Esta cena de Francesco (1950), de Rossellini, é incrível. É um cinema que vislumbra uma espécie de pedagogia. Rossellini acredita na capacidade do cinema de revelar uma verdade (espiritual) a partir da literalidade das coisas e, por conseguinte, tocar as pessoas.
Lembro de “Lettre sur Rossellini”, artigo em que Jacques Rivette compara os filmes do cineasta italiano a ensaios atravessados por parábolas, suaves e precisas, que o crítico associava aos traços de Matisse. "Cada cena, cada episódio voltarão à sua memória, não como uma sucessão de planos e de enquadramentos, uma seqüência mais ou menos brilhante, mas como uma grande frase melódica, um arabesco contínuo, um só traço implacável que conduz seguramente os seres para o que ainda ignoram e encerra na sua trajetória um universo palpitante e definitivo; seja um fragmento de Paisà, um episódio de ‘Francisco, arauto de Deus’, ‘Europa 51’ , ou o todo de seus filmes, a sinfonia em três movimentos de ‘Alemanha, ano zero’, a linha ascendente e obstinada de ‘Stromboli’ -, sempre o olhar incansável da câmera representa o papel do lápis, um desenho temporal prossegue sob nossos olhos; seguimos seu progresso até o esvaecimento final, até que ele se perca na duração, tal como surgira da brancura da tela".
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