sexta-feira, abril 19, 2013

saiu na revista da folha


Os cinco filmes do Fuller de que mais gosto:


1. CÃO BRANCO (White Dog, 1982)

Último filme feito nos EUA. Um cão branco é treinado para atacar negros. Em sua pelugem branca, inscrevem-se séculos de violência. Um treinador negro tentará descondicioná-lo. Será possível extinguir o racismo? Em Samuel Fuller, perguntas geram apenas perguntas. Não se trata, contudo, de um filme reflexivo. “Cão Branco” é um filme de closes, emoção e ação, sempre no aqui e agora, capaz de incomodar o mais impassível dos espectadores. Sem falar na trilha de Ennio Morricone.

2. AGONIA E GLÓRIA (The Big Red One, 1980)

Ao lado de “A Dama de Preto”, é seu filme mais pessoal. Em parte autobiográfico, funciona como o diário de combate de uma divisão do exército americano durante a Segunda Guerra Mundial. Nada de espetacular. Nenhum monólogo interior. Tampouco os horrores do nazismo. A guerra é insana e irrepresentável. O que resta são os detalhes mais mundanos e menos crucias, que, Fuller, como um repórter, relata apaixonadamente. Moral da história? Na guerra, o único heroísmo é sobreviver. A mostra exibe a versão reconstruída, 50 minutos mais longa.

3. O BEIJO AMARGO (The Naked Kiss, 1964)

A cena de abertura é ontológica. Kelly, uma prostitua, careca, espanca um homem. Saberemos depois que se trata de um gigolô que a fez perder os cabelos. Ela tentará mudar de vida, em outra cidade. No entanto, os EUA pós-guerra, com esqueletos escondidos por todos os lados, a persegue. Recomeçar talvez não seja possível. O filme, como sua personagem, vai do angelical ao diabólico, da elegância ao ritmo frenético, dos closes estilizados aos movimentos inesperados, bruscos.

4. PAIXÕES QUE ALUCINAM (Shock Corridor, 1963)

O filme contém todos os temas fullerianos, o jornalismo, o insano, a guerra, o homem e seu livre-arbítrio. Um jornalista entra num asilo psiquiátrico para desvendar um crime. Ele ganha o prêmio Pulitzer. Paga, porém, com a loucura. No hospício, os personagens carregam em suas loucuras as contradições fundadoras dos EUA: o patriotismo, a guerra, o racismo... Paixões que alucinam. Os personagens querem mudar de identidade, mas ela se volta violentamente contra eles. Samuel Fuller, mais uma vez, faz milagres com o baixo-orçamento.

5. DRAGÕES DA VIOLÊNCIA (Forty Guns, 1957)

Um dos westerns mais originais da história do cinema. Samuel Fuller filma um duelo como um confronto de vontades e energias, entre um plano médio e um close espetacular do olho do destemido Griff. Ele, um pistoleiro envelhecido, está cansado. Jessica, fazendeira de pulso firme, também. Talvez possam juntos por um fim à violência, sempre destrutiva, que marca suas vidas. Enquanto tentam, Fuller ataca cada cena com a precisão dramática que lhe é de costume. Emoção 24 quadros por segundo.

segunda-feira, abril 15, 2013

samuel fuller: se voc~e morrer eu te mato!


1° Semana

Terça, 16 de abril

16h – Mortos que Caminham (Merrill’s Marauders / 35 mm / 96 min / 1962 / 16 anos)
 18h – Dragões da Violência (Forty Guns / DVD / 79 min / 1957 / 16 anos)
 20h – O Beijo Amargo (The Naked Kiss / 35 mm / 90 min / 1964 / 16 anos)

Quarta, 17 de abril

16h – Tubarão (Shark / DVD / 92 min / 1969 / 16 anos)
18h – Tigrero: A Film That Was Never Made (DVD / 75 min / 1994 / 12 anos)
20h – A Dama de Preto (Park Row / 35 mm / 83 min / 1952 / 16 anos)


Quinta, 18 de abril

16h – O Barão Aventureiro (The Baron of Arizona / DVD / 97 min / 1950 / 16 anos)
18h – La Madonne et Le Dragon (DVD / 90 min / 1990 / 16 anos)

20h – Capacete de Aço (The Steel Helmet / 16 mm / 85 min / 1951 / 16 anos)

Sexta, 19 de abril

16h – Tubarão (Shark / DVD / 92 min / 1969 / 16 anos)
18h – Rua sem Volta (Street of no Return / DVD / 93 min / 1989 / 16 anos)

20h – O Beijo Amargo (The Naked Kiss / 35 mm / 90 min / 1964 / 16 anos)


Sábado, 20 de abril

16h – Tigrero: A Film That Was Never Made (DVD / 75 min / 1994 / 12 anos)
18h – A Dama de Preto (Park Row / 35 mm / 83 min / 1952 / 16 anos)
20h – Cão Branco (White Dog / 35 mm / 90 min / 1982 / 16 anos)



Domingo, 21 de abril

15h – Mortos que Caminham (Merrill’s Marauders / 35 mm / 96 min / 1962 / 16 anos)

17h – Proibido! (Verboten! / 16 mm / 93 min / 1959 / 16 anos)
19h – Agonia e Glória (Big Red One / 35 mm / 162 min / 1980 / 16 anos)


2° Semana


Terça, 23 de abril

16h – Proibido! (Verboten! / DVD / 93 min / 1959 / 16 anos)
18h – O Barão Aventureiro (The Baron of Arizona / DVD / 97 min / 1950 / 16 anos)
20h – Capacete de Aço (The Steel Helmet / 16 mm / 85 min / 1951 / 16 anos)

Quarta, 24 de abril

15h – Agonia e Glória (Big Red One / DVD / 162 min / 1980 / 16 anos)
18h – Rua sem Volta (Street of no Return / DVD / 93 min / 1989 / 16 anos)

20h – Cão Branco (White Dog / 35 mm / 90 min / 1982 / 16 anos)


Quinta, 25 de abril

15h – Samuel Fuller, Cineasta Independente (Samuel Fuller, Independent Filmaker / 1967 / 68 min / 12 anos) + Fuller à Mesa (Fuller à la Table / 1982 / 11 min / 12 anos), ambos de André S. Labarthe

17h – Agonia e Glória (Big Red One / 35 mm / 162 / 1980 / 16 anos)

20h – DEBATE (Ruy Gardnier, Luiz Carlos Oliveira Jr. e Julio Bezerra)


Sexta, 26 de abril

15h50 – Tormenta sob os Mares (Hell and High Water / DVD / 103 min / 1954 / 16 anos)
18h – Ladrões do Amanhecer (Les Voleurs de La Nuit / 35 mm / 98 min / 18 anos)
20h – A Lei dos Marginais (Underworld USA / 16 mm / 99 min / 1961 / 16 anos)


Sábado, 27 de abril

16h – Samuel Fuller, Cineasta Independente (Samuel Fuller, Independent Filmaker / 1967 / 68 min / 12 anos) + Fuller à Mesa (Fuller à la Table / 1982 / 11 min / 12 anos), ambos de André S. Labarthe
18h – Renegando o Meu Sangue (Run of the Arrow / 35 mm / 89 min / 1957 / 16 anos)

20h – Paixões que Alucinam (Shock Corridor / 35 mm / 101 min / 1963 / 16 anos)

Domingo, 28 de abril

16h – Quando os Homens são Maus (The Meanest Men in the West / DVD / 91 min / 1967 / 16 anos)
18h – Anjo do Mal (Pickup on South Street / 35 mm / 75 min / 1953 / 16 anos)
20h – O Quimono Escarlate (The Crimson Kimono / 35 mm / 82 min / 1959 / 16 anos)


3° Semana


Terça, 30 de abril

16h – Cão Branco (White Dog / 35 mm / 90 min / 1982 / 16 anos)
17h50 – Tormenta sob os Mares (Hell and High Water / DVD / 103 min / 1954 / 16 anos)
20h – A Lei dos Marginais (Underworld USA / 16 mm / 99 min / 1961 / 16 anos)

Quarta, 01 de maio

16h – La Madonne et Le Dragon (DVD / 90 min / 1990 / 16 anos)

18h – Eu Matei Jesse James (I Shot Jesse James / DVD / 81 min / 1949 / 16 anos)
20h – Dragões da Violência (Forty Guns / 35 mm / 79 min / 1957 / 16 anos)

Quinta, 02 de maio

16h – Quando os Homens são Maus (The Meanest Men in the West / DVD / 91 min / 1967 / 16 anos)
18h – Baionetas Caladas (Fixed Bayonets! / 35mm / 92 min / 1951 / 16 anos)

20h – O Quimono Escarlate (The Crimson Kimono / 35 mm / 82 min / 1959 / 16 anos)


Sexta, 03 de maio

16h – Eu Matei Jesse James (I Shot Jesse James / DVD / 81 min / 1949 / 16 anos)
18h – Casa de Bambu (House of Bamboo / 35 mm / 102 min / 1955 / 16 anos)

20h – Paixões que Alucinam (Shock Corridor / 35 mm / 101 min / 1963 / 16 anos)


Sábado, 04 de maio

16h – Ladrões do Amanhecer (Les Voleurs de La Nuit / 35 mm / 98 min / 18 anos)

18h – Dragões da Violência (Forty Guns / 35 mm / 79 min / 1957 / 16 anos)
20h – Anjo do Mal (Pickup on South Street / 35 mm / 75 min / 1953 / 16 anos)


Domingo, 05 de maio

16h – Baionetas Caladas (Fixed Bayonets! / 35 mm / 92 min / 1951 / 16 anos)

18h – Casa de Bambu (House of Bamboo /35 mm / 102 min / 1955 / 16 anos)

20h – Renegando o Meu Sangue (Run of the Arrow / 35 mm / 89 min / 1957 / 16 anos)

sábado, abril 13, 2013

vertov


Eu revi esta semana no É tudo Verdade dois filmes de Dziga Vertov: “Cine-Olho” (1924) e “Um Homem com uma Câmera” (1929).  Difícil encontrar um cinema mais apaixonado. Vertov faz de cada tomada uma celebração das potencialidades do cinema. Os planos são pensados o máximo possível fora de suas propriedades mensuráveis, sejam elas espaciais ou temporais. Os filmes trazem certos traços da modernidade cinematográfica, uma forma digressiva, ensaística em alguns momentos, uma noção de restituição da visão vem à tona. Para Vertov, o olhar situa-se nas próprias coisas. Busca-se então um movimento (não submetido a uma consciência ou reduzido a um ponto de vista) que explique sua dinâmica. O cineasta dispõe de uma confiança inquebrantável na imagem, que não me parece pensada como um referente; é ela mesma realidade ou, como Vertorv dizia, “cine-fato”. Pra mim, Vertov é um daqueles cineastas que trabalham contra as classificações e categorias, empurrando-nos sempre e uma vez mais às imagens. Cinema clássico? Vanguarda? Moderno? Militante? Imagem-movimento? Imagem-tempo? Desconfiemos de tudo isso. Pois o que fica, pelo menos pra mim, é o compartilhamento de um fascínio pelo cinema e seus poderes. Fico pensando em Griffith, e a admiração pelo cineasta que pôs o cinema a andar com suas próprias pernas, amarrando para sempre o cinema à narração composta nos moldes do folhetim e do melodrama, caminha com uma pitada de amargura. O cinema poderia (pode) ser tantas outras coisas... Vertov é uma experiência rejuvenescedora neste sentido. 

quinta-feira, abril 11, 2013

soldado universal: juízo final ***


Eu fui, confesso, com os dois pés atrás, ver este quarto filme da saga “Soldado universal”. Uma surpresa em tanto, devo dizer. O longa começa em um prólogo de horror poucas vezes visto, bem filmado, culminando com um close inescrutável da face (hoje meio Lee Marvinana) de Jean-Claude Van Damme. Sinistro. John Hyams, diretor que não conhecia, desfila talento e esmero, mas o que mais empolga mesmo é uma certa energia, uma intensidade, um entusiasmo com o cinema. As cenas de luta e perseguições de carro (privilegiando planos mais abertos e poucas angulações e cortes) captam a intensidade contagiante da tomada. A história é meio incompreensível, para não dizer implausível. O que, curiosamente, não denigre o filme. Ao contrário, aos poucos, desisti de ligar as informações, e deixei-me entregue às imagens. 

segunda-feira, abril 01, 2013

links

- Steven Shaviro e "A hora mais escura"

- Ignatiy Vishnevetsky sobre workflow

- Duas colunas de Adrian Martin, aqui e aqui

- Um debate com Claire Denis

- CineCriticos: site com 38 entrevistas de críticos latino-americanos, organizado pela pesquisadora Eliska Altmann