Não gostei muito de “Estamos juntos”. Mas o filme de Toni Venturi dá pano pra manga. Venturi é um realizador diferente. Não está apenas interessado em grandes temas ou questões políticas, mas preocupado com experiências individuais específicas. Isso faz com que seus filmes tentem quase sempre abraçar histórias demais. “Estamos juntos” não foge à regra. É um filme de boas interpretações, embora esteja recheado de idéias um tanto inexplicáveis (como o misterioso personagem amigo Carmem) . O roteiro dá as caras diversas vezes (o final do filme é bastante triste neste sentido).
Em uma ou outra cena, Venturi baixa a bola. A câmera documenta com paciência e atenção os atores interagindo em cena. Gosto bastante da maioria das seqüências entre Carmem e Juan. Outra que me agrada é em que Carmem estaria sendo operada. Uma tela negra. Luzes coloridas. Algumas palavras dela em off. A trilha. Venturi dilata um intervalo entre acontecimentos. O tempo é suspendido. Somos convidados a entrar no filme. A atmosfera criada nesta cena não diz respeito somente a Carmem, mas também a nós espectadores. Venturi não leva isto às últimas, mas pareceu-me um bom refresco.
No entanto, acho que por vezes Venturi põe a carroça à frente dois bois, vai com muita sede ao pote. Vez ou outra o filme escorrega em códigos por demais banalizados (a invasão ao prédio vem com textura diferente, o travelling pelo corpo de Carmem). Noutras, parece suspender o movimento em torno de uma imagem que supostamente simbolizaria tudo o que poderia ser dito a respeito de um personagem, de uma situação ou do próprio filme. Este congelamento, como diria Serge Daney, representa a essência da publicidade e sua busca pela imagem emblemática.
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