sábado, abril 13, 2013

vertov


Eu revi esta semana no É tudo Verdade dois filmes de Dziga Vertov: “Cine-Olho” (1924) e “Um Homem com uma Câmera” (1929).  Difícil encontrar um cinema mais apaixonado. Vertov faz de cada tomada uma celebração das potencialidades do cinema. Os planos são pensados o máximo possível fora de suas propriedades mensuráveis, sejam elas espaciais ou temporais. Os filmes trazem certos traços da modernidade cinematográfica, uma forma digressiva, ensaística em alguns momentos, uma noção de restituição da visão vem à tona. Para Vertov, o olhar situa-se nas próprias coisas. Busca-se então um movimento (não submetido a uma consciência ou reduzido a um ponto de vista) que explique sua dinâmica. O cineasta dispõe de uma confiança inquebrantável na imagem, que não me parece pensada como um referente; é ela mesma realidade ou, como Vertorv dizia, “cine-fato”. Pra mim, Vertov é um daqueles cineastas que trabalham contra as classificações e categorias, empurrando-nos sempre e uma vez mais às imagens. Cinema clássico? Vanguarda? Moderno? Militante? Imagem-movimento? Imagem-tempo? Desconfiemos de tudo isso. Pois o que fica, pelo menos pra mim, é o compartilhamento de um fascínio pelo cinema e seus poderes. Fico pensando em Griffith, e a admiração pelo cineasta que pôs o cinema a andar com suas próprias pernas, amarrando para sempre o cinema à narração composta nos moldes do folhetim e do melodrama, caminha com uma pitada de amargura. O cinema poderia (pode) ser tantas outras coisas... Vertov é uma experiência rejuvenescedora neste sentido. 

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