domingo, agosto 23, 2009

mais um de johnnie to


mad detective *****

“Mad detective” (2007) é mais um filme incrível de Johnnie To e Wai Ka-Fai. O detetive do título chama-se Bun. Ele consegue ler mentes criminosas e desvendar seus crimes, embora ostente uma personalidade atípica. Quando corta uma de suas orelhas para dar de presente de despedida para seu ex-chefe, Bun é declarado “incompatível com o ambiente normal de trabalho” e banido da polícia. Anos depois, um jovem detetive o procura pedindo ajuda para resolver um caso. Mais uma vez: a câmera percorre espaços e assiste à ação com uma desenvoltura magistral e imprime certezas em cada movimento, enquadramento ou plano, com uma montagem orgânica e uma cadência um tanto operística.

Agora, To e Kai-fai parecem interessados como nunca na caracterização de seus personagens. Bun é um personagem instigante como poucos. Ele nunca se revela por completo. A ex-mulher. Um trauma. A loucura. A seqüência em que realizadores nos mostram as diferentes personalidades do assassino é das melhores dos últimos anos. To e Ka-Fai parecem se perguntar até aonde podem seguir com o plano ponto de vista de Bun. Esse experimento se repete ao longo do filme das mais variadas maneiras. Às vezes vemos essas “diferentes personalidades” entrecortadas por planos de Bun olhando para elas, noutras não. Às vezes, Ho tenta entender o que está se passando, noutras não. E ainda existem os planos em que Bun aparece no mesmo quadro das “diferentes personalidades”.

A narrativa prima por uma certa insanidade, pela falta mesmo de uma lógica interna. Ainda assim, o filme jamais deixa de ser coerente e direto. Os cineastas estilhaçam a trama em ritmos, tons, angulações, movimentos, personagens e personalidades diferentes. A cada filme, To desafia nossas expectativas e determinadas convenções narrativas. Em “Mad Detective” nada é o que parece, seja em termos narrativos ou visuais. Assim que nosso herói embarca em sua investigação, a linha tênue entre o verdadeiro e o falso cresce em ambigüidade. E, curiosamente, quanto mais perto chegamos da verdade, mais longe da realidade parecemos estar.

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