Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal **
É preciso dizer: tenho uma relação afetiva com a trilogia do Indiana Jones. Acho que fui ao cinema sozinho pela primeira vez aos oito anos para ver “A última cruzada” em um daqueles cinemas da Saens Peña. Lembro de estufar o peito e andar na ponta dos pés para enganar a bilhetera e burlar a censura de 12 anos.
Neste sentido, “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” funciona razoavelmente bem. Confesso que me senti em casa logo no início, com a introdução de Indy por uma sombra no carro e notas do tema clássico de John Williams. Passaram-se 20 anos, mas o que vemos é aquela mesma composição no quadro, a mesma luz, o mesmo ritmo nos cortes, as tiradas, o clima, o espírito das velhas matinês de aventura da Hollywood clássica. Spielberg nos mostra como sabe trabalhar e valorizar os ícones e marcas construídos ao longo de sua carreira, desarmando e seduzindo o espectador nessa aventura nostálgica.
O problema é que não tenho mais oito anos. Não basta, por mais genuíno que seja, aquele entusiasmo lúdico que as improváveis (como nunca) aventuras de Indy me inspiram. O roteiro é de uma complexidade meio boba, e o conflito, quando estabelecido, se desenvolve de maneira esquemática, pontuado por diversas reviravoltas um tanto forçadas. Alguns personagens também me pareceram talvez um pouco mal construídos... em especial o do Ray Winstone. Depois da sedução inicial, até a enciclopédia de citações à trilogia da série funciona muito mais como pequenas piadas. Talvez falte vida a este filme. Ou então sou que estou ficando velho.
Bodas de papel *
Em “Bodas de Papel”, estamos certamente em território romântico, com forte tendência às lágrimas. O filme opera a partir de algumas variações em torno dos códigos preestabelecidos (em sua maioria, muito previsíveis) deste gênero. Os personagens não são exatamente práticos nessa história de amores, e costumam encontrar no destino uma força um tanto irônica ou perversa. Sturm até ensaia uma investigação sobre este destino e o que fazer com ele, sobre a insensatez em boa parte dos que amam, mas não segue estas promessas adiante.
O filme transpira melancolia. O bolero na trilha - que, aliás, em alguns momentos, lembra um fado – e as cenas de memórias (flashbacks ou não) passam uma idéia de que tudo poderia ter sido diferente (quem sabe, melhor). O título original das histórias de "Serendipity" (que o avô conta para Nina) vem de uma palavra sem tradução para o português que significa algo como "talento para a sorte", uma capacidade de viver belas coincidências por acaso. Mas em “Bodas de Papel”, os personagens não têm sorte, são sempre obrigados a recomeçar tudo de novo. Estranho.
“Bodas de Papel” segue em um ritmo talvez descuidado, e, apesar de recorrer algumas vezes a um sentimentalismo um tanto rasteiro, gera e inspira poucos sentimentos. O grande problema é que o cineasta e o fotógrafo Fábio Cabral muitas vezes dificultam o envolvimento do espectador. O filme rejeita o plano/contraplano em nome de uma câmera que não sabe muito bem para onde ir, que passeia desgovernada de um lado para outro e chama demais atenção para si mesma. E a montagem de Cristina Amaral parece por vezes dispensar muito pouco tempo a seqüências cruciais para o desenvolvimento da relação dos protagonistas.
É preciso dizer: tenho uma relação afetiva com a trilogia do Indiana Jones. Acho que fui ao cinema sozinho pela primeira vez aos oito anos para ver “A última cruzada” em um daqueles cinemas da Saens Peña. Lembro de estufar o peito e andar na ponta dos pés para enganar a bilhetera e burlar a censura de 12 anos.
Neste sentido, “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” funciona razoavelmente bem. Confesso que me senti em casa logo no início, com a introdução de Indy por uma sombra no carro e notas do tema clássico de John Williams. Passaram-se 20 anos, mas o que vemos é aquela mesma composição no quadro, a mesma luz, o mesmo ritmo nos cortes, as tiradas, o clima, o espírito das velhas matinês de aventura da Hollywood clássica. Spielberg nos mostra como sabe trabalhar e valorizar os ícones e marcas construídos ao longo de sua carreira, desarmando e seduzindo o espectador nessa aventura nostálgica.
O problema é que não tenho mais oito anos. Não basta, por mais genuíno que seja, aquele entusiasmo lúdico que as improváveis (como nunca) aventuras de Indy me inspiram. O roteiro é de uma complexidade meio boba, e o conflito, quando estabelecido, se desenvolve de maneira esquemática, pontuado por diversas reviravoltas um tanto forçadas. Alguns personagens também me pareceram talvez um pouco mal construídos... em especial o do Ray Winstone. Depois da sedução inicial, até a enciclopédia de citações à trilogia da série funciona muito mais como pequenas piadas. Talvez falte vida a este filme. Ou então sou que estou ficando velho.
Bodas de papel *
Em “Bodas de Papel”, estamos certamente em território romântico, com forte tendência às lágrimas. O filme opera a partir de algumas variações em torno dos códigos preestabelecidos (em sua maioria, muito previsíveis) deste gênero. Os personagens não são exatamente práticos nessa história de amores, e costumam encontrar no destino uma força um tanto irônica ou perversa. Sturm até ensaia uma investigação sobre este destino e o que fazer com ele, sobre a insensatez em boa parte dos que amam, mas não segue estas promessas adiante.
O filme transpira melancolia. O bolero na trilha - que, aliás, em alguns momentos, lembra um fado – e as cenas de memórias (flashbacks ou não) passam uma idéia de que tudo poderia ter sido diferente (quem sabe, melhor). O título original das histórias de "Serendipity" (que o avô conta para Nina) vem de uma palavra sem tradução para o português que significa algo como "talento para a sorte", uma capacidade de viver belas coincidências por acaso. Mas em “Bodas de Papel”, os personagens não têm sorte, são sempre obrigados a recomeçar tudo de novo. Estranho.
“Bodas de Papel” segue em um ritmo talvez descuidado, e, apesar de recorrer algumas vezes a um sentimentalismo um tanto rasteiro, gera e inspira poucos sentimentos. O grande problema é que o cineasta e o fotógrafo Fábio Cabral muitas vezes dificultam o envolvimento do espectador. O filme rejeita o plano/contraplano em nome de uma câmera que não sabe muito bem para onde ir, que passeia desgovernada de um lado para outro e chama demais atenção para si mesma. E a montagem de Cristina Amaral parece por vezes dispensar muito pouco tempo a seqüências cruciais para o desenvolvimento da relação dos protagonistas.
Apenas uma vez ****
“Apenas uma vez” foi uma grata surpresa pra mim. É um filme simples, barato, pequeno, recheado de gestos e olhares minúsculos e cheios de sentimento. O diretor John Carney narra o encontro e a criação de cumplicidade entre um músico amador (Glen Hansard) e uma imigrante tcheca (Markéta Irglová). Este encontro se transforma em uma espécie de celebração dos mais variados sentimentos através da música.
Ambos os atores (em especial, é verdade, Glen Hansard) são de um magnetismo fascinante e difícil de ser explicado. Não há como passar imune à força de suas presenças no quadro. Carney demonstra um olhar sensível na construção dos espaços e das relações entre pai e filho, mãe e filha, além da curiosa comunidade de imigrantes. “Apenas uma vez” também se mostra um filme aberto, cheio entradas para o pensamento. Os personagens não têm nome. Informações como o país de origem dela surgem sem alarde, no seu tempo. Em determinado momento, ele pergunta para ela se ainda ama seu marido. Ela responde em tcheco e o filme não traduz.
Carney não é intimo da mise-en-scène, não parece muito preocupado com a imagem, com o posicionamento da câmera, com a composição da cena. O cineasta faz uma aposta perigosa, mas que dá certo. Em “Apenas uma vez”, estilos, técnicas ou efeitos não podem se sobrepor à musica. É uma aposta na qualidade das canções, na força encantatória das interpretações dos músicos, e na capacidade delas para sedimentar um canal afetivo e inquebrantável com o expectador. Funcionou maravilhosamente comigo.
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