As testemunhas **
Não conheço muito do cinema do francês André Techiné. Mas gosto do pouco que vi, em especial o “Encontro” (1985) e “Os ladrões” (1996). Me impressiona como ele consegue fazer de cada um de seus personagens um universo particular, além de conseguir um enorme equilíbrio entre as histórias que narra. Neste sentido, o próprio titulo deste seu novo filme diz muito de seu cinema. Um cinema contemplador de vidas. “As testemunhas” começa muito bem, apresentando os dramas de seus personagens, suas bagagens, suas razões e causas e os efeitos que elas geram. Trata-se de um filme genuinamente de roteiro, embalado num formato claramente literário, e um tanto ágil em sua montagem. O problema é que Techiné também quer um testemunho do surgimento devastador da AIDS na França. E aí “As testemunhas” parece assumir um tom mais informativo ou didático. Apesar de alguns momentos de grande interesse, aos poucos, o longa se perde um pouco.
De volta à Normandia ***
“De volta a Normadia” é um filme de muita ambição. Difícil dizer sobre o que ele realmente trata. Este novo documentário de Nicolas Philibert (“Ser e ter”) só se pode descrever por fragmentos. Ainda que o cineasta tente definir seu objeto de maneira clara - como a volta as locações do “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão” (1975), onde trabalhou como assistente de direção de René Allio -, “De volta a Normadia” parece seduzido pelos personagens que encontra. E Philibert nutre um olhar encantado e extremamente paciente para com os camponeses que atuaram no filme de Allio, acompanhando o presente deles com muitos detalhes. As múltiplas camadas que caracterizam o filme, os contornos incertos de seu “sujeito”, sua volta às origens do próprio cinema de seu diretor... “De volta a Normandia” é também um longa sobre o trabalho do documentarista e sobre a vocação de Philibert. Para completar, há uma seqüência lindíssima fechando o filme: o cineasta resgata imagem do próprio pai, Michel Philibert, que havia interpretado um pequeno papel na produção de Allio, eliminada no corte final. A imagem nos é mostrada sem som, em todo a sua pequena duração. Uma linda homenagem.
Em Paris ***
Não conheço muito do cinema do francês André Techiné. Mas gosto do pouco que vi, em especial o “Encontro” (1985) e “Os ladrões” (1996). Me impressiona como ele consegue fazer de cada um de seus personagens um universo particular, além de conseguir um enorme equilíbrio entre as histórias que narra. Neste sentido, o próprio titulo deste seu novo filme diz muito de seu cinema. Um cinema contemplador de vidas. “As testemunhas” começa muito bem, apresentando os dramas de seus personagens, suas bagagens, suas razões e causas e os efeitos que elas geram. Trata-se de um filme genuinamente de roteiro, embalado num formato claramente literário, e um tanto ágil em sua montagem. O problema é que Techiné também quer um testemunho do surgimento devastador da AIDS na França. E aí “As testemunhas” parece assumir um tom mais informativo ou didático. Apesar de alguns momentos de grande interesse, aos poucos, o longa se perde um pouco.
De volta à Normandia ***
“De volta a Normadia” é um filme de muita ambição. Difícil dizer sobre o que ele realmente trata. Este novo documentário de Nicolas Philibert (“Ser e ter”) só se pode descrever por fragmentos. Ainda que o cineasta tente definir seu objeto de maneira clara - como a volta as locações do “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão” (1975), onde trabalhou como assistente de direção de René Allio -, “De volta a Normadia” parece seduzido pelos personagens que encontra. E Philibert nutre um olhar encantado e extremamente paciente para com os camponeses que atuaram no filme de Allio, acompanhando o presente deles com muitos detalhes. As múltiplas camadas que caracterizam o filme, os contornos incertos de seu “sujeito”, sua volta às origens do próprio cinema de seu diretor... “De volta a Normandia” é também um longa sobre o trabalho do documentarista e sobre a vocação de Philibert. Para completar, há uma seqüência lindíssima fechando o filme: o cineasta resgata imagem do próprio pai, Michel Philibert, que havia interpretado um pequeno papel na produção de Allio, eliminada no corte final. A imagem nos é mostrada sem som, em todo a sua pequena duração. Uma linda homenagem.
Em Paris ***
Uma das melhores idéias da Nouvelle Vague era a de que o cinema poderia ou deveria exprimir o prazer não só de fazer filmes, como também de assisti-los e de pensar sobre eles. Me parece ser essa a premissa de “Em Paris”, de Christophe Honoré. Trata-se um longa sobre amores. Paul acaba de encerrar um relacionamento - os flashbacks nos dão um pouco do conflituoso romance entre ele e Anna, uma (seremos apresentados a outras) das causas da depressão dele – e se refugia na casa do pai e do irmão mais novo. É curiosa a química entre Romais Duris (um ator quase símbolo do cinema francês mais contemporâneo) e Louis Garrel (uma reencarnação do herói de Truffaut, Antoine Doinel). Honoré busca inspiração em Godard e Truffaut e, numa das mais belas cenas do filme, ainda nos lembra de "Os Guarda-Chuvas do Amor", do grande Jacques Demy. Mas estas referências não transformam o longa apenas em um divertido jogo para iniciados. As citações jamais parecem muletas; as homenagens e as referencias nunca são pedantes. Muito pelo contrário: elas apimentam a trama e sublinham o próprio amor pelo cinema. “Em Paris” é uma prazerosa homenagem a Nouvelle Vague, através da qual Honoré estabelece um acordo entre o passado e o presente.
Uma moça divida em dois ****
Claude Chabrol é um amante incorrigível das caricaturas. Em “Uma moça dividida em dois”, a trama mais uma vez é apenas o ponto de partida para um inventário com generosas doses de humor sobre três personagens (interpretados por François Berléand, Ludivine Sagnier, e o ótimo Benoît Magimel). Chabrol exagera nas caracterizações e põe suas criaturas em situações limites, sublinhando seus sentimentos mais mesquinhos e inocentes. O cineasta não revela as motivações dos personagens – talvez, elas nem existam mesmo. Na verdade, não existem segredos. Mas há um registro curioso aqui. Chabrol conta sua história frontalmente, cada cena diz e mostra tudo aquilo que ela quer dizer e mostrar. No entanto, nessa maneira aparentemente simples de narrar, temos toda a evocação do “mistério”. E Chabrol é mestre em (re)introduzir mistério naquilo que parecia simples. Além do mais, é empolgante tentar desnudar as construções do cineasta. Em “Uma moça dividida em dois”, a imagem é construída com o máximo de cuidado e precisão. Tudo, dos enquadramentos e movimentos aos olhares, está ali por algum motivo. Chabrol é claro e profundo. Cerebral.
2 comentários:
Queria muito ter visto Em Paris e o filme do Chabrol. Acho que em "As Testemunhas" o filme começou a desandar depois que o Manu morreu. Abraço!
Eduardo,
o Chabrol e o "Em Paris" forma comprados pela Imovision. Serão lançados por aqui enm que seja só em DVD. Quanto ao "Testemunhas", acho que o filme já andava meio fraco antes da morte do Manu... desde o diagnóstico da AIDS.
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