quinta-feira, julho 03, 2014

riocorrente ****

Que filme! "Riocorrente" é como um palavrão bem dado, um longa à flor da pele, em estado de ebulição. É um filme de muitas ideias, com certeza. Contudo, raramente vejo as imagens sendo asfixiadas por elas. Ao contrário: as imagens se afirmam em seus possíveis, no seu excesso e imperfeição. Eu me peguei pensando na física nuclear, que decifra a origem do universo pela explosão da massa em energia, onde as novas partículas produzidas são da mesma espécie das que as produziram. Pois o filme começa e uma certa virulência é liberada. Ela compõe o filme e o ameaça. Uma coisa bem poderosa. Falou-se muito que "Riocorrente" seria um longa sobre a vida em São Paulo, suas tensões, contradições. Pode ser. Eu já acho que o filme de Paulo Sacramento consegue dar conta de certo espírito de época, de nossa época de copa do mundo e olimpíadas, onde todo mundo parece ter ligado o foda-se. E nisso me agrada muito os efeitos de "Riocorrente". Sacramento parece nos dizer que a realidade em que vivemos parece ultrapassar a capacidade dos sentidos realistas de apreensão da vida e de representação cinematográfica. Quer dizer: a realidade é menos algo dado do que um sentimento; e para dar conta dele é preciso de mais imaginação.

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