quinta-feira, setembro 25, 2008

festival!

É chegada a hora! Mais um Festival do Rio! O terceiro do Kinos!

Como sempre, muita gente boa ficou de fora. Mas a seleção até que está boa. Apesar de ter caído um pouco (pelo menos no papel), a Première Brasil mantém um bom nível. Os focos paralelos (Japão e UK) trazem ótimos filmes. Só ainda não sei se as mostras paralelas (italianos e irmãos Taviani) serão mesmo em película – se for, merecem atenção. O mais preocupante dessa vez foi a programação. Os filmes de maior interesse parecem quase todos concentrados na segunda semana... vai entender...

Abaixo segue uma (grande) lista de recomendações, divididas em três categorias: os que não posso deixar de ver; os que tenho curiosidade em ver; e os que acabarei vendo (ou não). Inclui filmes dos focos sobre a Grã Bretanha e Japão, mas não os das mostras italianas. Os que já vi seguem com uma cotação, e, em itálico, os longas que têm distribuidora nacional (o que, infelizmente, não quer dizer lá muita coisa).
Devo escrever uma ou outra coisa por aqui e lá na Cinética, cuja cobertura já começou.
Vamos lá:

Os que não posso deixar de ver:

35 DOSES DE RUM, de Claire Denis
ADORAÇÃO, de Atom Egoyan
ALEXANDRA, de Alexander Sokurov
LES AMOURS D'ASTRÉE ET DE CÉLADON, de Eric Rohmer
CAOS, de Youssef Chahine e Khaled Youssef
CHE, de Steven Soderbergh
CINZAS DO PASSADO – REDUX, de Wong Kar-Wai
A FRONTEIRA DA ALVORADA, de Philippe Garrel
UM CONTO DE NATAL, de Arnaud Desplechin
PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO, de Errol Morris
QUATRO NOITES COM ANNA, de Jerzy Skolimowski
O SILÊNCIO DE LORNA, de Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
SINÉDOQUE, NOVA IORQUE, de Charlie Kaufman
SOL SECRETO, de Lee Chang-Dong
VELHA JUVENTUDE, de Francis Ford Coppola
A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO, de Hou Hsiao-Hsien
VOCÊS, OS VIVOS, de Roy Andersson ***
WALTZ WITH BASHIR, de Ari Folman
AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO, de Miguel Gomes
NA CIDADE DE SYLVIA, de José Luis Guerin
THIS IS ENGLAND, de Shane Meadows
SEGURANDO AS PONTAS, de David Gordon Green
AQUILES E A TARTARUGA, de Takeshi Kitano
GLÓRIA AO CINEASTA, de Takeshi Kitano
M - VIDAS DUPLAS, de Ryuichi Hiroki
PONYO ON THE CLIFF BY THE SEA, de Hayao Miyazaki
TOKYO SONATA, de Kiyoshi Kurosawa
SUKIYAKI WESTERN DJANGO, de Takashi Miike
LA LEONERA, de Pablo Trapero
GUERRA SEM CORTES, de Brian De Palma ****
INÚTIL, de Jia Zhang-Ke ***
NOITE E DIA, de Hong Sang-Soo ****
SAD VACATION, de Shinji Aoyama *****
LIVERPOOL, de Lisandro Alonso ****
A MULHER SEM CABEÇA, de Lucrecia Martel ****

Os que tenho curiosidade de ver:

O CASAMENTO DE RACHEL, de Jonathan Demme
CAVALO DE DUAS PERNAS, de Samira Makhmalbaf
CHOKE, de Clark Gregg
CLOUD 9, de Andreas Dresen
DESONRA, de Steve Jacobs
IL DIVO, de Paolo Sorrentino
IMPORT EXPORT, de de Ulrich Seidl **
KATYN, de Andrzej Wajda
MAIS TARDE, VOCÊ VAI ENTENDER..., de Amos Gitaï
MINHA MÁGICA, de Eric Khoo
NA GUERRA de Bertrand Bonello
PARIS, de Cédric Klapisch.
UM SEGREDO, de Claude Miller
BALLAST, de Lance Hammer
PUFFBALL, de Nicolas Roeg
O BOM, O MAU, O BIZARRO, de Kim Jee-Woon
NINHO VAZIO, de Daniel Burman
A RAIVA, de Albertina Carri
O SANGUE BROTA, de Pablo Fendrik
SOBRE O TEMPO E A CIDADE, de Terence Davies **
OS BASTARDOS, de Amat Escalante

Os que acabarei vendo (ou não):

GONZO: UM DELÍRIO AMERICANO, de Alex Gibney
DEREK, de Isaac Julián **
GOMORRA, de Matteo Garrone **
SOB CONTROLE, de Jennifer Lynch
SUJOS E SÁBIOS, de Madonna
TODOS OS MEUS FRACASSOS SEXUAIS, de Chris Waitt
WONDERFUL TOWN, de Aditya Assarat
HAPPY-GO-LUCKY, de Mike Leigh
CASA NEGRA, de Shin Terra
A BATALHA DE HADITHA, de Nick Broomfield
UM BOM HOMEM, de Vicente Amorim
QUEIME DEPOIS DE LER, de Joel Coen, Ethan Coen
SANGUEPAZZO, de Marco Tullio Giordana

resnais na cinética

A Cinética fez um especial sobre o Alain Resnais. Tem texto meu, uma breve ponte entre os primeiros Resnais e o cinema contemporâneo de Apichatpong Weerasethakul.

terça-feira, setembro 16, 2008

alguns brasileiros


pequenas histórias °

Este filme é uma coisa incrivelmente anacrônica. Já não gostava do “Batismo de sangue”, mas percebe-se em “Pequenas histórias” uma espécie de retrocesso em matéria de organização do plano e do encadeamento deles. É tudo muito evidente. Ratton filma num estilo tipo “telecurso 2000”. Todos os elementos estão ali sem nenhuma funcionalidade mais específica, sem nenhum efeito estético, sem nenhuma necessidade. E o que dizer daquela narração artificial... Fiquei lembrando dos documentaristas do cinema direto que diziam que se usava a narração sempre que se errava na filmagem.

Mas o mais importante: o filme do Ratton se encaixaria supostamente num projeto de cinema popular. No entanto, sinceramente, nesse elogio do cinema como um elemento mágico, associado a um mundo simples e interioriano mergulhado em crenças e lendas, me parece que “Pequenas histórias” não está falando com ninguém. Menos ainda com o publico ao qual ele estaria direcionado, o infanto-juvenil. E isso não é um juízo de valor estético.

era uma vez **

Breno Silveira narra de maneira doce. Em especial na primeira metade do filme, quando as situações parecem costuradas por alguns detalhes (um livro aqui, as roupas no varal acolá). “Era uma vez...” é um trabalho que prima, sobretudo, pela simplicidade. Mais uma vez, o que chama mais atenção é o desejo e a habilidade do cineasta em estabelecer um canal de comunicação com o público, sua coragem no sentido de não ter medo de cair no sentimentalismo. Mas o filme desanda quando a violência chega ao primeiro plano. Os conflitos sociais se fazem mais transparentes, migram para o diálogo e para a confrontação dramática, e toda aquela naturalidade da primeira metade do longa parece se esvaziar sob o peso da tragédia iminente. E assim nos aproximamos do final do filme, em uma série de seqüências constrangedoras que nunca justificam seus excessos.

“Era uma vez...” é um filme que nos alerta para necessidade de um olhar mais solidário para com os diferentes que nos cercam. Silveira tenta, mas talvez seu filme não consiga dar este primeiro passo. Dé e Nina se esforçam para resistir à violência a que suas vidas parecem predestinadas, mas o enredo não lhes reserva um final, digamos, generoso. “Era uma vez...” nos conduz a um desfecho fatal, à moda brasileira para todos os conflitos entre classes. O longa nos joga na cara as conseqüências violentas da desigualdade social brasileira. “Um soco no estômago”. Mas um desfecho “feliz”, que apostasse delicadamente nos sentimentos como uma possibilidade de se sustentar o que restou desta sociedade, talvez fosse igualmente chocante.

* Não dá pra deixar essa passar: o que é aquele merchandising? Ostensivo, para dizer o mínimo. Mais muito mais do que isso, sem nenhuma necessidade ou função dentro da narrativa. Logo depois de pegar o empréstimo com a financeira, o personagem também recebe dinheiro do irmão. Vai entender...

nome próprio ***

Tive uma relação curiosa com esse filme. Na primeira vez que o vi, Camila me pareceu extremamente egocêntrica, perdida pelos caminhos da vida adulta. Como bem disse Paulo Santos Lima, ela é um personagem que varia entre o escapismo da ficção e o embate com a realidade. Camila parecia repelir as pessoas. Me irritava o fato de que todos os seus problemas eram criados por ela. E, uma vez fabricados, viravam matéria-prima para seu blog. Uma protagonista histérica e pouca verdadeira.

A segunda vez foi diferente. Camila ainda me parecia um pouco ridícula em sua relação um tanto autoritária com as coisas. Mas, dessa vez, o que vi foi a beleza ao mesmo tempo lúcida e ingênua que emana dessa relação entre a personagem e o mundo. O filme de Murilo Salles se acha intimamente ligado a uma mudança de olhar lançado ao corpo. E essa pulsão maior de “Nome próprio”, o encantamento físico do corpo, me deixou mais interessado. O corpo como cogito. Toda aquela fidelidade com a qual Murilo Salles acompanha Camila até a última gota de suor, até última arrogância, até a última pílula, que tanto prejudicou minha adesão ao filme na primeira investida, me comoveu.

Só minhas impressões sobre o final do filme permaneceram intactas. A metaliguagem. Duas Camilas. Terceira e primeira pessoas se confundem. Desnecessário.

encarnação do demônio ****

Antes de mais nada: Zé do Caixão é um dos maiores personagens do cinema brasileiro. Antropofagia na veia. Terror genuinamente brasileiro. E este “Encarnação do Demônio” é uma provocação cheia de vida e atitude, mais um acerto de contas do que uma carta de intenção.

O personagem continua atrás da mulher perfeita. Sua saga nos é narrada por uma série de seqüências circulares, desconexas e um tanto caricaturais. Mojica continua grande e autodidata. Suas imagens respiram cinema, somente cinema. Singular em suas belas bizarrices, em suas doces cruezas. Um cinema onde tudo é incerto, onde tudo parece preste a ser outra coisa, a ponto de bala. Mojica doma os espaços, sempre em busca do drama, do ápice. Cineasta de cenas extremas, seus quadros nunca primam pela pura crueldade, mas pelo ritmo, pela beleza plástica, pela visão de mundo que revelam.

Logo de cara, a impressão que fica é a de uma inadequação datada. Ela não diz respeito somente à estética, mas também ao próprio Zé do Caixão. O mundo que ele encontra ao sair da prisão é perverso. Não é mais apenas o homem ordinário que permanece servil como sempre. O próprio Zé do Caixão quase morre atropelado, cruza com meninos se drogando, é agredido verbalmente e atacado num bar. Agora, ele não é apenas um criminoso, tem até os seus jovens seguidores. Como bem identificou o Francis Vogner lá na Cinética,“Encarnação do demônio” faz dessa inadequação uma força motriz. Mojica não esconde sua velhice estética, a velhice de seu personagem. E, mais do que isso: ele chama toda essa mitologia/pop que se criou em torno dele ao longo de todos esses anos pra porrada!

sábado, setembro 13, 2008

novos links

Repasso aqui a indicação deste simpósio sobre crítica de cinema na Internet realziado pela “Cineaste”. Alguns blogs legais que não conhecia:

Girish Shambu
Supposed Aura
Cinebeats
My Gleanings
Arbogast on Film
DVD Savant
Filmjourney.org
D-kaz
Chained to the cinematheque
Cinematalk

E não é que Robert Koehler, da "Variety", indica a Cinética. Pois é...
E por falar nela, segue o link para o texto sobre "Devoção", documentário de Sérgio Sanz.

sábado, setembro 06, 2008

grande stroheim

ouro e maldição *****

“Ouro e Maldição” é mesmo um filme estupendo. É também um dos maiores mitos da sétima arte: o melhor e mais famoso filme perdido de todos os tempos. A história é notória. Stroheim começou a trabalhar na adaptação do romance naturalista McTeague (1899), de Frank Norris em 1923 sob a batuta da Metro-Goldwyn-Mayer. Foram rodados ao todo 446 rolos de filme. A primeira versão editada pelo diretor, segundo diz a lenda, variava entre 42 e 47 rolos, entre 8 e 10 horas. Aos poucos, a MGM tirou o filme das mãos de Stroheim e lançou uma versão de 130 minutos, a que conhecemos hoje. O resto do material filmado acabou sendo queimado pelo estúdio anos depois para vender as quantidades ínfimas de prata extraíveis a partir do nitrato com que se fazia os negativos. E Stroheim nunca viu a versão exibida comercialmente.

Ainda, apesar de todas as mutilações e violências que sofreu e que são visíveis no filme (falta de transição entre a tímida e recém casada Trina e sua subseqüente deterioração como uma avarenta desmiolada, por exemplo), “Ouro e maldição” é estupendo. O filme já começa brilhante. Os personagens nos são apresentados e episódios se sucedem sem que você perceba uma exata correlação entre eles. De repente, num piscar de olhos, tudo se encaixa. O cineasta também é mais perceptivo em relação aos detalhes. A mise-em-scene dedica um olhar à trama em nível “microscópico”. Os três personagens principais são recheados de nuances de comportamento muito amplas, algo talvez inédito no cinema mudo.

Assim como em seus outros filmes, Stroheim explora cada episódio ao máximo de suas possibilidades dramáticas. Falando sobre o “Esposas Ingênuas” lá na “Paisá”, o Filipe Furtado disse que Stroheim filma como se estivesse comandando uma escavação. É verdade. Se pararmos, por exemplo, para comparar a mise-en-scène de Stroheim com a de outros diretores americanos da época (Griffith, Chaplin, Lubitsch, King Vidor, De Mille) o que parece extremamente moderno em “Ouro e maldição” é a multiplicidade de ângulos de câmera e dos pontos de observação em determinadas cenas. Um excelente exemplo disso é a cena noturna no consultório de Mac, quando este e a família chegam e são informados por diversos vizinhos de que Trina ganhou na loteria. Stroheim nos oferta uma espécie de mosaico de pontos de vista e interesses.

A seqüência final é uma das melhores do cinema. Em um belíssimo plano-geral, vemos a silhueta miserável do protagonista do filme algemado a um homem morto no conjunto do cenário-deserto, que pode ser observado nitidamente e que predomina na imagem. Mais do que expressar solidão ou impotência, a cena transborda uma luminosidade, uma profundidade, uma exasperação... Cinema moderno avant la lettre.

terça-feira, setembro 02, 2008

aprendendo a atuar com james franco

See more James Franco videos at Funny or Die

blogs, première brasil, manny farber

Alguns blogs mudaram:

O Chip Hazard foi para aqui.
O Anjo Exterminador virou Cinema com Cana.

Novos blogs:

O dos irmãos Pretti
E o Critic After Dark

Olhem aí a lista da Première Brasil:

LONGAS DE FICÇÃO- Competitiva

1.A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele
2. Apenas o fim, de Matheus Souza
3. Feliz Natal, de Selton Mello
4. Juventude, de Domingos Oliveira
5. Rinha, de Marcelo Galvão
6. Se nada mais der certo, de José Eduardo Belmonte
7. Verônica, de Maurício Farias
8. Vingança, de Paulo Pons

LONGAS DOCUMENTÁRIOS - Competitiva

1. Cantoras do Rádio, de Gil Baroni e Marcos Avellar
2. Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado, de Joel Zito Araújo
3. Contratempo, de Malu Mader e Mini Kerti
4. Estrada Real da Cachaça, de Pedro Urano
5. Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal, de M. Abujamra e João Pimentel
6. Loki - Arnaldo Baptista, de Paulo Fontenelle
7. Morrinho - Deus sabe tudo mas não é X9, de F. Gavião e M.Oliveira
8. Palavra (En)Cantada, de Helena Solberg
9. Sentidos à flor da pele, de Evaldo Mocarzel
10. Titãs - A vida até parece uma festa, de B. Mello e O. R. Alves

LONGAS DE FICÇÃO HORS CONCOURS

1. A Erva do Rato, de Julio Bressane
2. Um Romance de Geração, de David França Mendes
3. Romance, de Guel Arraes
4. A Guerra dos Rocha, de Jorge Fernando
5. Todo mundo tem problemas sexuais, de Domingos Oliveira
LONGAS DOCUMENTÁRIOS HORS CONCOURS

1.O Homem Que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira
2. Pan-Cinema Permanente, de Carlos Nader
3. Garapa, de José Padilha
4. Simonal, de C. Manoel, M. Langer e C. Leal

LONGAS DOCUMENTÁRIOS RETRATOS

1. A paixão segundo Callado, de José Joffily
2. Juruna, o Espírito da Floresta, de Armando Lacerda
3. Vida, de Paula Gaitán
4. Paulo Gracindo - o bem amado, de Gracindo Junior
5. Só dez por cento é mentira, de Pedro Cézar

MOSTRA CENAS DO RIO

1. Corpo do Rio, de Izabel Jaguaribe e Olivia Guimarães
2. Favela on Blast, de Leandro HBL
3. Abaixando a máquina, de Guillermo Planel e Renato de Paula
4. Eu sou povo, de B. Bacellar, Luis Fernando Couto e Regina Rocha
5. Praça Saens Peña, de Vinicius Reis
6. Novela na Santa Casa, de Cathie Lévy

Por último: lembrança tardia da morte do grande Manny Farber, no último dia 18. Farber é um dos melhores críticos do cinema. Leiam "Negative space".

O Filipe Furtado postou algumas passagens de Farber e Jonathan Rosenbaum prestou uma longa homenagem.