sexta-feira, abril 10, 2009

enfim... milk e lutador



o lutador ***

“O lutador” é Mickey Rourke. Seu corpo “suja” o filme e materializa as tensões de Randy. É como uma aparição, uma presença que preenche o plano. Darren Aronofsky, cineasta famoso por um estilo cheio de virtuoses (como “Réquiem para um Sonho” e “Fonte da Vida”), o filma com simpatia e "simplicidade". Uma simpatia e uma simplicidade que não são ingênuas. A câmera não deixa Rourke/Randy, mas não vê o mesmo que ele. É um personagem irremadiavelmente romântico, mas o filme é de uma tristeza acachapante - embora vez ou outra cisme em sublinhá-la ou nos explicá-la. Ademais, o longa usa muito bem o universo da luta livre, uma espécie de subproduto da industria cultural, teatralizado, porém verdadeiro. E os momentos de ringue (e seus bastidores) são muito legais. Ainda assim, Aronofsky é de uma encenação grosseira. A mão é pesada em todas as viradas e em muitos dos diálogos. Quando a história precisa seguir, o filme cai. E, nesses momentos, Randy/Rourke ficam presos nas mecânicas da dramaturgia. No fim das contas, o filme tem a cara de Randy/Rourke. Não chega a ser um ótimo filme, meio irregular, meio brusco, com algumas brechas, cenas mal encenadas, algumas sem começo, outras sem final...


milk **


Gus Van Sant tem uma trajetória curiosa. Embora seja possível identificar aqui e ali as marcas estéticas do cineasta, não deixa de ser estranho para alguém que vem de “Lost days” (2005) e “Paranoid Park” (2007) fazer esse “Milk”. Este último é uma elegia sensível e pessoal, porém “oficial”. É um filme “importante”, “correto”, “acessível”, porém “oficial”. O filme se desenrola como um fluxo de consciência, com Harvey gravando seu testemunho. O cineasta transita entre um cinema mais lacrimal e um outro da análise psicológica, expandindo o contato com o espectador sem nunca subestimá-lo - embora o filme seja por vezes irritantemente reiterativo (a coisa do menino desesperançado que liga para Harvey, a relação entre o assassinato do personagem e a encenação da ópera Tosca). Van Sant assume uma posição diretamente pessoal e dotada de um juízo de valor positivo em relação aos personagens, conquistando com carinho nossa adesão. Acho muito legal a proximidade que o Van Sant busca com os seus atores. Juntos, eles correm atrás do personagem. Os filmes de Van Sant sempre são o personagem. Não é diferente em “Milk”.

É curioso atentar para a quantidade de filmes (quase todos os indicados ao Oscar esse ano) que recorrem a certas mediações internas por meio das quais um personagem ou uma voz da consciência emitem testemunhos (que a narrativa não problematiza) e se tornam na maioria das vezes a própria voz do filme. Eles nos dizem como deveríamos ver, sentir, ouvir e entender todas as situações que o filme nos mostra.

Nenhum comentário: