segunda-feira, fevereiro 26, 2007

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Blogs e bloco

Dois novos blogs:

http://franvogner.blogspot.com/
http://cinema-de-invencao.blogspot.com/

À conferir: o bloco do Lírio Ferreira - "Me beija que sou cineasta" -, que sai amanhã de manhã da Praça Santos Dumont, na Gávea.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Quatro blefes


Apocalypto *

E eis que Mel Gibson me surge como um inesperado autor, tosco, grosso e mal educado. Bancando seus projetos do próprio bolso, sem conceções e muitas obsessões. "Apocalypto" segue na trilha de "A paixão de Cristo" (2004). Gibson recorre mais uma vez à história do herói oprimido em sua própria terra que se alimenta de um inevitável festival de provações físicas e acaba se tornando um quase deus… O cinema como via crúcis… Maniqueísmos e generalizações a serviço da legitimação da vingança (pura e simples, sem redenção, purificação ou transcendência) – do troco, título de um dos filmes protagonizados pelo ator.

Não me irrita o sadismo do cara. Não gosto. Mas não acho que seja exatamente isso que torna o filme ruim. O que mais me incomoda é mesmo as apropriações que Gibson faz dos Maias. "Apocalypto" não nos ensina nada sobre a civilização, a religião, a matemática, a agricultura e a arquitetura maias. Embora trabalhe com dialetos, é bem verdade que a própria mise-en-scène de Gibson esvazia qualquer dimensão etnográfica que o filme pudesse vir a ter. E em primeiro lugar, a frase que abre o filme se refere ao declínio do Império Romano(!). Em segundo lugar, como bem apontou o Sérgio Alpendre, Gibson fez dos Maias verdadeiros colegiais de subúrbio americano. Em terceiro lugar, a civilização maia é vista como um circo de horrores. E pra terminar, o herói é salvo com a chegada dos cristãos.

Alguns ainda sublinharam a eficiencia técnica de Gibson e equipe. Discordo. Com a exceção dos atores e da trilha sonora, não dá pra entender toda aquela profusão de planos e contraplanos, aqueles movimentos de câmera grandiosos porém desnecessários, as perseguições intermináveis…

Diamante de Sangue *

"O ùltimo samurai" (2003) e "Diamante de sangue" seguem uma antiga tradição hollywoodiana que busca, em locações "afastadas", histórias sobre calamidades morais com toques exóticos, e, no caso de Edward Zwick (o cineasta das boas intenções), redenção. Talvez tudo fiquei ainda mais complexo por se tratar da África. Na verdade, o problema é pretender não só entender o problema da África, como superá-lo.

Caminhando entre o idealismo ingênuo da personagem de Jeniffer Conelly e o cinismo do soldado mercenário vivido por Di Caprio, "Diamante" faz do pescador africano interpretado por Djimon Hounsou um sujeito passivo, à mercê da disputa entre os astros hollywodianos. No fim das contas, vence a missão "voluntarista", o enfoque turístico, o tom exótico e caridoso, o bom selvagem (a sequencia final de ovação na ONU é ridícula). Indignação só mesmo em relação ao discurso político fácil e simplista, à pessima atuação de Conelly (quem diria?), e à tediosa direção de Zwick (o encontro supostamente ameaçador dos três principais personagens com guerilheiros na mata é risível), enrolado na própria armadilha que queria denunciar (não esqueçam: é com um espelho que os persongens saem inteiros da sequencia descrita no parênteses anterior).


Mais estranho que a ficção **

Como já se andou dizendo por aí, "Mais estranho que a ficção" é Charlie Kaufman mais linear e bem menos estimulante. Vá lá: a idéia do roteirista Zach Helm interessa. O problema talvez seja o fato do filme ir paulatinamente descortinando todas as nuances e ambigüidades que sua premissa absurda trazia consigo. Neste sentido, o personagem do professor de literatura vivido por Dustin Hoffman é uma espécie de elo entre este absurdo do qual parte o filme e a "ficção qualquer" que o longo eventualmente acaba se tornando. "Mais estranho que a ficção" até propõe um debate curioso entre as potencialidades e diferenças da trajédia e da comédia (tendendo, mo fim, para o lado mais fraco do debate – na minha opinião), mas trata-se de um longa como outro qualquer sobre a iminência e/ou inevitabilidade da morte.

E aí alguns "buracos" vão aparecendo pela narrativa - apesar da direção do Marc Forster ser cheia de estilo e suficientemente doce para que esqueçamos dos inúmeros lapsos do filme enquanto ele dura. Quais são exatamente os parâmetros da relação entre criação e criatura? Foi realmente ela quem o criou? O protagonista teria memória de coisas vividas antes do tempo do romance? Enfim… O que não quer dizer que eu não tenha me divertido durante a sessão.

Babel *

"Babel" lembra "Crash" (2006): fórmula un tanto desleixada (no caso mexicano, pela terceira vez seguida, um acidente acaba ligando núcleos dramáticos distintos, num mundo sem saída, sem cura); caricaturas e estereótipos reafirmados (com incesto, falta de higiene e médicos veterinários do lado marroquino, e mexicanos dando tiro para o alto e cortando o pescoço de galinhas na frente de assustadas crianças americanas); uma aura (criminosa de tão ambiciosa e assertiva) de auto-importância (filtrada, diga-se de passagem, por um olhar extremamente redutor e recheado de pré-conceitos); e, é claro, muitos prêmios.

Trata-se de um filme esquemático mesmo, sem vida. A ligação entre os núcleos é bisonhamente forçada, plantada no roteiro, que, por sua vez, escraviza todo o talento do Iñarritu. Ele e o Arriaga não querem a metonímia, o primeiro plano. O núcleo japonês até que se desenvolve com um certo interesse – apesar da surdez da menina ter me parecido totalmente desnecessária: os problemas pelos quais ela passa são normais a qualquer outro adolescente. Talvez porque seja o núcleo mais solto em relação a estrutura do filme.