terça-feira, março 01, 2011

yi yi *****


Revi “Yi Yi” (2000) pela segunda vez ontem. E não tenho receios em dizer que se trata de uma obra-prima. É um belo filme. Edward Yang é um cineasta enorme, ainda desconhecido. Desta vez, o que me deixou mais impressionado é a estratégia de sobreposições (uma característica marcante do cinema de Yang) que costura o filme. O choro da mãe vem colado a imagens noturnas de Taipei. O pai relembra o passado amoroso enquanto sua filha explora o abismo do primeiro amor. A primeira vez em que o menino se sente atraído sexualmente por uma menina vem entrecortada por imagens de um documentário sobre a origem da vida. A sobreposição se dá por vezes num mesmo plano. Yang é um cineasta do plano, da mise-en-scène. É tudo de uma precisão impressionante. O primeiro plano e o fundo, as ações, primárias e secundárias, a iluminação, os raros movimentos de câmera. A precisão de Yang é talvez acima de tudo narrativa.

No mais, lembro sempre de uma observação feita por Kent Jones: “‘Yi Yi’ é como aquelas tomadas vazias de Ozu, mas com pessoas”. Os conflitos emocionais são raramente discutidos ao longo do filme. Os personagens estão muito confusos, cansados ou irritados para arriscarem um diálogo. Eles estão todos aparentemente confinados aos seus planos, aos tempos e espaços, a Taipei. Mas acredito que seria uma preguiça danada voltar à questão da incomunicabilidade. Não se trata disto. A família de “Yi Yi” é uma família unida, apesar dos pesares. É possível identificar certas características desta família perpassando todos os seus integrantes. Os tão debatidos “problemas” da pós-modernidade estão todos por lá: a impessoalidade dos espaços, a fragmentação do tempo, a carência de laços sociais mais bem delimitados, e a incomunicabilidade. Mas o que Yang nos oferece é um retrato sem diagnósticos, mais pragmático, de como os personagens respondem a esta nova realidade.

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