domingo, agosto 21, 2011

super 8 ***

Como pode um filme basear-se na evocação de um determinado cinema e ao mesmo tempo afirmar-se como uma aventura cinematográfica singular? Como pode um filme valer de uma só vez por seu potencial abstrato e pelas ações concretas narradas? Pois o que está em jogo em “Super 8” não é somente aquilo que vemos nas imagens, sua configuração dramática e narrativa, mas também aquilo que elas são capazes de evocar. Isto, na verdade, está dado já no título. Afinal, o formato super 8 comporta neste filme duas simbologias diferentes: ele é caseiro, intimista, afetivo, documenta momentos banais vividos entre amigos e familiares; ele é também o formato através do qual toda uma geração de artesãos-cineastas começou a dominar o fazer cinema (além do próprio Abrams, conta-se ainda gente como Spielberg e M. Night Shyamalan).

Gostei bastante de “Super 8". É um filme maravilhoso, nostálgico não exatamente por um tempo, por uma juventude que se foi, mas por um certo estilo de filmagem. O filme começa e vemos um céu estrelado, a noite e seus segredos, crianças correndo por uma pequena cidade em bicicletas... “Super 8” lembra logo de cara os filmes (produzidos ou dirigidos) de Steven Spielberg do início dos anos 80. Seus personagens se deparam com um fascinante mistério e tentam investigar por si próprios, em uma aventura entre “E.T.” (1982), “Os Goonies” (1985) e filmes antigos de ficção científica. O que J.J. Abrams deseja é evocar a inocência deste cinema enquanto introduz um nível mais avançado nos efeitos especiais.

Estes, é claro, jamais estão no primeiro plano. Esta talvez seja a grande lição de Spielberg. O filme deve fazer acumular uma certa empatia emocional. E os efeitos funcionam como catalisadores. Este é o papel do aliens de “Super 8”. Ele funciona como um catalisador que impulsiona Joe para frente. Ele estará para sempre no segundo, no fundo. Pois o que importa, em primeira instância, é a história sentimental, os personagens e as situações nas quais eles estão inseridos. É incrível, por exemplo, a associação que o filme nos sugere entre os olhares da mãe de Joe (no filmete caseiro que ele assiste com a menina) e do alien (já no final do longa). Há uma complexa rede simbólica em jogo em torno destes olhares. O olhar da mãe para Joe se equivale ao olhar do monstro para Joe.

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