quinta-feira, maio 13, 2010

tudo pode dar certo


Allen ainda é muito acusado de preguiça estética. Mas ele jamais se esconde. O que dizer da primeira tentativa de suicídio de Boris? Não conseguimos vê-lo a maior parte da seqüência. Ele se encontra atrás da mesa de bar. Segue um close inesperado da mulher do protagonista e o som de Boris se jogando da janela. Estranho, não é? Pois em outro momento, Melodie chega em casa depois de sair com um rapaz e conversa com Boris. Tudo o que se precisa saber sobre a relação deles está ali, na disposição dos atores dentro do quadro, na linguagem corporal deles, no ligeiro movimento de câmera (que sai dele na direção dela), e no diálogo. Um olhar um pouco mais cuidadoso não deixaria passar: os atores não estão andando a esmo pelo quadro, os objetos de cena são sublinhados aqui e ali, e as locações são parte integrante daquilo que se mostra e diz. Não é preguiça. “Tudo pode dar certo” é um filme transparente. Como tem sido de praxe em seus filmes londrinos, Allen vai sempre direto ao ponto. A câmera, os diálogos, os atores, tudo a nosso serviço.

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