quarta-feira, setembro 26, 2007

três orientais


A maldição da flor dourada °

Ao contrário de muitos por aí, gosto bastante de “Herói”. Neste caso, a “americanização” (não sei se essa é a expressão mais correta) apontou/realçou o talento de Zhang Yimou para outros caminhos. As lutas coreografadas à perfeição, a obsessão pelo trabalho das cores e a idéias de heroísmo estavam aqui a serviço, sublinhadas por míticas histórias de amor. O cineasta chinês nunca havia atingido um grau tão sofisticado. “Heróis” é um espetáculo visual!

Desde então, Yimou parece deslumbrado com tudo isso. Seus filmes seguintes parecem interessados em bater a todo custo a sofisticação deste filme. O "Clã das Adagas Voadoras" ainda guardava algumas qualidades por debaixo daquela insanidade cromática e motora. Mas “A Maldição da Flor Dourada” não. Aqui há overdose e muita preguiça. Yimou inverteu as prioridades: mais vale a retumbância visual (que, convenhamos, já é lá evidente) do que a construção dramática e dos planos. O cineasta filma de maneira irritantemente burocrática, sem atmosferas e ritmo, sem se relacionar com nada. E mesmo nas seqüências de luta (impressionantemente “fakes”), Yimou parece mesmo engolido por um “complexo” de grandeza. “A Maldição da Flor Dourada” é apenas um novelão mexicano com pitadas shakespearianas (com direito a caso entre a Imperatriz e seu enteado e filhos disputando o trono), muito dinheiro e efeitos.

Luxury Car *

Na dá para conceber “Luxury car” como vencedor do Un Certain Regard 2006. É péssimo este filme de Wang Chao – assistente de direção de Chen Kaige por muitos anos. O longa começa como uma viagem de busca ao seio familiar, regada de conflitos geracionais, e termina como um melodrama raso com pitadas de policial urbano. A idéia era falar dessas duas Chinas (a rural e a urbana) convivendo num mesmo tempo, mas o filme se desenvolve por meio de viradas mirabolantes a ponto do ridículo. O cineasta é extremamente didático em termos narrativos, precário nas interpretações e até mesmo primário tecnicamente - com uma fotografia um tanto artificial trabalhando contra o longa (vide a foto aí ao lado). Em algumas seqüências, me senti mesmo bem constrangido.

Humilhação *

Assistir “Humilhação” do japonês Masahiro Kobayashi foi para mim uma experiência antropológica impressionante. É difícil compreender o que se passa com a jovem Yuko (Fusako Urabe), personagem central do filme. Após ser seqüestrada e fazer o governo negociar seu resgate, ela retorna ao Japão e passa a ser humilhada por estranhos e conhecidos – e olha que Kobayashi se baseou em fatos reais. De bom, há a imagem/barulho do mar quase sempre na (extra)tela e a maneira como o Iraque se faz presente como uma evocação de todo um leque bem específico de sentimentos. Fora isso, “Humilhação” é um filme bruto (num mal sentido mesmo) em seus enquadramentos (que parecem completamente desconectados da narrativa), nas interpretações dos atores, em sua faixa sonora. Às vezes parece preguiça; noutras dá a entender uma busca por um “não estilo”. A câmera parece se esforçar na trepidação, investindo em movimentos estranhíssimos. E em nenhum momento (excetuando, talvez, as cenas em que a protagonista engole sua comida) o sofrimento daqueles personagens é exatamente palpável ou por nós compartilhado... E aí, como se já não bastasse a distância cultura entre eu e o filme, “Humilhação” vai aos poucos esvaziando sua dramaticidade.

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