domingo, agosto 29, 2010

a origem **


Não falta habilidade a Christopher Nolan, é preciso dizer. Embora não seja do meu gosto, “A Origem” é um thriller razoável. É um filme inflado. Os personagens, as informações e as sub-tramas vão se multiplicando: o amor e o trauma entre Marion Cotillard e Di Caprio, os problemas deste com Michael Caine, a relação entre Tom Berenger e Cillian Murphy, e o problema deste com o pai, os desejos de Ken Watanabe etc. Nolan não quer deixar nenhum espectador perdido por aí, e, então, seu longa fala pelos cotovelos: os personagens estão sempre conversando sobre o que deviam fazer, o que vão fazer em seguida, etc. Vez ou outra, surge uma imagem de síntese. Mas elas estão aqui apenas para impressionar, não esclarecem ou acrescentam o que quer que seja.

“A Origem” é o filme mais dolorosamente literal já feito sobre sonhos. Andar de elevador pelas memórias? Uma rua que pode ser dobrada? Eu imaginava que Nolan seria capaz de encontrar representações menos óbvias para acompanharmos seus personagens viajando em inconscientes - parece-me, aliás, que, quando dizem no longa tratar-se de “subconsciente”, na verdade, querem dizer “inconsciente”. E jamais o inconsciente foi tão limpinho e controlado no cinema. Isto porque o sonho e o inconsciente são meros detalhes, pretextos para os ótimos efeitos especiais.

Não entendo tamanho furdunço em torno de “A Origem”. Nolan fez um longa descartável, o que não seria um demérito se este não fosse um filme tão sério e grave. Como bem disso Inácio Araújo, “A Origem” é um “falso filme brilhante”. É curioso. Ao sair deste filme, o espectador se sente mais inteligente ou uma completa besta. Nolan sabe disso, trabalhou “A Origem” neste sentido. Não se trata exatamente de um filme difícil. Nolan não quer confundir ninguém. Muito pelo contrário. Este é, na verdade, um longa apenas aparentemente complicado. E de propósito. Lembrei-me de “Amnésia”, outro filme de Nolan embalado em labirintos. Neste, o desejo de vingança do protagonista é “complexificado” por seus problemas de memória (uma falsa questão para o longa). Vejam o último plano de “A Origem”. O pião roda sobre a mesa. Se ele parar, estamos acordados. Se ele não parar, permanecemos sonhando. E o que Nolan faz? Corta antes do desfecho!!! Pra mim, isto é uma sacanagem, uma apelação de última categoria.

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