A sinopse de “Malu de Bicicleta” nos passa a idéia de uma comédia romântica como muitas, é verdade. Mas Tambellini é um realizador diferente. Não há aqui aquele desejo desesperado por uma certa originalidade. Tambellini não quer o grande filme. Muito pelo contrário. Seu cinema segue com uma atenção incomum às locações. Tambellini é um cronista urbano atento. Em “Malu”, ele passeia por São Paulo e pelo Rio, e as cidades definem de certa maneira os personagens (a despojada e solar Malu e o moderno e algo soturno Luiz).
“Malu” não tem um compromisso com a unidade narrativa. É um filme aberto, que se faz na soma, na sucessão de seqüências. Tambellini faz um cinema um tanto alheio às convenções narrativas rigorosas. Assim como em “O passageiro”, há um desejo explícito de falar com uma geração mais nova, algo curiosamente demarcado pela presença de Tambellini em ambos os filmes (numa como o pai de uma das meninas e agora como um advogado que já morreu). Trata-se mesmo de um cineasta bem particular e corajoso, sem receio de buscar angulações inusitadas, durações estranhas, uma trilha diferente (mais uma vez assinado por Dado Villa-Lobos, o mesmo de “O passageiro”). Suas (muitas) imperfeições são suas e de mais ninguém. Em seus melhores momentos, “Malu” nos seduz com uma atenção mais detida nos detalhes, nos olhares, que fazem a história seguir adiante com um sabor diferente do usual. Tambellini dirige um retrato de dentro, mantendo distância dos julgamentos sobre os personagens, mas sem inocentá-los pelos erros que cometem.
Sem dúvida nenhuma, “Malu” é um filme sobre neurose, mas sempre mantém uma pegada suave. Talvez seja essa a crítica mais pertinente a ser feita a respeito deste longa. Tambellini conduz uma trama de ciúmes à lá “Capitu” (Machado de Assis), porém de maneira limpa e aparentemente imutável. O cineasta possui talvez um comedimento, um receio em usar cores mais fortes. “Malu” fica entre a comédia, o romance e o drama. Quando Luiz começa a desconfiar de Malu, o filme não parece acompanhá-lo e assume então um tom mais, digamos, “frio”. Em seus piores momentos “Malu” parece não acreditar nos problemas vividos por seus personagens.
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