Eu revi esta semana no É tudo Verdade dois filmes de Dziga
Vertov: “Cine-Olho” (1924) e “Um Homem com uma Câmera” (1929). Difícil encontrar um cinema mais apaixonado.
Vertov faz de cada tomada uma celebração das potencialidades do cinema. Os
planos são pensados o máximo possível fora de suas propriedades mensuráveis,
sejam elas espaciais ou temporais. Os filmes trazem certos traços da
modernidade cinematográfica, uma forma digressiva, ensaística em alguns
momentos, uma noção de restituição da visão vem à tona. Para Vertov, o olhar
situa-se nas próprias coisas. Busca-se então um movimento (não submetido a uma
consciência ou reduzido a um ponto de vista) que explique sua dinâmica. O
cineasta dispõe de uma confiança inquebrantável na imagem, que não me parece
pensada como um referente; é ela mesma realidade ou, como Vertorv dizia, “cine-fato”.
Pra mim, Vertov é um daqueles cineastas que trabalham contra as classificações
e categorias, empurrando-nos sempre e uma vez mais às imagens. Cinema clássico?
Vanguarda? Moderno? Militante? Imagem-movimento? Imagem-tempo? Desconfiemos de
tudo isso. Pois o que fica, pelo menos pra mim, é o compartilhamento de um
fascínio pelo cinema e seus poderes. Fico pensando em Griffith, e a admiração
pelo cineasta que pôs o cinema a andar com suas próprias pernas, amarrando para
sempre o cinema à narração composta nos moldes do folhetim e do melodrama, caminha
com uma pitada de amargura. O cinema poderia (pode) ser tantas outras coisas...
Vertov é uma experiência rejuvenescedora neste sentido.
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