sábado, novembro 08, 2014

non ou a vã glória de mandar *****

Ainda não tinha visto este filme. Sem dúvida: é um dos melhores do Manoel de Oliveira. A primeira longa sequencia é uma coisa antológica. Uma árvore em contra-plongée balança ao som de uma música sincopada e melancólica. A câmera a circunda e pouco depois se instala em um veículo em movimento. Um grupo de soldados portugueses viajam em direção a alguma ex-colônia africana em guerra. A câmera encara alguns deles, entretidos em devaneios e na atenção ao que passa ao redor. Um certo desfile de fisionomias se descortina aos nossos olhos. O contracampo não dá às caras. Talvez seja mesmo absolutamente desnecessário. Talvez sejamos nós o contracampo. Os soldados conversam sobre Portugal. O Alferes (interpretado por Luis Miguel Cintra), líder do grupo e professor, descreve episódios marcantes da história do país. Portugal revela-se como uma espécie de promessa jamais cumprida. Diversos momentos históricos são encenados, desde o momento da formação nacional até o limiar da Revolução dos Cravos, bem como alguns mitos. É bem curioso: o caminhão em movimento, os relatos de Alferes e a imaginação dos soldados conjugam-se e avançam por uma história feita de fatos, memórias e fábulas. Portugal é como um sonho. Um sonho frustrado. Um sonho ainda sonhado. E uma frustração para sempre incontornável.

Vi o filme a noite, depois que minha filha se deixou levar pelo sono. Ao final, "Non ou a vã glória de mandar" me levou às ruas, a caminhar pelas ruas, sem nenhum objetivo específico, apenas o impulso incontrolável de atender ao convite do mundo lá fora. Era umas 2h da manhã. Um novo dia se já se fazia sentir no horizonte.



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