quinta-feira, maio 01, 2008

jacques demy


Andei revendo alguns filmes do Jacques Demy. Gosto muito do que conheço dele, em especial “Lola” (1961) e “Duas garotas românticas” (1967). Fico sempre extasiado com a expressão corporal dos atores, com as cores, com os belíssimos movimentos de câmera (que traduzem a liberdade almejada pelos personagens e botam as locações para dançarem), a música de Michel Legrand e a conseqüente mise-en-musique do cineasta. O cinema do Demy é como um revigorante, uma aposta na sétima arte como um instrumento de projeção de nossos sonhos, um poderoso antídoto a filmes como “Crash” (2004) e “Babel” (2005).

Discordo que seja um cinema escapista ou ingênuo. Os problemas estão todos lá. Mães perdem o contato com seus filhos, esposas são abandonadas por seus maridos, personagens convivem aos trancos e barrancos com vícios, jovens não sabem o que querem da vida, os desencontros, as desilusões, uma sociedade que gira, gira e não sai do lugar. A grande diferença é que se pede e se aceita desculpas no cinema de Demy. É curiosa a freqüência com que os personagens se pedem desculpas e se perdoam uns aos outros. Não há rancor no cinema de Demy. O cinema do francês, como ele mesmo dizia, é Max Ophüls e Robert Bresson, leveza e gravidade. Em outras palavras, o que mais me agrada é a visão de mundo de Demy. Apesar de todos os pesares, os personagens do cineasta decidiram ser felizes. E, como diz o Roland Cassard (Marc Michel) em “Lola”, “Desejar a felicidade já é ser um pouco feliz”.

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