terça-feira, fevereiro 16, 2010

antônio carlos bernardes gomes

deixe ela entrar

“Deixe ela entrar”, uma adaptação do romance homônimo do sueco John Ajvide Lindqvist, nos fala de uma estranha relação entre um tímido garoto de 12 anos e uma pequena vampira que aparenta ter a mesma idade. Oskar é maltratado pelos colegas de escola. Fica a maior parte do tempo sozinho, vendo o inverno passar da janela de seu quarto. Eli (Lina Leandersson) é a vizinha nova do apartamento ao lado. Ela não sente frio e só sai de casa após escurecer.

Eli mal consegue administrar suas necessidades vitais. Ela não quer expandir sua raça e sempre mata suas vítimas. Obrigada a viver para sempre, a personagem se afirma em um desejo/dilema aparentemente insolúvel: encontrar alguém para amar e, ao mesmo tempo, condená-lo a uma vida subserviente e criminosa. Oskar vive em uma sociedade que não o respeita. E ele parece assumir total responsabilidade por isso. Um movimento interessante. Oskar não quer saner de seus professores, de seus pais, e não cultiva nenhuma amizade.

O encontro desperta nos personagens sentimentos sem nome. Algo sempre nos escapa. Oskar e Eli recusam qualquer forma de subordinação ou de funcionalidade. O que os une é um desejo sem nome. Não é amor, paixão, compaixão, ou amizade. A relação aqui é de outra ordem, ainda a ser classificada. A direção de Tomas Alfredson é delicada, porém radical em sua entrega sem cautelas à compreensão dos corpos e desejos de seus personagens. Eli decepa os garotos que maltratavam Oskar. O cineasta filma tudo com uma certa alegria, e nos convida a partilha-la com ele. Alfredson recupera um certo apelo à coragem de pensar de uma forma ainda não-pensada ou de sentir de maneira diferente. Essa é a política de “Deixa ela entrar”. Uma política da imaginação que aponta para a criação de novas imagens e metáforas para o pensamento, a política e os sentimentos e que renuncie a prescrever uma imagem dominante.

“Deixe ela Entrar” é uma estranha espécie de afirmação das diferenças e dos diferentes. Oskar será o novo provedor de sangue para a menina? Ele será um vampiro e com ela viverão felizes? É um final cheio de esperança, estranhamente otimista. Ta aí um filme disposto a devolver ao mundo uma certa complexidade.

zona livre

O CCBB do Rio abriga o festival Zona Livre. Alguns destaques:

- Nowhere, de Gregg Araki
- Sangre, de Amat Escalante
- Trash Humpers, de Harmony Korine (video)
- Gozu, de Takeshi Miike
- Hunger, de Steve McQueen (em 35mm)
- Moonlighting, de Jerzy Skolimowski

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

cimino

Amanhã o IMS-RJ exibe "O portal do paraíso" (1980), de Michael Cimino, às 14h30. Cópia com legendas em espanhol.

young


“Neil Young - Heart of Gold” não é apenas um show filmado. É como um testamento. As músicas se conjugam sempre na primeira pessoa do singular. Odes panteístas à família, à amizade. "I want to live/I want to give", confessa Young em seus primeiros versos. Gravado em um momento de luto - Young estava com um aneurisma e seu pai havia morrido poucos meses antes do diagnóstico - o show alterna canções mais recentes e o material mais antigo em uma espécie de panorâmica da vida do cantor e campositor. "Quando comecei a tocar”, diz ele, “eu criava galinhas. Eu devia ter uns sete, oito anos. Talvez um pouco mais. E ganhei um ukelele de plástico de meu pai. E eu não sabia o que fazer com ele. Meu pai disse: ‘Talvez você precise disso’. E cantou uma canção para mim que eu nunca tinha ouvido antes. Ele ficou me olhando, com um sorriso engraçado no rosto. Fiquei olhando para ele. E então tive que ir cuidar das galinhas". Uma celebração. Uma celebração doída, é verdade. Jonathan Demme intui um tom. Poucos movimentos. Poucas angulações. A câmera acompanha com delicadeza. O filme se faz em um íntimo imbricamento com a música e nos convida a um outro tipo de fruição. Young no palco é como uma força da natureza. Solta no espaço. Tudo que ele toca se torna seu, seu e de mais ninguém. Isso tem nome. Verdade!

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

os celulares de ferrara

Outro dia revi “Mary”, de Abel Ferrara. Quantos celulares! Eu não os tinha visto antes. Voltei ao filme novamente. É curioso. Os personagens não trocam e-mails. Não postam cartas. Só celulares. É através deles que os personagens se cruzam, que os continentes se aproximam, que os dramas se desencadeiam. A opção me parece deliberada (embora isso pouco importe). E dessa vez, eu vi o celular. O celular e a experiência contemporânea. A minha experiência. Ferrara! Cinema!

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

guerra ao terror e ao francis

- No Rio, uma sexta de estréias pra lá de desagradável – com a exceção de “Guerra ao terror”. Enquanto isso, em São Paulo, dois ótimos ganham o circuito: “O que resta do tempo”, de Elia Suleiman, e “Mother”, de Bong Joon-ho.

- Por falar em “Guerra ao terror”, suas nove indicações ao Oscar são mais uma evidência do faro deslocado dos nossos distribuidores. Segundo eles, o filme não valia um centavo. Foi direto para o DVD. Agora, por causa do Oscar, “Guerra ao terror” faz o caminho inverso e chega enfim aos cinemas. Os cadernos de cultura falam da cineasta Kathryn Bigelow como uma grande surpresa, não esquecem do fato dela ser ex-mulher de James Cameron (“Avatar”, que concorre também em nove categorias), mas, com a exceção de uma breve cutucada do Inácio Araújo na “Folha”, nada foi dito sobre o que fizeram com o filme dela por aqui.

- Vi “Caro Francis”, de Nelson Hoineff. Não gostei. Não esperava muito, é verdade. Acho “Alô, Alô Terezinha” uma ofensa. Aliás, ambos os filmes são forjados em estratégias similares. Hoineff se esforça para que suas opções produzam efeitos à imagem e à semelhança de seus personagens. “Alô, Alô Terezinha” cobrava um preço por todo esse empenho. Era preciso, no mínimo, uma auto-sabotagem. Sem ela, o filme se torna um espaço de humilhação pública. “Caro Francis” é ainda mais frágil. A idéia de contradição, associada ao personagem, “justifica” algumas estratégias vazias, como a montagem de Caio Túlio e Diogo Mainardi. Preguiça. Esse o termo que vem à mente. Preguiça editorial, preguiça cinematográfica. No mais, como bem disse o Sérgio Alpendre, o filme leva uma surra do You Tube.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

stewie sobre matthew mcconaughey

stewie sobre colin farrel

recomeçar...

Estou de volta. Aos poucos.


Primeiro: os links. Dei um jeito neles. Alguns já estavam inativos há algum tempo. Outros mudaram de endereço.


Entre eles, o Los Olvidados, o Fabito’s Way, o Ricardo Calil, Francis Vogner e o Víscera.


Acrescentei outros links. O Olhos Livre Bônus, o Cine Monstro, de Carlos Primati, o Paragrafilme, do Eduardo Valente, e o blog de Steven Shapiro. Falarei mais desse teórico americano mais pra frente.


Por enquanto, é só. Mas já já vem mais por aí.