quinta-feira, junho 10, 2010

maurice pialat

Você disse que em “La Gueule ouverte” teria ficado perto demais de Bresson, acrescentando um "infelizmente". O que você quis dizer com isso?

Pialat: Eu estava pensando em sua forma, que no final é bastante elaborada. É um filme um pouco frio, cujas qualidades dependem por um certo tempo de sua estética. Para mim, como regra geral, o texto e as atuações têm de assumir a primeira posição. Estou feliz que a qualidade da fotografia seja satisfatória, mas não é isso que eu estou procurando acima de tudo. Há sempre muito esteticismo. O que eu gostaria de fazer algum dia é um filme onde nós filmaríamos da forma mais natural possível, colado o mais perto possível da realidade. O meu ideal é um plano-sequência em que um ponto de vista é expresso em cima de uma coisa que está sendo produzida naquele exato instante. Assim que você começa a cortar, a fragmentar aquele instante, ou voltar a ele por um outro ângulo, a verdade acaba escapando, já que você está tentando re-produzir aquilo que, por definição, só se produz apenas uma vez. O que não quer dizer que eu queria deixar os cabos entrarem em quadro, mas não havia nenhum pensamento particular impregnando aqueles enquadramentos. Se eu gosto de trabalhar com Almendros (diretor de fotografia) é porque ele foi mais longe do que qualquer outro câmera na preparação da iluminação natural. Há ainda um número considerável de problemas no que concerne as cores, vamos ter de esperar muitos anos antes de chegar a algo satisfatório, antes de acabar completamente com a iluminação, um artifício que me incomoda.

Vestir uma locação é, naturalmente, uma necessidade. Você sempre tem que fazê-lo no último minuto. Se eu fosse filmar nesta sala, eu começaria movendo esta mesa. Eu ia arranjar estas cadeiras de uma maneira diferente, e, pouco a pouco, chegaria a um tableau, a um artifício ...

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