terça-feira, junho 28, 2011

anime japonês

Começou esta semana a mostra "O universo de Myasaki, Otomo e Kon" lá na Caixa Cultural. Veja a programação aqui.

domingo, junho 26, 2011

budapeste e três macacos

Dois filmes um tanto pedantes. Pedantes em suas estratégias. Pedantes pelo pacto de leitura que propõe ao espectador. Pedantes de maneiras diferentes, mas pedantes assim mesmo.

Walter Carvalho enxerga muito pouco em “Budapeste”. O filme não consegue observar o corpo de uma mulher sem que haja uma luz cortando-a, um espelho que a reflita, um fundo de quadro e uma trilha altamente expressivos. A nudez é sem propósito, banal. Será que o filme é uma tentativa de reprodução do olhar viciado do ghost-writer, muito mais apegado à caligrafia do que com o corpo e a alma daquilo que escreve? Não sei. O fato é que Walter Carvalho sempre foi um cineasta do excesso. Ele aposta sempre no acúmulo e na intensidade dos elementos narrativos. A luz, o som, a música, os cortes e a cenografia sempre vão além. Talvez, tenha ido longe demais. Nesse escancaramento da representação, não vaza realidade, sentimento ou verdade. Símbolos, apenas símbolos. Resta um exibicionismo vazio que jamais alcança os efeitos pretendidos.

Em “3 Macacos”, o esforço é por ser, não exatamente belo e expressivo (como em “Budapeste”), mas inteligente e autoral. Nuri Bilge Ceylan grita por nossa admiração. Grita afinado a um glossário de “cinema de autor contemporâneo” (tempos alongados, incomunicabilidade, o esvaziamento da ação, e a expressão de questões existenciais por intermédio de determinadas sacadas formais), mas que diz muito pouco. Não há nenhum interessa da parte de Ceylan em tornar seus personagens criaturas verdadeiramente humanas. Muito pelo contrário. O que se vê é de um cinismo e de um determinismo atrozes. O político sua como um porco, o marido corno ronca, a esposa adúltera tenta calar a desconfiança do esposo com seus seios e uma lingerie. Ceylan expõe todos os seus personagens ao ridículo. Tudo muito bem pensado e programado. Os ventos ruidosos, as nuvens negras em trânsito, a beleza infindável do oceano, as ruínas de um prédio, ou as angulações tipo câmera de vigilância, tudo impecavelmente e rigorosamente filmado. Auto-afirmação. Nada mais.

quarta-feira, junho 22, 2011

links

- Uma nova edição da "La Furia Umana". É a vez do grande Monte Hellman.

- Uma pauta muito legal sobre Hou Hsiao-Hsien na "Cinética".

- Um podcast bacana sobre crítica de cinema com Jonathan Rosenbaum, Gerald Peary e David Sterritt.

- Uma universidade em Chicago realizou uma conferência sobre crítica de cinema este ano. Estavam presentes Nick Davis, Jonathan Rosenbaum, Fred Camper, Dave Kehr, Gabe Klinger, Scott Foundas, Ignatiy Vishnevetsky, Scott Foundas, etc. Os vídeos dos debates estão disponíveis aqui.

segunda-feira, junho 20, 2011

estamos juntos **

Não gostei muito de “Estamos juntos”. Mas o filme de Toni Venturi dá pano pra manga. Venturi é um realizador diferente. Não está apenas interessado em grandes temas ou questões políticas, mas preocupado com experiências individuais específicas. Isso faz com que seus filmes tentem quase sempre abraçar histórias demais. “Estamos juntos” não foge à regra. É um filme de boas interpretações, embora esteja recheado de idéias um tanto inexplicáveis (como o misterioso personagem amigo Carmem) . O roteiro dá as caras diversas vezes (o final do filme é bastante triste neste sentido).

Em uma ou outra cena, Venturi baixa a bola. A câmera documenta com paciência e atenção os atores interagindo em cena. Gosto bastante da maioria das seqüências entre Carmem e Juan. Outra que me agrada é em que Carmem estaria sendo operada. Uma tela negra. Luzes coloridas. Algumas palavras dela em off. A trilha. Venturi dilata um intervalo entre acontecimentos. O tempo é suspendido. Somos convidados a entrar no filme. A atmosfera criada nesta cena não diz respeito somente a Carmem, mas também a nós espectadores. Venturi não leva isto às últimas, mas pareceu-me um bom refresco.

No entanto, acho que por vezes Venturi põe a carroça à frente dois bois, vai com muita sede ao pote. Vez ou outra o filme escorrega em códigos por demais banalizados (a invasão ao prédio vem com textura diferente, o travelling pelo corpo de Carmem). Noutras, parece suspender o movimento em torno de uma imagem que supostamente simbolizaria tudo o que poderia ser dito a respeito de um personagem, de uma situação ou do próprio filme. Este congelamento, como diria Serge Daney, representa a essência da publicidade e sua busca pela imagem emblemática.

domingo, junho 19, 2011

claire denis!!!

A Caixa Cultural abriga a partir desta terça uma retrospectiva sobre Claire Denis! Não percam! Vejam a programação aqui.

quarta-feira, junho 15, 2011

cineclube cinética

Amanhã tem Cineclube Cinética lá no IMS. Às 17h passa "Acossado" (1960), de Jean-Luc Godard, e, às 19h, é a vez de "Eleição – submundo do poder" (2005), de Johnnie To. Para ler textos sobre os filmes, é có clicar nos títulos.

terça-feira, junho 14, 2011

o viajante ****


Eu revi outro dia “O Viajante” (1999), de Paulo César Saraceni, outro filmaço. É curioso: lembro de tê-lo visto no cinema, quando tinha 17 ou 18 anos. Recordo-me de ter ficado um pouco aborrecido com o filme... Como as coisas mudam, não é? “O viajante” é um longa disposto a encarar outras ligações que não a da sucessão ou do encadeado. O filme vai e vem, cria relações entre sequencias afastadas uma das outras, entre gestos e movimentos que não são nem do mesmo momento nem da mesma ação. As imagens se repetem, ecoam, ressoam. A montagem une rompendo. Saraceni afrouxa os mecanismos intelectuais e deixa a sensibilidade ocupar os intervalos. É magnífico!

domingo, junho 12, 2011

links

2 links bem bacanas:

Audiovisualcy - Um site de críticas com imagens em movimento. Ainda não vascullhei a coisa. Mas vale dar uma olhada.

Projet: New Cinephilia - É um um site lançado numa cooperação entre o Edinburgh International Film Festival e o MUBI. É uma espécie de simpósio sobre cinefilia e crítica. Alguns posts são muito bons. Sem falar nas mesas redondas.

sexta-feira, junho 10, 2011

sob o signo de capricórnio ****

Gosto muito de uma cena de “Sob o Signo de Capricórnio” (1949), de Hitchcock. O filme se passa na Austrália em pleno século XIX e conta a história de um sujeito inglês que segue para o novo continente para visitar uma prima. Ele chega à casa da prima. Outros convidados também estão por lá. Lady Henrietta Flusky ainda não saiu de seu quarto. Sua ausência é sentida e comentada. Seu marido está visivelmente inquieto. Todos sentam à mesa de jantar. Algo fora de quadro, à esquerda, chama atenção dos presentes. Corte. Grande plano dos pés nus de Ingrid Bergman. Ela parece cansada ou embriagada, não há como definir ao certo. Lady Flusky cumprimenta a todos e se senta. Eu acho genial este corte seco para os pés nus de Bergman. Seus pés são bizarramente inconvenientes, não apenas não combinam com a imagem social transmitida pelos primeiros planos do filme, como afirma uma ruptura, um divisor de águas. Vejam a sequencia abaixo. Ela une os dois posts.




terça-feira, junho 07, 2011

almodovar no caixa

Começou esta terça uma retrospectiva de Pedro Almodovar no Caixa Cultural - com direito a alguns dos filmes prediletos do cineasta espanhol. Vejam a programação abaixo:

Terça-feira (7/6)

SALA 1
- Às 15h30m: "Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão" (ESP, 1980), 18 anos
- Às 17h15m: "Labirinto de paixões" (ESP, 1982), 18 anos
- Às 19h15m, "Maus hábitos" (ESP, 1983), 18 anos

SALA 2
- Às 16h: "Os olhos sem rosto", De Georges Franju (FRA/ITA, 1960), 12 anos
- Às 18h: "A espinha do diabo", de Guillermo del Toro (ESP, 2001), 14 anos (entrada franca)

Quarta-feira (8/6)

SALA 1
- Às 15h: "Que fiz eu para merecer isto?" (ESP, 1984), 13 anos
- Às 17h: "De salto alto" (ESP, 1991), 16 anos
- Às 19h15m: "Kika" (ESP, 1993), 14 anos

SALA 2
- Às 16h: "Tudo sobre o desejo: O apaixonante cinema de Pedro Almodóvar", de Nick Cory Wright (GBR, 2001), 12 anos
- Às 18h: "Tudo que o céu permite", de Douglas Sirk (EUA, 1955), 14 anos

Quinta-feira (9/6)

SALA 1
- Às 15h15m: "Matador" (ESP, 1985/86), 18 anos
- Às 17h15m, "Ata-me!" (ESP, 1989), 18 anos
- Às 19h: Debate sobre Pedro Almodóvar com Aluízio Abranches e Breno Lira Gomes. Mediação de Mário Abbade

SALA 2
- Às 16h: "Minha vida sem mim", de Isabel Coixet (CAN/ESP, 2003), 12 anos
- Às 18h15m: "Wanda", de Barbara Loden (EUA, 1970), 16 anos

Sexta-feira (10/6)

SALA 1
- Às 15h: "Tudo sobre minha mãe" (ESP, 1999), 14 anos
- Às 17h: "Carne trêmula" (ESP, 1997), 18 anos
- Às 19h: "A lei do desejo" (ESP, 1986), 16 anos

SALA 2
- Às 16h: "A menina santa", de Lucrecia Martel (ARG/FRA/ITA, 2004), 18 anos
- Às 18h15m: "Noites de Cabíria", de Federico Fellini (EUA/ITA, 1957), 16 anos (entrada franca)

Sábado (11/6)

SALA 1
- Às 15h15m: "A flor do meu segredo" (ESP, 1995), 14 anos
- Às 17h15m: "Mulheres à beira de um ataque de nervos" (ESP, 1987), 12 anos
- Às 19h15m: "Que fiz eu para merecer isto?" (ESP, 1995), 13 anos

SALA 2
- Às 16h: "A vida secreta das palavras", de Isabel Coixet (ESP, 2005), 12 anos
- Às 18h15m: "Coração vagabundo", de Fernando Grostein Andrade (BRA, 2008), livre (entrada franca)

Domingo (12/6)

SALA 1
- Às 14h: "Fale com ela" (ESP, 2002), 14 anos
- Às 16h15m: "Má educação" (ESP, 2004), 18 anos
- Às 18h15m: "Volver" (ESP, 2006), 14 anos

SALA 2
- Às 16h: "Horas de desespero", de Michael Cimino (EUA, 1990), 14 anos (entrada franca)
- Às 18h15m: "A tortura do medo", de Michael Powell (GBR, 1960), 16 anos

segunda-feira, junho 06, 2011

- Não teve jeito. Na última aula, conversando com os alunos sobre “A escola do rock”, Ana perguntou se tinham gostado das músicas. Os alunos, claro, não sabiam os nomes das bandas ou das músicas, mas identificaram alguns momentos do filme cujas canções lhes agradaram. Uma no meio do filme – Ramones, explicou a Ana. E a outra, era a última do longa. Neste momento, antes mesmo que a Ana pudesse dizer o nome da banda, aquele aluno dos posts abaixo levantou a mão e disse a palavra mágica: AC/DC! Não é que o muleque foi mesmo pesquisar na Internet! Ainda disse que o primeiro vocalista da banda tinha morrido há muito tempo. A Ana acrescentou que ele havia sido substituído por aquele que era até então o motorista da banda. Os alunos acharam graça disso. Um deles disse: “Meu pai é motorista de Van. Imagina se ele virar o vocalista do Exaltasamba?!”.

- A mostra “Cinema Brasileiro: anos 2000, 10 questões” disponibiliza no site os vídeos de todos os debates (no Rio e em São Paulo), além das transcrições destes em PDF. É só clicar aqui.

- Li neste domingo sobre alguns filmes que estão apostando no esquema de captação coletiva, onde cada pessoa faz uma doação e é recompensada com a feitura do filme em si e com contrapartidas como DVD, camisa, cartaz autografado... E o dinheiro só sai da sua conta caso os produtores consigam atingir o valor que precisam no tempo estipulado. Até aí, a coisa é bem bacana mesmo. Mas vi também que alguns produtores estão pensando na hipótese de oferecer vagas de estágio para quem doar uma certa quantia de dinheiro. Isso eu acho bem, bem bizarro.

sábado, junho 04, 2011

a última noite *****

Revi outro dia este “A última noite” (2002), de Spike Lee. Grande filme! Estava em minha lista dos 20 melhores dos 2000. Spike Lee talvez tenha sido o primeiro cineasta a falar das torres gêmeas. Em determinado momento, dois personagens conversam com o Ground Zero ao fundo. A música marca uma espécie de liturgia. Não se vai falar do 11 de Setembro. Há uma única menção a Osama Bin Laden. Mas essa seqüência marca um período de transição. Algo acabou. Não está mais ali. Essa ausência também diz respeito ao filme. Ela está entranhada na cidade – curioso como Lee filma Nova York em um tempo diferente, como se não a reconhecesse. E nos personagens também. O que os une ficou no passado, algo distante, frágil.

Outra grande cena começa com um “fuck you” escrito no espelho do banheiro. Monty vocifera um monólogo: "Foda-se toda a cidade", diz ele. Segue uma lista de ódio para com todos os grupos étnicos e sociais que compõem Nova York. Lee ilustra esse catálogo com uma seqüência de retratos e a música de Terence Blanchard. O filme não é moralista. Lee nem mesmo afirma ou nega a necessidade de um traficante de drogas ir para a prisão. Na verdade, o cineasta é extremamente ambíguo na maneira pela qual nos mostra o seu protagonista. O que vemos é a história da última noite em liberdade de um traficante em particular e as pessoas que o cercam. Uma história de perda de inocência, que, quando saímos do específico do filme, notamos que também diz respeito a um momento histórico. Lee faz de “A última noite” um trabalho de sucateiro. Seu filme é uma ruína. É um recomeço sem terreno firme.


quinta-feira, junho 02, 2011

cinema na escola

Ana, minha esposa, dá aulas de inglês em colégios públicos aqui do Rio. E semana passada ela começou a passar filmes para os alunos. Primeiro “O âncora”, para alunos de 14 anos, e, depois, “A escola do rock”, para os de 11, 12 anos. Ela me contou tim tim por tim tim o que rolou e eu acabei pensando algumas coisas:

- Em ambas as classes, brigou-se para que o filme fosse exibido com legendas. Os alunos insistiram até o último momento que o filme fosse dublado. Isso é um pouco triste – aliás, conheci alguns dubladores que me contaram como a coisa funciona, e, realmente, pelo menos com os filmes hollywoodianos, não tem como a dublagem ficar boa (com a exceção dos desenhos).

- Nenhum dos alunos conhecia o Jack Black. Caramba: se eles não sabem que é Jack Black é porque não vão nunca ao cinema. No Brasil, sétima arte, é mesmo coisa de classe média.

- Todos os alunos adoraram o Jack Black. Todos.

- Em uma determinada sequencia, “A escola do rock” nos mostra, com Ramones na faixa sonora, pequenos clipes de grandes músicos: Keith Moon na bateria, Jimmy Hendrix na guitarra... Quando Angus Young apareceu, sem camisa, correndo e tocando de um lado ao outro do palco, um menino não se agüentou: “Quem maluco irado professora!”. No fim da aula, ele veio perguntar para a Ana quem era o cara. Pronto! Pra mim, já valeu a pena essa aula. Esse muleque vai procurar o AC/DC na internet. E aí, não tem mais jeito. O rock ganhou mais um adepto.

- Metade da turma viu “O âncora”. Deles, metade gostou. E destes, apenas um ou outro ficaram realmente empolgados com a coisa. A maioria ria apenas das piadas mais físicas e achou o filme muito bobo. Em diversas cenas, a Ana ria sozinha (para a diversão dos alunos). Isso é curioso. Essas novas comédias americanas são aparentemente tão rasteiras, mas, na verdade, se você não tiver uma determinada bagagem, não conseguirá entender grande parte das piadas.