Conheço pouco do cinema de Fernando Coni Campos. Apenas dois filmes: “Ladrões de cinema” (1977) e “O mágico e o delegado” (1983). Ambos, enormes, gigantes. No primeiro, um bando de pobres moradores de uma favela carioca rouba um equipamento de filmagem e resolvem fazer um filme. No segundo, um mágico é preso por um delegado de uma cidadezinha do interior. A atividade marginal, mas elaborada a partir de baixo. A morte pela imaginação, uma espécie de diagnóstico de um dos problemas mais crônicos do cinema brasileiro. Em conjunto, esses filmes me deixam com a impressão de um cinema brasileiro por excelência. Coni Campos se afirma como um cineasta antes de tudo brasileiro.
E seu cinema é de uma rara alegria. “Ladrões” e “O mágico” celebram o fato de serem cinema. O que me comove é a vontade de nos contaminar por essa alegria, por esse desejo de ser cinema. O cineasta explora as mais variadas possibilidades comunicativas. Nada de formalismos. Nada de hermetismos. Coni Campos narra como quem canta. Ele carnavaliza. O Tiradentes de “Ladrões de cinema” é o do samba-enredo composto por Mano Décio e Silas de Oliveira para o Império Serrano. E as seqüências mais importantes de “O mágico e o delegado” terminam quase sempre em dança – com destaque especial para os planos eróticos (mas nem por isso vulgares) de Tânia Alves. O carnaval como um momento igualitário, em que os indivíduos podem extravasar certas repressões e talvez experimentar uma liberdade provisória dos papéis sociais que cumprem no dia-a-dia.