terça-feira, setembro 27, 2011

clichês

Algo me incomoda quando um crítico desmerece um filme descrevendo-o como uma sucessão de clichês. Talvez isso fizesse sentido algumas décadas atrás. Hoje, no entanto, parece-me muito mais uma certa preguiça crítica. Afinal, o que não é clichê nesta sociedade em que vivemos, quando não se pode mais pensar a cultura de mídia e a cultura do consumo em separado? E mais: os clichês (imagens que, repetidas diversas e diversas vezes, supostamente, sintetizariam a essência daquilo que representam), refletem o contexto em que foram criados e passaram com o tempo a nos propor uma relação afetiva. Talvez o problema não seja exatamente o clichê, mas o reduzir-se a ele. Parece mero jogo de palavras, mas não é. Pois, se por um lado, um clichê, tal como uma camisa de força, pode reduzir nosso horizonte de possibilidades; por outro, ele pode também funcionar como uma porta de entrada, facilitar a comunicação, demarcar afinidades ou distâncias. Um clichê não é em si falso ou verdadeiro. Esta é uma questão que se resolve no decorrer da sequencia, no dia a dia. Eu lembro de “Eastbound & Down”, a série de Jody Hill e David Gordon Green. Trata-se uma sucessão de clichês. Kenny Powers, o personagem principal, é um clichê ambulante. Mas tudo nele soa tão autêntico.

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