quinta-feira, junho 03, 2010

bresson

Bresson, em uma entrevista a Michel Ciment para a revista “Positif”, em 1983:

Você tem que seguir a sua sensibilidade. Não há mais nada. Eu fui chamado de intelectual, mas é claro que não o sou. Escrever é incrivelmente difícil, mas tenho de fazê-lo, porque tudo deve ser vir de mim. Eu fui chamado de jansenista, o que é uma loucura. Eu sou o oposto. Estou interessado em minhas impressões. Vou dar um exemplo, tirado de ‘L'Argent’. Quando eu estou nos Grand Boulevards, a primeira coisa que eu penso é ‘Como eu os percebo? E a resposta é que percebo os Boulevards como uma massa de pernas e som dos pés no pavimento. Eu tentei comunicar essa impressão através da imagem e do som ... Deve sempre haver um choque ao se fazer isso, um sentimento de que os seres humanos e as coisas que estão sendo filmados são novos, você tem que jogar surpresas no filme. Foi o que aconteceu na cena dos Grands Boulevards ... Eu posso sentir as etapas, concentrei-me nas pernas do protagonista, e assim pude encaminhá-lo através da multidão até aonde ele precisava ir. Esses são os Grand Boulevards, pelo menos no que me concerne, todo o movimento. Caso contrário, eu poderia muito bem ter usado um cartão-postal. O que me surpreendia quando eu costumava ir ao cinema era que tudo tinha sido programado antecipadamente, até o último detalhe ... Pintores não sabem de antemão como terminaram uma pintura, um escultor não pode dizer como sua escultura será, um poeta não planeja um poema com antecedência ...

Você deve ter notado que, em "L'Argent", há uma série de close-ups cuja única função é a de adicionar sensação. Quando o pai, um pianista, deixa um vidro cair no chão, sua filha está na cozinha. A pá de lixo as esponjas dela estão prontas para serem usadas. Eu não entro no quarto, mas corto imediatamente para um close de que eu gosto muito, o piso molhado ao som da esponja. Isso é música, ritmo, sensação ... Cada vez mais, o que procuro - e em "L'Argent" isso se tornou um método de trabalho - é comunicar a maneira que eu sinto as coisas.

Um comentário:

pseudo-autor disse...

Recomendo Notas sobre o Cinematógrafo, de sua autoria. É sublime!

Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com