quinta-feira, maio 31, 2007

Maratona, mostras e cineclube

Uma semana para cinéfilos:

Em homenagem aos 90 anos de nascimento do grande Jean Rouch, a Maison de France programou uma maratona obrigatória de 12 horas com filmes do cineasta e etnólogo francês, dia 4 de junho, das 10 da manhã às 10 da noite.

10h - Os mestres loucos (1955)
10h30 - Eu, um negro (1959)
12h - Crônica de um verão (1960)
13h30 - A pirâmide humana. (1960)
15h - A caça ao leão com arco (1965)
16h30 - Pouco a pouco (1972)
18h00 - Mosso Mosso, (1998), de Jean-André Fieshi e Jean Rouch
20h30 - Tourou e Bitti (1971)
20h45 - Jaguar (1967)

No CCBB, até o dia 10 de junho, uma ótima mostra com filmes para a TV realizados por grandes diretores. São muitos os destaques: Spike Lee, Tsai Ming Liang, Jean-Luc Godard, Claire Dennis, Robert Altman, Peter Watkins, Ingmar Bergman, Peter Greenaway, Lars Von Trier, e Krzystof Kieslowski.

No Estação Laura Alvim, de sexta a sexta, uma mostra bem bacana do francês Eric Rohmer.

Tem também um novo cineclube, na FGV do Centro (Rua da Candelária, 6). As sessões são de 15 em 15 dias, sempre seguidas de debate com o diretor ou alguém interessante. Nesta sexta, dia 1 de junho, será exibido às 18h30 o filme “Elevado 3.5”. Dirigido por João Sodré, Maíra Bühler e Paulo Pastorelo, o documentário foi o grande vencedor da categoria longa metragem nacional do último É tudo Verdade. Após a sessão haverá debate com a Maíra Bühler e o crítico Carlos Alberto Mattos.

quarta-feira, maio 30, 2007

Baixio das bestas ****


Vi “Baixio das bestas” duas vezes. E gostei em ambas. Parece mesmo consenso: Cláudio Assis radicaliza caminhos percorridos em “Amarelo manga” (2003), colhendo, inclusive, alguns avanços notórios em termos de linguagem. Despejando alto teor de brutalidade visual e narrativa, Assis recheia este “Baixio das bestas” com soluções cênicas originais e um rigoroso senso de espaço e cultura. “Baixio” é uma espécie de radiografia de um nordeste em decomposição. Toda a ambiência da locação nos remete à ruína, à desestruturação. E o filme, em seus mais diversos componentes (a fotografia, a direção de arte...), está sempre no encalço do conflito.

Em relação a “Amarelo manga” (2003), o cineasta opta em “Baixio” por uma mise-en-scène de tempos mais alongados, planos fixos, focos e desfocos numa mesma cena, experimentações no que diz respeito às entradas e saídas de quadro... Na verdade, o longa parece por vezes alimentar um tom mais contemplador. A impressão é a de que Assis acrescentou o tempo à famosa equação de “Amarelo”. Agora, o ser humano é estômago, sexo e tempo. Neste sentido, me chamou atenção o fato do cineasta procurar uma estrutura circular. O filme é todo marcado pelo ciclo da cana de açúcar e a rotina dos canavieiros, seus trajetos, a colheita e a queima da cana... Assis fala de um tipo particular de decadência muito brasileira. “Amarelo” mapeava os efeitos de um determinado contexto histórico, identificando um a um os males naturalizados naquele espaço urbano. “Baixio” não. Aqui há a intenção de apontar causas. E todos os personagens de “Baixio” são representações, “conseqüências” da mono-cultura da cana, de um ciclo exploratório dos tempos do Brasil colonial.

Mais uma vez: Assis situa muito bem os personagens em seus universos sociais. Através de uma descrição documental, afirma-se a ficção e um ambiente que mais parece ter vida própria. E esse é um movimento curioso. O realismo dormindo com seu oposto. Pois apesar do “registro realista”, “Baixio” abraça a ficção e por vezes quebra os manuais de comportamento cinematográfico (como no plano em que Matheus Nachtergaele dirige-se a câmera, afirmando o cinema como o lugar onde se pode tudo). Isso também é evidente nas interpretações dos atores de “Baixio”. Assis consegue tirar deles uma atuação num misto de cinema naturalista, teatro e performance de choque.

Talvez o que tenha mais me incomodado seja mesmo a participação do próprio Assis e do diretor de fotografia Walter Carvalho numa cena no final do longa. Nessa mesma linha, também acabei não gostando muito quando o personagem Everardo fala pelo filme. Aqui sim, “Baixio” ganha em perversidade e cinismo. Um pouco neste sentido, algumas críticas se perguntaram sobre o verdadeiro compromisso de Assis. Seria ele com as experiências mostradas ou a maneira de olhar para elas? Me parece que essa é uma falsa questão, ou talvez ela esteja mal colocada. Não vejo em “Baixio” um esforço exibicionista. Tampouco enxergo um olhar superior. Ele é definitivamente “de fora” (o que não é um problema, muito pelo contrário), mas encara de frente a sordidez do universo mostrado. Trata-se mesmo de universo em decomposição, mas que não deixa de ter uma beleza imanente E aliás, como bem detectou o Marcelo Ikeda, há em Assis, por mais que ele talvez não concorde, uma idéia de espetáculo.

sábado, maio 19, 2007

Dicas

Desculpe-me: o post vem em cima da hora. Hoje, às 16h, a Cinemateca do MAM exibe uma das obras-primas do húngaro Miklos Jancso. “Os sem esperança” (1965), em legendas em espanhol, é programa imperdível.

Ainda no MAM, dentro da mostra “Nouvelle Vague e outras ondas”, serão exibidos outros grandes filmes como “Duas inglesas e o amor” (1971), de François Truffaut, “Amor livre” (1959), de Jacques Doniol-Valcroze, e “E Deus criou a mulher” (1956), de Roger Vadim. O de Truffaut passa hoje às 18. Os outros dois passam no domingo às 16 e às 18, respectivamente.

A mostra em homenagem ao diretor de fotografia, gravurista, diretor e roteirista bissexto, Mário Carneiro, também esquenta neste fim de semana no CCBB. Domingo, por exemplo, serão exibidos em série três filmes de Paulo César Saraceni fotografados por Mário Carneiro: “Porto das caixas” (às 16h), “A casa assassinada” (às 18h) e “O viajante” (às 20h). Veja a programação completa aqui.

E segunda o Cinemaison exibe um clássico de Jean Renoir. “Boudu salvo das águas” (1932) passa às 18h.

Ah... também dei uma reciclada nos blogs linkados. Tem muita coisa nova. Recomendo um blog criado pelo Sergio L. Andrade (Kino crazy) com textos do crítico paulista Rubem Biáfora.

quarta-feira, maio 09, 2007

Flashbacks

À primeira vista, gostei bastante de “Antônia”. É um filme bonito mesmo. Gosto do feeling feminino e intimista dele. Apesar de alguns maneirismos, Tata Amaral consegue fugir de um retrato de vitimização das cantoras. “Antônia” tampouco se resume a uma história de sucesso. E Tata mais uma vez absorve muito bem o espaço (Brazilândia) para dentro da narrativa, além de se aproximar em termos de enquadramento de “Um céu de estrelas”. Dava pra sentir uma certa fragilidade dramática. “Antônia” parece por vezes uma exposição de diferentes universos. Mas talvez também estivesse aí um diferencial curioso do filme.

No entanto, os problemas ficaram mais evidentes numa segunda investida. Dessa vez, me incomodou um pouco esta certa falta de objetividade narrativa. Na verdade, o roteiro me pareceu bem frágil e, apesar de (bem) aberto, um tanto esquemático e previsível. O inicio do filme em especial é desalentador. Mas o que mais me incomodou mesmo foram os flashbacks “explicativos”. Quando eles entram jogo, não há sutilezas. De fato, não gosto de flashbacks. Às vezes eles até podem ser necessários. Mas este não é definitivamente o caso de “Antônia”. Quando uma das meninas relata a briga que teve com o namorado a respeito de sua gravidez, o filme corta para um flashback. Por que recorrer ao passado? Por que essa lembrança não pode se dar no presente? Por que a menina simplesmente não dá seu depoimento do que foi a briga e pronto?

É curioso como nesta seqüência Tata Amaral se distancia de alguns dos cineastas brasileiros recentes que mais gosto. Me refiro mais especificamente a Karim Ainouz e Marcelo Gomes. Fiquei pensando numa influência de Eduardo Coutinho nos filmes da dupla e em como isso talvez pudesse me ajudar a explicar a diferença entre, por exemplo, “Cinema, aspirinas e urubus” (2005) e “Antônia”. Tudo bem: o interesse tanto em Tata quanto em Coutinho, Karim e Marcelo, é o cotidiano, as dificuldades, as pequenas alegrias, os encontros, os amigos... O universo que seus respectivos filmes pretendem nos revelar se desvendam em depoimentos ou situações que traçam uma rede de pequenas histórias.

Mas no cinema de Coutinho essas questões se resolvem no presente. Estamos falando de um cinema do presente, de um presente contaminado pela memória, de um presente em que coexistem diferentes fluxos. Com Karim e Marcelo a coisa parece se dar de maneira parecida. Eles evitam flashbacks, narrações em off... Eles se preocupam com “a palavra em ato” – como diz Consuelo Lins em relação ao cinema de Coutinho. Karim e Marcelo se atêm ao momento da filmagem - é interessante como no fim da sessão de “Madame Satã” (2002) e “Cinema, aspirinas e urubus”, algumas pessoas têm de ser lembradas de que se tratam de filmes de época. Em seus trabalhos há a escolha de personagens que são narradores de si mesmos. Para eles, assim como para Coutinho, a palavra é um elemento cinematográfico fundamental, tem um valor de criação dentro da estrutura narrativa.

Ouvir “Madame Satã”, por exemplo, é fundamental. Ouvir porque a simples pronunciação do personagem tem um papel orgânico no filme, uma função no conteúdo do drama. Lembro-me também de uma cena do “Cinema, aspirina e urubus” em que Ranulpho narra uma viagem ao Rio de Janeiro. Percebe-se ali o desejo de filmar “a palavra em ato”. A força ou a veracidade do que Ranulpho diz não se encontra necessariamente no que está sendo contado, mas no próprio ato de contar, na forma como ele se expressa, no olhar, nos silêncios, na construção das frases.

terça-feira, maio 08, 2007

49 Up na HBO


Hoje tem programa imperdível na HBO, às 22h15. O canal exibe o genial "49 Up". O filme é o seguinte: desde 1964, e a cada sete anos, o diretor Michael Apted acompanha a vida de catorze ingleses de diferentes segmentos sociais. Em entrevistas, estes personagens contam suas experiências e a evolução de suas vidas da infância à maturidade.