sinédoque, nova york **
O filme começa como uma crônica familiar, acompanhando carinhosamente as idiossincrasias de seus personagens. Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), no entanto, entra em decadência criativa, existencial e física. O protagonista encontra todos os sinais de que sua vida vai se encaminhando para o final, sem que ele tenha conseguido fazer muito de importante dela. E assim, aos poucos, somos retirados do cotidiano banal dessa família. Charly Kaufman nos joga em um clima mais, digamos, “surrealista”. O espectador se vê preso a uma estrutura de labirintos. A cada seqüência, uma nova porta narrativa se abre. O ritmo interno do quadro se acelera. Elipses enormes tomam conta do filme. “Sinédoque, Nova York” começa a correr em direções tão inesperadas que o filme ameaça a desabar sob o peso da sua própria originalidade. Originalidade?
Talvez a palavra mais correta seja ambição. Pois o que se vê na tela é um monstro de camadas, cenas e desdobramentos que se repetem e se multiplicam na mais variadas representações. Cada seqüência, nos chega abarrotada de idéias sobre a vida, a arte - “é sobre tudo”, diz um personagem num certo momento. Os personagens e as locações vão se sucedendo de maneira impressionante. Caden contrata um ator para interpretá-lo. Cenas mais tarde, é o ator que precisa de um intérprete. Em nome de uma "verdade brutal", os sets ganham uma "quarta parede", e, antes que você perceba, haverá um estúdio no interior do estúdio. Caden se move sempre para fora, em espirais cada vez maiores, até ver sua própria identidade engolida. Não há limites para os espelhos de Kaufman. Eles parecem ainda mais importantes do que os dramas humanos apresentados.
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