sábado, março 29, 2008

hou hsiao-hsien e é tudo verdade

Durante toda a semana, de 1 (terça) a 4 (sexta) de abril, o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (Praia Vermelha) exibirá filmes de um dos nomes mais importantes do cinema contemporâneo, o grande Hou Hsiao-Hsien.

Terça, 1º de abril - Dust in the Wind (Taiwan, 1986, 109 min).
Quarta (2) - Millenium Mambo (Taiwan, 2001, 119 min)
Quinta (3) - Café Lumière (Taiwan, 2003, 103 min) Após a exibição, haverá debate com o pesquisador André Keiji e o crítico de cinema e professor Ruy Gardnier.
Sexta (4) - Three Times (Taiwan, 2005, 132 min) As exibições acontecem das 18h30 às 22h, no Salão Moniz da Aragão. A entrada é franca. Para maiores informações, clique aqui.
Filmes mais recentes de gente grande como Errol Morris e Frederick Wiseman não estão na programação, mas este É Tudo Verdade tem lá seus destaques, em especial os longas e curtas da retrospectiva do documentário experimental brasileiro. Segue alguns nomes:

Além dos Trilhos - Wang Bing
Fengming - Memórias de uma Chinesa - Wang Bing
A Dor e a Piedade (Le Chagrin et la Pitié) - Marcel Ophüls
A Tênue Linha da Morte (The Thin Blue Line) - Errol Morris
Miss Universo 1929 - Lisl Goldarbeiter, Uma Rainha em Viena - Peter Forgacs
Descrição de uma Memória (13 Lembranças do Documentário "Descrição de um Combate" de Chris Marker) - Dan Geva
A Revolução Não Vai Passar na TV – Kim Bartley e Donnacha O’Brian
Triste Trópico - Arthur Omar
Congo - Arthur Omar
Céu Sobre Água - José Agrippino de Paula
Cinema Inocente - Julio Bressane
Conversas no Maranhão - Andrea Tonacci
Dormente - Joel Pizzini
Dr. Dyonélio - Ivan Cardoso
Juvenília - Paulo Sacramento
O Porto de Santos - Aloysio Raulino
Tudo é Brasil - Rogério Sganzerla
Lavra-Dor - Paulo Rufino, Ana Carolina
Sopro - Cao Guimarães
Poesia é uma ou duas linhas e por trás uma imensa paisagem - João Moreira Salles

documentário e jornalismo

Dissertação defendida. Agora sou Mestre em Comunicação e Cultura. Abaixo, segue o resumo de “Documentário e Jornalismo: Propostas para uma Cartografia Plural”. Quem quiser mais alguma informação, é só deixar um comentário ou enviar um e-mail.

O objetivo desta dissertação é pensar a relação entre documentário e jornalismo a partir de uma perspectiva histórica. Ambos mostram, representam, e produzem a realidade. Ambos são categorias permeáveis e variáveis, modos de ver construídos historicamente por rotinas produtivas, por transformações sociais, por relações e interesses comerciais e políticos, por estéticas, metodologias e técnicas inventadas por diferentes movimentos. Ambos compartilham inúmeros pontos de contato nos processos históricos de significação, de mediação e de legitimação de suas narrativas. A proposta é trabalhar nesta multiplicidade que caracteriza o documentário e o jornalismo, propondo aproximações e estranhamentos entre eles. Assim, assumimos um lugar de problematização do próprio ato de definir estes domínios. O caminho a ser percorrido passa por um exame das práticas, dos modelos, dos protótipos, e das inovações que marcaram a história do documentário e do jornalismo, passa também por uma analise sobre a ânsia de organização em termos de unidade que perpassa a formação histórica de ambos os domínios; a constituição de um certo “lugar de fala” que os envolve em uma esfera de autoridade para explicar o mundo histórico; e o estabelecimento de um pacto narrativo que orienta a leitura de documentários e reportagens enquanto índices da realidade.

rambo IV


Rambo é um personagem que nasceu interessante em um filme cheio de vigor e inteligência. “Rambo – Programado para matar” (1982) é um ótimo filme. Ted Kotcheff trabalha bem a violência, o suspense, e o widescreen, e tem plena consciência das implicações subversivas do que tem em mãos. O protagonista era uma figura alheia à lei, à civilização. Nada disso dizia mais respeito a Rambo. Tudo lhe fora tirado durante e depois da guerra. Rambo personifica a humilhação dos americanos, é uma espécie de cicatriz ambulante. O longa parecia também expressar o conflito de uma nação que passava da oposição contra a guerra no Vietnã à estranha sensação culpada de ter traído seus próprios soldados.

Essas idéias foram obviamente invertidas no segundo e terceiro filmes da série, quando John Rambo passa a representar a América e seus delírios de grandeza. Eis que temos então este “Rambo IV”. Neste longa, Rambo está novamente por sua conta e risco, sem servir a um governo ou a uma ideologia específica. Antes de ser ruim ou bom, “Rambo IV” é um filme muito, muito estranho.

Quem são os malvados do filme? Os milicianos da Birmânia? Mas somente eles? Os mercenários contratados também não seriam malvados? O próprio Rambo não parece ter plena consciência dele também ser malvado? E os bonzinhos? Os missionários não são tratados como bonzinhos, muito pelo contrário. Rambo é completamente contrário à missão deles, apesar de ajudá-los. Rambo não faz justiça, mas também não é exatamente pintado como um criminoso. “Rambo IV” não é pacifista, mas também não prega a guerra. Se em determinado momento, o filme parece apostar na possibilidade de se transformar a realidade, no fim das contas essa crença parece totalmente descartada. Ele não defende a transformação pela guerra, embora faça uso dela. Rambo parece convicto de que a guerra é contínua, mas ele acaba voltando pra casa.

“Rambo IV” é sempre muito reticente e cauteloso em suas afirmações, e se presta muito às conjunções adversativas. Todos os personagens relativizam de uma maneira ou de outra sua própria condição e crenças. “Rambo IV” é ambíguo ao extremo, não afirma nem nega nada. Ao contrário de todos os outros “Rambos”, neste não há exatamente um discurso político, ideológico ou religioso.

Talvez o único escorregão neste sentido seja mesmo a volta pra casa. Esta cena final soa como uma contradição e sugere conotações reveladoras que o filme não parece ter previamente deliberado. Em um ótimo texto, Contardo Calligaris vê nessa volta pra casa um retrato do atual espírito americano. Para ele, essa derradeira aventura de Rambo completa uma longa argumentação pelo isolacionismo. Talvez.

Sylvester Stallone (ator, diretor e tudo o mais) adere fortemente ao niilismo de Rambo e se esforça para oferecer ao público apenas aquilo que ele quer. “Rambo IV” é recheado de problemas, da canastrice sem limites dos atores a montagens paralelas bizarras. Mas concordo com o Marcelo Miranda que isso não significa que ele seja passível de descaso, deboche ou desrespeito. Stallone está ali por inteiro, sem jamais se permitir concessões, sem medo de soar ridículo ou patético. Merece respeito.

quarta-feira, março 19, 2008

dicas

No MAM, dois filmes de um cineasta que sempre quis conhecer: Luiz Rosemberg Filho. “Crônica de um industrial” passa no sábado (22), às 16h. E “América do Sexo” será exibido no dia seguinte (23), às 18h.
A Caixa Cultural-RJ sedia, de 18 a 30 de março, a primeira mostra organizada pela Revista Cinética: “Eu é Um Outro - O autor e o objeto no documentário brasileiro contemporâneo”. A mostra exibirá 36 longas documentais realizados a partir de 2000 e terá debates com críticos, teóricos e realizadores. São muitos os destaques. Vale a pena dar uma olhada na programação.

Para terminar, o CinePuc volta à ativa com um pequeno ciclo dedicado ao brilhante diretor sul-coreano Hong Sang-soo. As sessões se dão sempre às 19h, sempre às terças-feiras, na sala k102 da PUC-Rio. Os filmes dele não costumam passar por aqui, nem mesmo em festival. Portanto, considerem:

“Turning Gate” (2002) e “A Mulher é o Futuro do Homem” (2004) já foram exibidos. No dia 25/03, passa “Conto de Cinema” (2005) e na terça seguinte (1/04) passa “Mulher na Praia” (2006).