segunda-feira, julho 20, 2009

garapa


Garapa *

É preciso perguntar o “porquê” de um filme como “Garapa”. Um documentário sobre a fome. José Padilha registra o cotidiano de três famílias cearenses e sua luta contra a miséria. De cara, um certo didatismo. Surge uma cartela com um dizer de Josué de Castro. No vai-e-vem entre as famílias, imagens, situações e perguntas se repetem. Percebe-se o desejo por um painel homogêneo, sem muitas especificidades. “Garapa” nos deixa então ver suas engrenagens. E o filme corre sempre o risco de ser apenas uma ilustração de dados e teses que o antecedem. Esse risco está impresso no filme. Um cineasta julga o que mostra e é julgado pela forma como mostra. Fazer um filme é mostrar certas coisas. É também mostrá-las de uma determinada maneira. Estas duas ações são rigorosamente indissociáveis. E o que vemos em “Garapa”? Imagens estilizadas como efeitos de pobreza. Imagens pensadas à revelia do que elas nos mostram.

Mais do que isso. O que se vislumbra é uma certa idéia de documentário. Ainda hoje, pensam o documentário como tendo as suas utilidades. Pra mim, essa crença é totalmente descabida. Acho que a própria história do gênero nos aponta nessa direção: um filme documentário não faz nada acontecer. Na verdade, essa fé na força do documentário como instrumento importante de transformação social talvez explique boa parte dos problemas éticos nos quais os filmes documentários se vêem enredados.

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