Beijos roubados **
Fiquei decepcionado com esse “Beijos roubados”. Trata-se, sem dúvida, de um Kar-Wai genuíno: mais uma história embalada por um uso expressivo da música e recheada de enquadramentos sofisticados, de imagens granuladas, de movimentos sedutores e sugestivos, de variações de foco e ritmo que nos fala sobre a fugacidade do tempo, sobre a impossibilidade de permanência do que quer que seja, sobre pessoas se apaixonado e desapaixonando. Não é um simples remake de seu cinema na China, como o próprio cineasta disse, mas uma espécie de adaptação para os EUA. Esse movimento, no entanto, não me agrada. Tudo parece passar rápido demais, todos falam demais (o personagem de Jude Law mais parece uma daquelas crianças sabe-tudo de novela das seis), os sentimentos são todos verbalizados, e tem até happy end.
O que mais me incomoda em “Beijos roubados” é que pela primeira vez tive a impressão de que todo esse domínio e virtuosismo do cinema de Kar-Wai parecem empregados para serem apenas “bonitos” - ao contrário de seus filmes anteriores, em que estes elementos audiovisuais tinham como primeira função significar um universo de um romantismo exacerbado, de solidão e alguma alienação, por onde vagavam seus personagens. Tive a impressão de que agora faz sim um certo sentido falar em um esteticismo vazio. Falta sentimento em “Beijos roubados”. Bons momentos estão lá, mas parecem apenas demonstrar o talento do cineasta e cumprir a expectativa de uma assinatura autoral vencedora.
Fiquei decepcionado com esse “Beijos roubados”. Trata-se, sem dúvida, de um Kar-Wai genuíno: mais uma história embalada por um uso expressivo da música e recheada de enquadramentos sofisticados, de imagens granuladas, de movimentos sedutores e sugestivos, de variações de foco e ritmo que nos fala sobre a fugacidade do tempo, sobre a impossibilidade de permanência do que quer que seja, sobre pessoas se apaixonado e desapaixonando. Não é um simples remake de seu cinema na China, como o próprio cineasta disse, mas uma espécie de adaptação para os EUA. Esse movimento, no entanto, não me agrada. Tudo parece passar rápido demais, todos falam demais (o personagem de Jude Law mais parece uma daquelas crianças sabe-tudo de novela das seis), os sentimentos são todos verbalizados, e tem até happy end.
O que mais me incomoda em “Beijos roubados” é que pela primeira vez tive a impressão de que todo esse domínio e virtuosismo do cinema de Kar-Wai parecem empregados para serem apenas “bonitos” - ao contrário de seus filmes anteriores, em que estes elementos audiovisuais tinham como primeira função significar um universo de um romantismo exacerbado, de solidão e alguma alienação, por onde vagavam seus personagens. Tive a impressão de que agora faz sim um certo sentido falar em um esteticismo vazio. Falta sentimento em “Beijos roubados”. Bons momentos estão lá, mas parecem apenas demonstrar o talento do cineasta e cumprir a expectativa de uma assinatura autoral vencedora.
O tempo e o lugar ***
Logo em suas primeiras seqüências, “O tempo e o lugar” nos abre o jogo. A voz off do documentarista Eduardo Escorel fala de Genivaldo da Silva e os encontros que se estabeleceram entre ele e o cineasta ao longo dos últimos 10 anos. Escorel descobriu Genivaldo ao fazer a série para TV “Gente que Faz”, em 1996, gravou uma extensa entrevista com ele em 2005, e voltou dois anos mais tarde à pequena cidade de Inhapi para reencontrá-lo.
São personagens como Genivaldo (em uma trajetória que vai da Pastoral da Terra ao Sindicato de Trabalhadores Rurais e ao MST, passando pelo apoio e futura rejeição ao governo Lula) que motivam o cinema documentário de Escorel e sua persistência na tentativa de, como ele mesmo diz, “decifrar um enigma chamado Brasil”.
“O tempo e o lugar” faz uso dos materiais rodados em 96, em 2005 e em 2007, e procura incorporar em sua narrativa o seu próprio processo de feitura, em uma estrutura que se pretende circular e não cronológica. “O tempo e o lugar” nos propõe uma contraposição entre a linguagem publicitária do "Gente que Faz" e a linguagem documental, a partir da qual acredita-se que surja um outro personagem. A seguir, a idéia é registrar e confrontar estes diferentes “Genivaldos”. Fica claro, desde o início, o prazer com qual Genivaldo se entrega à releitura de sua vida, e a clareza e o controle que Escorel têm de seus materiais e intenções.
O problema é que talvez este destrinchar nunca se dê exatamente. Na verdade, não há exatamente um aprofundamento da personalidade de Genivaldo – é curioso, por exemplo, como o personagem de 2005 e o de 2007 concordam em tudo. Escorel tenta também comer pelas beiradas: as qualidades e defeitos de Genivaldo expressam-se em sua família. Mas os encontros de Escorel com os filhos de Genivaldo parecem mais reforçar uma certa idéia do que vem a ser este personagem do que pô-lo em crise. Ainda pelas beiradas, Escorel parece por vezes interessado em registrar como a política se dá nestes pequenos municípios brasileiros, noutras a câmera se entrega a beleza simples dos moradores da região de Inhapi. São momentos bonitos, sem dúvida, mas que talvez acrescentem muito pouco ao desvelamento do personagem.
Logo em suas primeiras seqüências, “O tempo e o lugar” nos abre o jogo. A voz off do documentarista Eduardo Escorel fala de Genivaldo da Silva e os encontros que se estabeleceram entre ele e o cineasta ao longo dos últimos 10 anos. Escorel descobriu Genivaldo ao fazer a série para TV “Gente que Faz”, em 1996, gravou uma extensa entrevista com ele em 2005, e voltou dois anos mais tarde à pequena cidade de Inhapi para reencontrá-lo.
São personagens como Genivaldo (em uma trajetória que vai da Pastoral da Terra ao Sindicato de Trabalhadores Rurais e ao MST, passando pelo apoio e futura rejeição ao governo Lula) que motivam o cinema documentário de Escorel e sua persistência na tentativa de, como ele mesmo diz, “decifrar um enigma chamado Brasil”.
“O tempo e o lugar” faz uso dos materiais rodados em 96, em 2005 e em 2007, e procura incorporar em sua narrativa o seu próprio processo de feitura, em uma estrutura que se pretende circular e não cronológica. “O tempo e o lugar” nos propõe uma contraposição entre a linguagem publicitária do "Gente que Faz" e a linguagem documental, a partir da qual acredita-se que surja um outro personagem. A seguir, a idéia é registrar e confrontar estes diferentes “Genivaldos”. Fica claro, desde o início, o prazer com qual Genivaldo se entrega à releitura de sua vida, e a clareza e o controle que Escorel têm de seus materiais e intenções.
O problema é que talvez este destrinchar nunca se dê exatamente. Na verdade, não há exatamente um aprofundamento da personalidade de Genivaldo – é curioso, por exemplo, como o personagem de 2005 e o de 2007 concordam em tudo. Escorel tenta também comer pelas beiradas: as qualidades e defeitos de Genivaldo expressam-se em sua família. Mas os encontros de Escorel com os filhos de Genivaldo parecem mais reforçar uma certa idéia do que vem a ser este personagem do que pô-lo em crise. Ainda pelas beiradas, Escorel parece por vezes interessado em registrar como a política se dá nestes pequenos municípios brasileiros, noutras a câmera se entrega a beleza simples dos moradores da região de Inhapi. São momentos bonitos, sem dúvida, mas que talvez acrescentem muito pouco ao desvelamento do personagem.