Spielberg sempre investe em ritos de passagem. E “Guerra dos mundos” esbanja uma incrível força de síntese. Bastam duas seqüências: o protagonista nos é apresentado, um perfil é esboçado, a curva do personagem nos é sugerida. Pronto. Ou talvez não. Pois Ray (Tom Cruise) é muito mais que um protagonista. Ele é a própria condição de possibilidade, uma espécie de pré-requisito. Sem ele, não vemos, não há nada. Não há explicações para a invasão. Onde estão os chefes de estado? O próprio desaparecimento do filho do personagem parece esclarecer essa tomada de posição. Uma posição reforçada a todo o momento, a cada plano. A narrativa estará colocada ao protagonista para todo o filme. E Ray é diferente. Não é um personagem típico de Spielberg. Ele é excessivo, recheado de defeitos. Um sujeito bom, mas que parece sempre fazer errado. Spielberg me surpreende. “Guerra dos mundos” é barra pesada. Um drama bem duro sobre a paternidade. Um suspense assustador. É bem verdade que o final é decepcionante, embora esperado, mas “Guerra dos mundos” desfila tenso, camada por camada, em uma atmosfera de crescente desespero.
terça-feira, junho 29, 2010
guerra dos mundos ****
Spielberg sempre investe em ritos de passagem. E “Guerra dos mundos” esbanja uma incrível força de síntese. Bastam duas seqüências: o protagonista nos é apresentado, um perfil é esboçado, a curva do personagem nos é sugerida. Pronto. Ou talvez não. Pois Ray (Tom Cruise) é muito mais que um protagonista. Ele é a própria condição de possibilidade, uma espécie de pré-requisito. Sem ele, não vemos, não há nada. Não há explicações para a invasão. Onde estão os chefes de estado? O próprio desaparecimento do filho do personagem parece esclarecer essa tomada de posição. Uma posição reforçada a todo o momento, a cada plano. A narrativa estará colocada ao protagonista para todo o filme. E Ray é diferente. Não é um personagem típico de Spielberg. Ele é excessivo, recheado de defeitos. Um sujeito bom, mas que parece sempre fazer errado. Spielberg me surpreende. “Guerra dos mundos” é barra pesada. Um drama bem duro sobre a paternidade. Um suspense assustador. É bem verdade que o final é decepcionante, embora esperado, mas “Guerra dos mundos” desfila tenso, camada por camada, em uma atmosfera de crescente desespero.
segunda-feira, junho 28, 2010
três
- Transmissão do jogo Argentina e México no Sportv. Narração do ótimo Milton Leite e comentários de Maurício Noriega.
ML: E o Messi ainda não fez gol nessa Copa.
MN: Pois é. Será que tá guardado?
ML: Não, acho que não. O Guardado* já saiu faz tempo.
* jogador do méxico
- Parece-me que o episódio Dunga/Escobar andou confundindo a coisa. O problema do Dunga não é somente com a Globo... Mas, enfim, mesmo o Escobar sendo funcionário da Globo, isso aí abaixo é um tanto bizarro:
quarta-feira, junho 23, 2010
trailers
segunda-feira, junho 21, 2010
tren de sombras
sexta-feira, junho 18, 2010
quincas berro d'água **
segunda-feira, junho 14, 2010
josé luis guerín
Começou hoje uma pequena mostra de filmes do espanhol José Luis Guerín, lá no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Entrada Franca. Sempre às 19 h. Os filmes são apresentados em DVD, com legendas em espanhol.
Una fotos en La ciudad de Sylvia (2007)
En La ciudad de Sylvia (2007)
Tren de sombras (1997)
quinta-feira, junho 10, 2010
cineclube cinética
maurice pialat
Você disse que em “
Pialat: Eu estava pensando em sua forma, que no final é bastante elaborada. É um filme um pouco frio, cujas qualidades dependem por um certo tempo de sua estética. Para mim, como regra geral, o texto e as atuações têm de assumir a primeira posição. Estou feliz que a qualidade da fotografia seja satisfatória, mas não é isso que eu estou procurando acima de tudo. Há sempre muito esteticismo. O que eu gostaria de fazer algum dia é um filme onde nós filmaríamos da forma mais natural possível, colado o mais perto possível da realidade. O meu ideal é um plano-sequência em que um ponto de vista é expresso em cima de uma coisa que está sendo produzida naquele exato instante. Assim que você começa a cortar, a fragmentar aquele instante, ou voltar a ele por um outro ângulo, a verdade acaba escapando, já que você está tentando re-produzir aquilo que, por definição, só se produz apenas uma vez. O que não quer dizer que eu queria deixar os cabos entrarem em quadro, mas não havia nenhum pensamento particular impregnando aqueles enquadramentos. Se eu gosto de trabalhar com Almendros (diretor de fotografia) é porque ele foi mais longe do que qualquer outro câmera na preparação da iluminação natural. Há ainda um número considerável de problemas no que concerne as cores, vamos ter de esperar muitos anos antes de chegar a algo satisfatório, antes de acabar completamente com a iluminação, um artifício que me incomoda.
Vestir uma locação é, naturalmente, uma necessidade. Você sempre tem que fazê-lo no último minuto. Se eu fosse filmar nesta sala, eu começaria movendo esta mesa. Eu ia arranjar estas cadeiras de uma maneira diferente, e, pouco a pouco, chegaria a um tableau, a um artifício ...
quinta-feira, junho 03, 2010
bresson
Bresson, em uma entrevista a Michel Ciment para a revista “Positif”, em 1983:
Você tem que seguir a sua sensibilidade. Não há mais nada. Eu fui chamado de intelectual, mas é claro que não o sou. Escrever é incrivelmente difícil, mas tenho de fazê-lo, porque tudo deve ser vir de mim. Eu fui chamado de jansenista, o que é uma loucura. Eu sou o oposto. Estou interessado em minhas impressões. Vou dar um exemplo, tirado de ‘L'Argent’. Quando eu estou nos Grand Boulevards, a primeira coisa que eu penso é ‘Como eu os percebo? E a resposta é que percebo os Boulevards como uma massa de pernas e som dos pés no pavimento. Eu tentei comunicar essa impressão através da imagem e do som ... Deve sempre haver um choque ao se fazer isso, um sentimento de que os seres humanos e as coisas que estão sendo filmados são novos, você tem que jogar surpresas no filme. Foi o que aconteceu na cena dos Grands Boulevards ... Eu posso sentir as etapas, concentrei-me nas pernas do protagonista, e assim pude encaminhá-lo através da multidão até aonde ele precisava ir. Esses são os Grand Boulevards, pelo menos no que me concerne, todo o movimento. Caso contrário, eu poderia muito bem ter usado um cartão-postal. O que me surpreendia quando eu costumava ir ao cinema era que tudo tinha sido programado antecipadamente, até o último detalhe ... Pintores não sabem de antemão como terminaram uma pintura, um escultor não pode dizer como sua escultura será, um poeta não planeja um poema com antecedência ...
Você deve ter notado que, em "L'Argent", há uma série de close-ups cuja única função é a de adicionar sensação. Quando o pai, um pianista, deixa um vidro cair no chão, sua filha está na cozinha. A pá de lixo as esponjas dela estão prontas para serem usadas. Eu não entro no quarto, mas corto imediatamente para um close de que eu gosto muito, o piso molhado ao som da esponja. Isso é música, ritmo, sensação ... Cada vez mais, o que procuro - e em "L'Argent" isso se tornou um método de trabalho - é comunicar a maneira que eu sinto as coisas.