segunda-feira, julho 27, 2009

coni campos

Conheço pouco do cinema de Fernando Coni Campos. Apenas dois filmes: “Ladrões de cinema” (1977) e “O mágico e o delegado” (1983). Ambos, enormes, gigantes. No primeiro, um bando de pobres moradores de uma favela carioca rouba um equipamento de filmagem e resolvem fazer um filme. No segundo, um mágico é preso por um delegado de uma cidadezinha do interior. A atividade marginal, mas elaborada a partir de baixo. A morte pela imaginação, uma espécie de diagnóstico de um dos problemas mais crônicos do cinema brasileiro. Em conjunto, esses filmes me deixam com a impressão de um cinema brasileiro por excelência. Coni Campos se afirma como um cineasta antes de tudo brasileiro.

E seu cinema é de uma rara alegria. “Ladrões” e “O mágico” celebram o fato de serem cinema. O que me comove é a vontade de nos contaminar por essa alegria, por esse desejo de ser cinema. O cineasta explora as mais variadas possibilidades comunicativas. Nada de formalismos. Nada de hermetismos. Coni Campos narra como quem canta. Ele carnavaliza. O Tiradentes de “Ladrões de cinema” é o do samba-enredo composto por Mano Décio e Silas de Oliveira para o Império Serrano. E as seqüências mais importantes de “O mágico e o delegado” terminam quase sempre em dança – com destaque especial para os planos eróticos (mas nem por isso vulgares) de Tânia Alves. O carnaval como um momento igualitário, em que os indivíduos podem extravasar certas repressões e talvez experimentar uma liberdade provisória dos papéis sociais que cumprem no dia-a-dia.

segunda-feira, julho 20, 2009

garapa


Garapa *

É preciso perguntar o “porquê” de um filme como “Garapa”. Um documentário sobre a fome. José Padilha registra o cotidiano de três famílias cearenses e sua luta contra a miséria. De cara, um certo didatismo. Surge uma cartela com um dizer de Josué de Castro. No vai-e-vem entre as famílias, imagens, situações e perguntas se repetem. Percebe-se o desejo por um painel homogêneo, sem muitas especificidades. “Garapa” nos deixa então ver suas engrenagens. E o filme corre sempre o risco de ser apenas uma ilustração de dados e teses que o antecedem. Esse risco está impresso no filme. Um cineasta julga o que mostra e é julgado pela forma como mostra. Fazer um filme é mostrar certas coisas. É também mostrá-las de uma determinada maneira. Estas duas ações são rigorosamente indissociáveis. E o que vemos em “Garapa”? Imagens estilizadas como efeitos de pobreza. Imagens pensadas à revelia do que elas nos mostram.

Mais do que isso. O que se vislumbra é uma certa idéia de documentário. Ainda hoje, pensam o documentário como tendo as suas utilidades. Pra mim, essa crença é totalmente descabida. Acho que a própria história do gênero nos aponta nessa direção: um filme documentário não faz nada acontecer. Na verdade, essa fé na força do documentário como instrumento importante de transformação social talvez explique boa parte dos problemas éticos nos quais os filmes documentários se vêem enredados.

domingo, julho 19, 2009

um fim de semana e 1000 retratos


Um belo projeto de um amigo de Barcelona. Dois fotógrafos (Gerard Franquesa Capdevila, o meu amigo, e Sergi López Graells), uma câmera, um fim de semana, e 1000 retratos. Uma saudade enorme de Barcelona. Quem quiser ver as fotos, é só clicar na imagem.

segunda-feira, julho 06, 2009

rouch no ims

Passarei a posta sobre congressos e colóquios por aqui. Para quem não sabe, estou fazendo doutorado na UFF, e vem recebendo mensagens sobre esses eventos. Alguns deles são bem legais.
Bom, pra começar, como introdução a Mostra Jean Rouch (no Instituto Moreira Salles, entre os dias 18 de julho e 18 de agosto), o IMS abrigará um colóquio sobre o cinema do mestre francês. Vale a pena dar uma olhada no site do Instituto. Começa nesta terça, amanhã. É de graça, mas precisa fazer a inscrição. Fiz uma pequena nota lá para a Cinética.

sexta-feira, julho 03, 2009

histórias de godard

A Cinemateca do MAM exibe nesse fim de semana o "Histoire(s) du cinema", do Godard. A série passa em DVD com legendas em português. Clique aqui para os horários.

quinta-feira, julho 02, 2009

tykwer e nachtergaele



trama internacional *

Esse me incomodou. Para além do esmero no estilo, sobra pouco, muito pouco. A câmera segue os atores (ambos, Clive Owen e Naomi Watts, estão apenas batendo o ponto) em constante movimento e os cortes vêm em grande quantidade. Contudo, estas opções são tão evidenciadas que colocam ruídos na descrição mais objetiva. Talvez essa impressão seja produzida pelo apreço aos macetes do roteiro, ao deslumbramento frente ao muitos recursos estilísticos à disposição do cineasta, aos detalhes sempre por demais sublinhados para causar sensação. Tom Tykwer dirige como se a “A Identidade Bourne” e seus inúmeros genéricos não existissem. Estes funcionam bem como exercícios de cinema de gênero, mas Tykwer parece se levar a sério demais para perceber que o que está na tela não passa de uma fórmula, usada e abusada à exaustão.
a festa da menina morta ***

Gostei do filme do Matheus Nachtergaele. A narrativa é cronológica, porém não no sentido clássico de causa e efeito. “Menina Morta” segue de cena a cena. Como cineasta, Matheus as trabalha quase isoladamente, em textura e intensidade. Ele opta por planos colados aos rostos dos personagens, aposta numa certa animalização de seu gestual e recruta planos-sequências para sublinhar seus atores - todos muito bem. “Menina Morta” propõe uma estética de choque: o sexo entre pai e filho, a matança do porco, os descontroles de Santinho, etc. E o registro é sempre excessivo, dotado de uma carga visual e dramática pra lá de carregada. Com o tempo alongado dos planos, no entanto, a hipervisualidade das cenas perde um pouco de sua força. Mas a impressão que fica é a do desejo pelo cinema.