir de fachada quando fosse preciso tomar medidas impopulares. O comprador potencial Finnur, um islandês mal encarado (Fridrick Thor Fridriksson), insiste em negociar diretamente com o "presidente", cara a cara. E então, Ravn decide contratar Kristoffer (Jens Albinus, o mesmo que viveu o agressivo e carismático líder de “Os idiotas”), um ator decadente, fã fervoroso de um dramaturgo italiano que só ele parece conhecer, para fazer seu papel. Seguem-se confusões e mal-entendidos diversos, em parte porque Ravn é econômico com as informações que fornece ao ator, que é obrigado a improvisar para escapar de algumas saias para lá de justas, e parece estar levando seu personagem a sério demais.
Para os que vinham sendo desafiados por Von Trier, este seu mais recente trabalho tem jeito de novidade. Logo nos frames inicias, o cineasta avisa em off que este é um longa “para qualquer pessoa”, sobre o qual “não vale a pena refletir. É comédia inofensiva, que não espera pregar nem alterar opiniões”. Em “O grande chefe”, Von Trier retorna a um modo, digamos, mais linear de narrativa, e ao terreno da comédia de humor negro. O filme tem realmente um pé inteiro na clássica comédia americana do gênero "screwball", amalucada, afiada, e fortemente baseada no texto – o realizador se diz fã do gênero, em especial dos longas “Levada da breca” (1938), “Um estranho casal” (1968), “Núpcias de escândalo” (1940), e “A loja da esquina” (1940). Por vezes, pode até parecer se tratar de uma comédia inofensiva, mas não é lá muito difícil perceber que existe alguém por trás de tudo isso, e que este alguém está se divertindo, faz questão de deixar claro quem está no comando, e guarda algumas surpresas na manga. Aos poucos temos o esboço de uma alegoria política despretensiosa sobre poder, com a voz de Von Trier pontuado os atos do filme. Ele brinca, inclusive, com seus filmes mais antigos, quando um dos personagens de “O Grande chefe” enche a boca para dizer: “A vida é como um filme do Dogma – é difícil ouvir o que está sendo dito”.

Há mais uma vez um diálogo livre com o melodrama, uma câmera sempre junto aos atores, emprestando uma urgência sufocante ao filme. Mas Trier se impôs novas regras. Dessa vez, há um computador acoplado a uma câmera e microfones. Aos poucos o espectador será capaz de perceber que há uma grande imprecisão nas tomadas, um certo caos formal. Por vezes, é preciso procurar pelos personagens no quadro após o corte. A descontinuidade reina também na iluminação e no som de um plano ao outro. Não são jump cuts. A impressão é a de que começamos do zero a cada corte. Batizado de “Automavision” (creditado como fotógrafo do filme), o mecanismo é descrito pelo cineasta como “um princípio de filmagem (e gravação de som) desenvolvido com a intenção de limitar a influência humana, convidando o telespectador a ver as coisas por outros ângulos” - na verdade, tudo indica que Trier não estava nem mesmo presente no set durante as filmagens, ele apenas selecionava uma locação e escondia algumas câmeras fixas. O Automovision determinava o enquadramento, a abertura do diafragma, e a gravação do som.

Como a grande maioria de seus filmes, “O grande chefe” não deposita muita fé na humanidade. As marionetes de Trier são sempre barulhentas e orgulhosas a ponto da histeria. Aqueles que como Finnur e Ravn estão no poder são mentirosos e manipuladores, enquanto aqueles que os cercam não passam de bajuladores e vaidosos. Interpretado por Albinus, Kristoffer é um ator pretensioso e sem graça. Ele parece estudar diferentes linhas de interpretação, propõe mudanças na caracterização do personagem e tenta sempre imprimir uma certa “profundidade” ao presidente. Dotado de uma sensibilidade ingênua, ele inicialmente não percebe estar sendo enganado por Ravn. Mas em seu segundo ato, o longa presenteia o personagem com uma série de dilemas éticos e artísticos. Será que ele revelará toda a verdade para os empregados de Ravn? Ou será que ele preservará a integridade de seu personagem até o fim?

Possuídos ****

“Possuídos” é definitivamente um dos melhores filmes de William Friedkin (“Operação França” (1972), “O exorcista” (1973), e “Viver e morrer em Los Angeles” (1985). Com praticamente apenas um set e cinco atores, o cineasta americano revisita alguns de seus temas favoritos, como a tênue linha entre o bem e o mal, a emergência da loucura, e as teorias de conspiração, e realiza um estudo perturbador sobre a paranóia.

Adaptado da homônima peça de teatro off-Broadway escrita por Trecy Letts, “Possuídos”, conta a história de uma garçonete chamada Agnes (Ashley Judd). Ela vive num quarto de um hotel à beira da estrada e recebe ligações anônimas que pensa ser de seu violento ex-marido Goss (Harry Connick Jr.), recém-libertado da prisão. Por meio de uma amiga homossexual, R.C (Lynn Collins), ela conhece Peter (Michael Shannon, que viveu o mesmo papel no teatro), veterano da Guerra do Golfo com quem tenta iniciar um romance. Em seu primeiro terço, o filme arma um conflito em torno de um triangulo amoroso. Mas Agnes dorme com Peter e, de repente, parecemos entrar no universo de Philip K. Dick. A situação se agrava paulatinamente e o quarto todo coberto de papel alumínio lembra "The twilight zone".

Friedkin não costuma dar muito espaço pra a construção de personagens, mas os de “Possuídos” são cuidadosamente delineados. Há ainda o interesse de explorá-los como tipos (como o papel de Connick Jr.), mas aos protagonistas é dado todo um background, e o filme, aos poucos, se revela bem claro no que diz respeito aos seus propósitos. Para isso é essencial o trabalho de construção de um clima, instável e claustrofóbico. De um lado o barulho de telefones antigos tocando, luzes fluorescentes, e um detector de fumaça avariado; do outro, o uso vagaroso do zoom, os close-ups, o quatro do motel. Além de apostar, como sempre, num realismo direto e violento (sem medo das situações mais cruas), Friedkin ainda consegue um jogo impressionante de contraposições entre as seqüências de paranóia filmadas dentro do quarto de Agnes e os poucos e assustadores planos aéreos.

Em “Possuídos” a paranóia é real. E o espectador sente isso na pele. É tensão por todos os fotogramas. Quando Peter ou Agnus não estão no quadro juntos, tememos pelo que se mostra sozinho. No fim, Friedkin esclarece que seus personagens caíram num caminho sem volta, mas afirma que a paranóia deles é justificável, mesmo que por razões que não os mosquitos. Os mistérios de Peter e Agnes (ora enfraquecidos, ora fortalecidos) não são tão importante quanto o que eles internalizaram. A loucura de Peter não é nada risível. Muito pelo contrário: seu discurso parece dotado de uma lógica para lá de plausível, e nós, espectadores, testemunhamos o que isso foi capaz de fazer com Agnes. Ele debate dobre a onipresença ameaçadora e silenciosa das máquinas. Ela diz ser loucura dele, que afirma ter sido mordido por um mosquito. Ela não consegue ver nada e, de repente… sim, talvez ela consiga. O cineasta quer discutir os problemas de uma sociedade que só sabe resolver seus conflitos, internos e externos, por meio da violência, expor como o Estado, que deveria garantir a segurança, hoje cerceia nossas liberdades.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Duas dicas para esta quarta

Hoje, no cineclube da FGV, Sandra Kogut estará presente na exibição de seu ótimo “Um passaporte Húngaro” (2002). O cineclube está no Prédio da FGV do centro, Rua da Candelária, 6. A sessão começa às 18h30, e após a projeção haverá uma debate com a realizadora.

Ainda nesta quarta, às 21h, no Odeon, o Cachaça Cinema Clube completa 5 anos com uma sessão especial em homenagem a Edgard Navarro. Serão exibidos “Alice no país das mil novilhas” (1976), “O Rei do cagaço” (1977), “Exposed” (1978), “Lin e Katazan” (1986), e o grande “Superoutro” (1989).

domingo, agosto 12, 2007

Chris Farley

A imagem não está boa, mas este era um dos melhores quadros de Chris Farley, o gordo mais ágil do planeta.

quinta-feira, agosto 09, 2007

De volta

Muito trabalho, uma viajem, problemas com meu computador... e lá se vão quase três semanas sem atualizar o Kinos. Mas agora estou de volta. Tenho alguns textos para postar por aqui, alguns sobre filmes que já até saíram de cartaz. Enfim... vamos lá.

Medos privados em lugares públicos *****

Alain Resnais talvez seja o maior cineasta francês vivo. Ele ainda é mais conhecido por suas três primeiras obras primas (“Hiroshima meu amor”, “O ano passado em Marienbad” e “Muriel”), mas nunca realizou obras indiferentes e seus trabalhos mais recentes permanecem desafiadores dentro de uma continuidade temática e estilística. De “Melo” (1986) a “Na boca não” (2003), Resnais segue mestre. “Medos privados em lugares públicos”, seu 48º filme, baseado numa peça homônima de Alan Ayckbourn (marcando uma nova parceria de Resnais com o dramaturgo inglês, de quem já tinha adaptado a comédia “Smoking/No Smoking”) é mais um belo acréscimo a sua filmografia.

“Medos privados” é mais uma comédia de tons irônicos a respeito das possibilidades e buscas por felicidade. A trama do filme lida com histórias que tratam do cotidiano, um tanto banais mesmo, mas cobrindo toda uma camada de fragilidades e solidões. Com muita ternura por seus personagens, o cineasta desenha de maneira deslumbrante um mundo de liberdades e pessoas que não sabem o que fazer delas. Assim como em “Amores parisienses”, Resnais desvela um desespero silencioso por de baixo da superfície colorida e de plástico do mundo contemporâneo. A própria Paris de “Medos privados” não é a cidade das luzes, mas uma gélida e moderna capital, feita de espaços elegantes e vazios, onde pessoas se encontram e desencontram. Aos poucos, percebe-se um jogo trivial de máscaras e uma estrutura rígida, matemática. E são pessoas como nós, com algumas arestas de fora, é verdade, mas vivas. Todas elas funcionam em papéis como o filho, a colega, a irmã, a noiva o desempregado. Papéis que os definem e os reprimem ao mesmo tempo.

O mestre francês é um cineasta essencialmente emocional. Mas para ele, é a forma o melhor caminho para a emoção. É impressionante o domínio de Resnais, que faz uso de todos os recursos a sua disposição. Em determinadas seqüências, numa aproximação, num único movimento de câmera ele rearranja as forças atuantes em cena. Neste sentido, é curioso observar os recentes e constantes diálogos de Resnais com o gênero musical, o teatro, e, agora, as séries de TV. Em entrevistas recentes, Resnais se diz muito interessado pela inventividade da câmera em séries de TV americanas. Para a revista “Positf”, por exemplo, o realizador se declarou fã de “Arquivo X” e da virtuosidade da técnica de campo-contracampo e da mise-en-scène de Kim Manners, um dos diretores mais constantes da série – para completar, Mark Snow, músico das séries “Arquivo X” e “Millenium”, faz a trilha do longa. E assim como em “Melo”, "Smoking/No-smoking” (1993) e “Na boca não”, “Medos privados” não esconde a raiz no teatro. A mise-en-scène de Resnais esbanja teatralidade, insistindo nas divisões do cenário e as posições dos personagens - aliás, a primeira seqüência de “Medos privados” trava uma discussão a respeito de nossa percepção do espaço. Resnais também experimentou convenções do musical em seus dois últimos trabalhos. Em “Medos privados” não parece ser diferente. O diretor mais uma vez tira proveito do gênero, construindo o tipo de encontros e desencontros que o musical convencionou.

E na verdade, é a neve que parece funcionar como um intermédio musical. Há neve por todos os lados, sempre - até mesmo dentro de um apartamento. A neve branca de fevereiro assegura a transição por entre as seqüências, que se dissolvem num balé que imprimi uma certa leveza ao filme. Num hoje famoso texto, André Bazin já se perguntava porque nevava tanto no cinema. Para o crítico francês, a neve, em sua brancura e monotonia, armazena abismos e metamorfoses. E a impressão que dá é a de que Resnais deve ter lido “Il neige sur le cinema”. Pois em “Medos privados” a neve não é apenas fotogênica. A neve é um poderoso símbolo. Ela contamina, submerge os personagens numa espécie de aquário de nostalgias. Mas ela também cura ou, ao mínimo, confidencia. Mas, no entanto, no fim das contas, resta um otimismo curioso, um apelo sutil a fraternidade. “Medos privados” parece recomendar que desliguemos a TV. Pois a vida segue. Sempre.