segunda-feira, novembro 17, 2014

interstellar *

Estava aqui pensando na geração incrível de pensadores franceses que varreu o mundo em meados dos anos 60. Eles esboçariam interpretações sobre os acontecimentos de maio de 68. Sugeriam que maio de 68 tinha um alcance filosófico ligado àquilo que eles mesmos tinham como objeto principal de seus respectivos pensamentos. Eu me refiro a gente como Michel Foucault, Louis Althusser, Jacques Derrida, François Lyotard, Pierre Bourdieu e Gilles Deleuze. São autores absolutamente diferentes entre si, claro. Eles, contudo, alimentavam algumas afinidades: um certo culto pelo paradoxo, uma reivindicação insistente da complexidade. A exigência de um discurso regido pela exigência da nãocontradição é nada mais do que uma enorme ingenuidade. Nós, os leitores, compreendemos que estes autores queriam dizer coisas novas e que coisas novas precisavam de novas maneiras para dizê-las.

Estava pensando nisso tudo porque vi "Interstellar". Porque o tempo passa e complexidade virou signo de grandeza e inteligência. Vamos lá: um clichê. Christopher Nolan faz filmes inflados, que falam pelos cotovelos, vomitando termos técnicos pra cá e pra lá, fragmentos e mais fragmentos de supostas e complicadas teorias. Gravidade. Relatividade. Tempo. Somos mesmo muito estúpidos, né não? Vez ou outra, uma imagem de síntese: um quadro abarrotado de equações! Claro! E, no fim, vejam como na verdade é tudo muito simples, era o amor, sempre o amor. Ah, vá pra puta que pariu! É uma coisa absolutamente vazia. Nolan não quer confundir ninguém. Sua "complexidade" é uma imagem, uma marca. Nada mais. 

O meu incômodo só aumenta quando vejo o cineasta falando mal dos filmes da Marvel. Não que eu adore os filmes da Marvel, mas eles são ao menos mais francos e honestos. Não se vedem como algo acima do cinemão. E Nolan acha que faz o que? 

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