sábado, julho 06, 2013

viva a indústria cultural

Estava voltando pra casa. Tinha acabado de ver “Van Gogh” (1991), outra grande obra de Maurice Pialat. Peguei um taxi, em frente ao Cine Humberto Mauro.

“Boa noite. Pra rodoviária. Por favor”.

O taxista acenou com a cabeça e permaneceu em silêncio. Alguns minutos se passaram. De repente, aumentou o volume do rádio. Mais alto. E mais alto. A impressão era a de que tentava se conter, mas não conseguia. O volume estava tão alto, aquilo era tão fora do normal, que fiquei um pouco sem reação. Uma música começava. Era a Dido. Quando me inclinei para falar com o taxista, ele começou a cantar. Alto, e num inglês perfeito. Paramos num sinal. Ele fechou os olhos, e curtiu o refrão. Eu precisava participar daquilo. Quando chegou a vez do refrão, tentei cantar com ele. O taxista se voltou pra mim e sorriu. Éramos, ambos, um único sorriso.

A música termina. A rodoviária está próxima. Eu me apresento. Ele responde. Apertamos as mãos. Tentei pagar. Ele não deixou.

“O dinheiro vai sujar o momento”, disse ele. “Só não esqueça do Joel do taxi aqui de BH, fã da Dido”.

Essa era a música:


quinta-feira, julho 04, 2013

aos nossos amores *****

“Aos nossos amores” é um dos meus filmes prediletos. Eu o vi pela última vez, a segunda na telona, em BH, faz algumas semanas, e o filme ainda vive comigo. É sempre assim. Ficamos juntos por um tempo. Vira e mexe, lembro-me de uma ou outra cena: os primeiros planos ao som de Klaus Nomi; Pialat e o diálogo sobre a covinha de Suzanne; mãe, filho e filha em um primeiro momento de absoluto descontrole; pai e filha, no ônibus, a caminho do aeroporto. Na verdade, talvez não sejam exatamente as cenas que ficam comigo. É outra coisa. Talvez uma certa energia, uma força, uma sensação que o filme propaga, dissemina. As cenas são sempre rompidas, descontinuadas, entremeadas por elipses (que não se sublinham como tais). Difícil dizer quando uma tomada começa ou termina. Os planos têm seu eixo constantemente quebrado. A luz, o quadro, as atuações esbanjam uma certa vontade anárquica (porém nada aleatória). A montagem preserva um fluxo contínuo entre as imagens, embora os cortes sempre deixem escapar ambas as extremidades do plano, seu influxo, antes que seja uniformizado em uma forma estável.

Pialat filma de maneira a privilegiar o aqui e o agora, a força de um momento, a presença inspirada de um ator, a energia singular de uma ação.  É o cinema da irredutibilidade do afeto. O que vejo então é Suzanne como alguém marcado por uma espécie de impureza fundamental. Ela é um caos, e Pialat ambiciona devolver as cenas ao caos original do qual elas brotam.  Abaixo, a música de Klaus Nomi que recheia os planos iniciais (especialmente o plano aberto de Suzanne de costas, no barco, com o mar ao seu redor) e finais (Suzanne no avião olhando para fora do quadro, talvez para uma janela). A personagem, bela e jovem, estende o olhar ao horizonte, ao futuro, enquanto Nomi, contra-tenor alemão que morreu de Aids em 1983, aos 39 anos, canta uma ária do século XVII, "The Cold Song":



What power art thou, who from below
Hast made me rise unwillingly and slow
From beds of everlasting snow
See’st thou not ( how stiff )2) and wondrous old
Far unfit to bear the bitter cold,
I ( can scarcely move or draw my breath )2)
Let me, let me freeze again to death.3)

terça-feira, julho 02, 2013

dante 2

Eu resolvi rever "Looney Tunes - De Volta à Ação" (2003), outro filme de Joe Dante. E o que mais me impressionou foi uma certa continuidade em relação a "A Segunda Guerra Civil". Uma continuidade no que diz respeito a algo como um espírito, um impulso. São filmes absolutamente diferentes, embora com personalidades semelhantes. Bem curioso.