Apichatpong Weerasethakul me agrada bastante. Ver um filme dele é tornar-se parte de um mundo movediço. É fazer parte de um movimento de recuperação de uma dimensão pré-lógica ou pré-predicativa da experiência e de sua ambigüidade e indeterminação (embora isso jamais se torne propriamente uma questão para os filmes). O mundo descrito em "Tio Boomee", como em todos os longas de Weerasethakul (com a estranha exceção de "The adventures of Iron Pussy"), é, antes de mais nada, um mundo físico, em seus interstícios, em seu movimento microscópico e permanente, que se confunde, se identifica com o aspecto sensorial dos personagens, corpos que interagem com a paisagem, com os corpos da natureza, animados ou inanimados. É um cinema de abstrações, sem perder a emoção. O cineasta joga os corpos para dentro da natureza, empreende um movimento centrípeto e puxa tudo para dentro da paisagem e da geografia movediça. O sensorial acaba transformando a narrativa e a natureza numa coisa só.
Embora essa seja uma marca de seu cinema, o desenho de som jamais foi tão importante, carregado de vida e sentidos quanto em "Tio Boomee". Esta é uma história sobre reencarnações e transmigrações. E é o som que nos torna conscientes das vidas que cercam os personagens, o farfalhar das folhas, os mosquitos, os pássaros, etc. Weerasethakul vem nos dizer mais uma vez que o problema ontológico é aquele ao qual se subordinam todos os outros e por isso mesmo a ontologia não pode ser um teísmo, um naturalismo ou um humanismo.
Ainda assim, "Tio Boomee" talvez seja mesmo o filme de Weerasethakul que eu gosto menos. A beleza de seu cinema é tão particular que, para aqueles que já o conhecem, a primeira longa seqüência de "Tio Boomee" não será exatamente uma revelação, mas talvez um movimento de assinatura. O exotismo é logo ali, é verdade, mas não é o que vejo no filme. Gosto muito também da seqüência da caverna. Por várias razões. É como se os personagens estivessem voltando no tempo sem sair do presente. Os desenhos rupestres são como assinaturas (reconhecidas em cartório) de um mundo no tempo. Pouco depois, a pequena "piscina" onde vivem peixinhos na escuridão completa nos abre os olhos para espaços em que jamais imaginávamos ter vida. E em meio a tudo isso, Boomee está morrendo.
Embora essa seja uma marca de seu cinema, o desenho de som jamais foi tão importante, carregado de vida e sentidos quanto em "Tio Boomee". Esta é uma história sobre reencarnações e transmigrações. E é o som que nos torna conscientes das vidas que cercam os personagens, o farfalhar das folhas, os mosquitos, os pássaros, etc. Weerasethakul vem nos dizer mais uma vez que o problema ontológico é aquele ao qual se subordinam todos os outros e por isso mesmo a ontologia não pode ser um teísmo, um naturalismo ou um humanismo.
Ainda assim, "Tio Boomee" talvez seja mesmo o filme de Weerasethakul que eu gosto menos. A beleza de seu cinema é tão particular que, para aqueles que já o conhecem, a primeira longa seqüência de "Tio Boomee" não será exatamente uma revelação, mas talvez um movimento de assinatura. O exotismo é logo ali, é verdade, mas não é o que vejo no filme. Gosto muito também da seqüência da caverna. Por várias razões. É como se os personagens estivessem voltando no tempo sem sair do presente. Os desenhos rupestres são como assinaturas (reconhecidas em cartório) de um mundo no tempo. Pouco depois, a pequena "piscina" onde vivem peixinhos na escuridão completa nos abre os olhos para espaços em que jamais imaginávamos ter vida. E em meio a tudo isso, Boomee está morrendo.
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