sábado, junho 04, 2011

a última noite *****

Revi outro dia este “A última noite” (2002), de Spike Lee. Grande filme! Estava em minha lista dos 20 melhores dos 2000. Spike Lee talvez tenha sido o primeiro cineasta a falar das torres gêmeas. Em determinado momento, dois personagens conversam com o Ground Zero ao fundo. A música marca uma espécie de liturgia. Não se vai falar do 11 de Setembro. Há uma única menção a Osama Bin Laden. Mas essa seqüência marca um período de transição. Algo acabou. Não está mais ali. Essa ausência também diz respeito ao filme. Ela está entranhada na cidade – curioso como Lee filma Nova York em um tempo diferente, como se não a reconhecesse. E nos personagens também. O que os une ficou no passado, algo distante, frágil.

Outra grande cena começa com um “fuck you” escrito no espelho do banheiro. Monty vocifera um monólogo: "Foda-se toda a cidade", diz ele. Segue uma lista de ódio para com todos os grupos étnicos e sociais que compõem Nova York. Lee ilustra esse catálogo com uma seqüência de retratos e a música de Terence Blanchard. O filme não é moralista. Lee nem mesmo afirma ou nega a necessidade de um traficante de drogas ir para a prisão. Na verdade, o cineasta é extremamente ambíguo na maneira pela qual nos mostra o seu protagonista. O que vemos é a história da última noite em liberdade de um traficante em particular e as pessoas que o cercam. Uma história de perda de inocência, que, quando saímos do específico do filme, notamos que também diz respeito a um momento histórico. Lee faz de “A última noite” um trabalho de sucateiro. Seu filme é uma ruína. É um recomeço sem terreno firme.


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