Anos 70. Austrália. Um antropólogo e um guia aborígene viajam em pesquisas sobre a pintura rupestre, ainda prática corrente entre os nativos australianos. Eles adentram uma caverna. Avistam um desenho gasto de um animal. O guia se entristece, chora, e, pouco depois, começa a retocar o desenho. O antropólogo, intrigado, faz a pergunta que qualquer ocidental faria: “Porque você pinta?”. “Mas não é minha mão que pinta”, responde o aborígene, estupefato: “É a mão do espírito”.
A princípio, pode parecer estranho começar esta conclusão com a pequena história que o arqueólogo francês Julien Monney conta ao cineasta Werner Herzog em “Caverna dos sonhos esquecidos” (2010), filme sobre os mistérios da caverna Chauvet, no sul da França, onde estão, em perfeito estado, os desenhos rupestres mais antigos de que se tem noticia. Se relevarmos, contudo, a carga místico-religiosa da resposta do aborígene, um olhar diverso sobre a arte em sua origem se abre no horizonte: a arte como uma doação, a dar vida material a algo imaterial, a tornar presente algo ausente; a arte como um sair de si sem jamais estar fora de si, como um fluxo e refluxo entre a obra, o artista, e, posteriormente, o espectador.
sábado, agosto 30, 2014
quarta-feira, agosto 27, 2014
grandrieux
Para que servem? Que real é capaz de animá-las? Philippe Grandrieux, em entrevista a Nicole Brenez, fala de uma certa exigência, de uma dinâmica que busca voltar às fontes mais profundas e obscuras do desejo de representação. Ele diz:
"O que buscamos, desde os primeiros traços de mãos impressas em rochas, na longa e alucinada perambulação dos homens através do tempo, o que tentamos alcançar tão febrilmente, com obstinação e sofrimento, por meio da representação, através de imagens, senão abrir a noite do corpo, sua massa opaca, a carne com a qual pensamos - e apresentá-lo à luz, à nossa cara, o enigma de nossas vidas".
A imagem sem valor de face aparente, que preserva um tipo de fascinação que o cinema não via há algum tempo e que nos demanda uma postura diferenciada. Antes de compreender, é preciso ver. Não se trata de uma decifração. Um filme deve ganhar uma consistência de ser, que insiste em si mesmo, abre-se, expõe-se e produz uma vida, anterior e adiante, que fissura o tempo presente, justifica-o e dinamiza-o. É uma certa opacidade do pensamento da visão que está em jogo: experiência irredutível à generalização, que, justamente por situar-se além de nossas possibilidades, força a pensar.
"O que buscamos, desde os primeiros traços de mãos impressas em rochas, na longa e alucinada perambulação dos homens através do tempo, o que tentamos alcançar tão febrilmente, com obstinação e sofrimento, por meio da representação, através de imagens, senão abrir a noite do corpo, sua massa opaca, a carne com a qual pensamos - e apresentá-lo à luz, à nossa cara, o enigma de nossas vidas".
A imagem sem valor de face aparente, que preserva um tipo de fascinação que o cinema não via há algum tempo e que nos demanda uma postura diferenciada. Antes de compreender, é preciso ver. Não se trata de uma decifração. Um filme deve ganhar uma consistência de ser, que insiste em si mesmo, abre-se, expõe-se e produz uma vida, anterior e adiante, que fissura o tempo presente, justifica-o e dinamiza-o. É uma certa opacidade do pensamento da visão que está em jogo: experiência irredutível à generalização, que, justamente por situar-se além de nossas possibilidades, força a pensar.
domingo, agosto 24, 2014
amantes eternos **
O cinema de Jim Jarmusch sempre foi algo pós-punk. Quer dizer: um cinema não mais exatamente revoltoso ou militante, mas melancólico, algo mais para um tédio (neo)existencialista. Seus personagens se veem sem rumo, cansados, desinteressados, embora não exatamente derrotados ou deprimidos. Eles vão buscar alguma coisa, alternativas, certo reencontro com uma mundanidade. Os filmes fazem então retratos, contextualizações, se promiscuem com o pop, o artifício, diversas formas de entretenimento; incorporam o enfado de um olhar atento e até certo ponto desejoso, porém incapaz ao menos inicialmente de se fascinar com o mundo. De "Flores partidas" (2005) pra o novo "Eternos amantes", passando pelo pouco conhecido "Os limites do controle" (2009), este olhar jarmuschiano talvez esteja ao mesmo tempo mais entediado e melancólico, de um lado, e atento ao mundano, do outro.
Jarmusch agora nos apresenta o reencontro de dois amantes: Eva (Tilda) e Adão (Tom Hiddleston, o Loki de “Os Vingadores”). Eles são vampiros. Amam-se a séculos. Eva estava em Tânger, no Marrocos, um local marcado pelos expatriados do Novo Mundo que ali se estabeleceram em busca de uma existência mais livre. Adão fez carreira na indústria fonográfica, entre Paris e Detroit, berço da industrialização automobilística americana em vias de sucateamento - aliás, ambas cidades, românticas, embora decadentes ajudam Jarmusch a intuir o tom da trama. Adão é um fastio secular e ambulante. Eva retruca: “não adianta ficar assim, no final das contas o que vale é dançar”. O reencontro entre eles tem gosto de recomeço.
O filme tem um jeitão de thriller, mas requer um tipo diferente de envolvimento do espectador. "Eternos amantes" é um filme de ação sem ação. Não interessa o enredo. Tampouco sua resolução. É neste sentido bem curiosa a relação que Jarmusch alimenta com o cinema de gênero. Se, por um lado, os códigos já amplamente assimilados dos filmes de vampiro estão todos por lá, do outro, não só não se mergulha no gênero por inteiro, como parece por vezes rechaçá-lo. Talvez seja ainda mais complicado. Quer dizer: não se trata de um movimento que nos traz para mais perto e depois, sorrateiramente, nos tira o chão. Não é bem isso. Nunca nos sentimentos realmente em casa em "Eternos amantes". Tampouco nos sentimentos verdadeiramente desconcertados.
Aos poucos, uma estranha dicotomia de mortos prevalece. Os zumbis são mortos reanimados, sem rumo, sem vida. Para Adam, somos todos zumbis, e, como tal, merecemos sua aversão. Os vampiros são eternos sobreviventes, seres humanos transformados, imortais porém atados ao mundo, ao vício do sangue. Adão e Eva são personagens que enxergam a história em uma linha temporal justamente porque passaram por tudo, embora a partir das margens, das sombras, em segredo. A imortalidade, contudo, nada mais é do que o amargo privilégio de já ter visto tudo. O amargo fica, claro, por conta de Adão. Sua imortalidade é como a constante reafirmação de uma impotência diante das grandes questões, e da crescente corrosão (moral, artística, social etc) do mundo contemporâneo. Eva tenta confortá-lo. Ela é mais serena e ainda consegue ater-se ao instante, à fruição de prazeres efêmeros. A arte, sobretudo, a música emerge quase sempre como única escapatória.
É tudo bem, realmente, jarmuschiano. Mais do que isso. É tudo bem metafórico, a começar pelo nome dos personagens - que o cineasta insiste não ter como inspiração a "Bíblia", mas um livro de Mark Twain. Tudo neste filme simboliza outra coisa, maior, mais profunda. Um certo esquematismo se faz transparente. "Eternos amantes", apesar da vibração poderosa de algumas de suas locações, das comoventes interpretações de seus protagonistas, da beleza plástica de suas acinzentadas imagens, de seus momentos de poesia sobre o nada, mostra-se excessivamente cauteloso na administração de seus temas e proposições formais.
Jarmusch agora nos apresenta o reencontro de dois amantes: Eva (Tilda) e Adão (Tom Hiddleston, o Loki de “Os Vingadores”). Eles são vampiros. Amam-se a séculos. Eva estava em Tânger, no Marrocos, um local marcado pelos expatriados do Novo Mundo que ali se estabeleceram em busca de uma existência mais livre. Adão fez carreira na indústria fonográfica, entre Paris e Detroit, berço da industrialização automobilística americana em vias de sucateamento - aliás, ambas cidades, românticas, embora decadentes ajudam Jarmusch a intuir o tom da trama. Adão é um fastio secular e ambulante. Eva retruca: “não adianta ficar assim, no final das contas o que vale é dançar”. O reencontro entre eles tem gosto de recomeço.
O filme tem um jeitão de thriller, mas requer um tipo diferente de envolvimento do espectador. "Eternos amantes" é um filme de ação sem ação. Não interessa o enredo. Tampouco sua resolução. É neste sentido bem curiosa a relação que Jarmusch alimenta com o cinema de gênero. Se, por um lado, os códigos já amplamente assimilados dos filmes de vampiro estão todos por lá, do outro, não só não se mergulha no gênero por inteiro, como parece por vezes rechaçá-lo. Talvez seja ainda mais complicado. Quer dizer: não se trata de um movimento que nos traz para mais perto e depois, sorrateiramente, nos tira o chão. Não é bem isso. Nunca nos sentimentos realmente em casa em "Eternos amantes". Tampouco nos sentimentos verdadeiramente desconcertados.
Aos poucos, uma estranha dicotomia de mortos prevalece. Os zumbis são mortos reanimados, sem rumo, sem vida. Para Adam, somos todos zumbis, e, como tal, merecemos sua aversão. Os vampiros são eternos sobreviventes, seres humanos transformados, imortais porém atados ao mundo, ao vício do sangue. Adão e Eva são personagens que enxergam a história em uma linha temporal justamente porque passaram por tudo, embora a partir das margens, das sombras, em segredo. A imortalidade, contudo, nada mais é do que o amargo privilégio de já ter visto tudo. O amargo fica, claro, por conta de Adão. Sua imortalidade é como a constante reafirmação de uma impotência diante das grandes questões, e da crescente corrosão (moral, artística, social etc) do mundo contemporâneo. Eva tenta confortá-lo. Ela é mais serena e ainda consegue ater-se ao instante, à fruição de prazeres efêmeros. A arte, sobretudo, a música emerge quase sempre como única escapatória.
É tudo bem, realmente, jarmuschiano. Mais do que isso. É tudo bem metafórico, a começar pelo nome dos personagens - que o cineasta insiste não ter como inspiração a "Bíblia", mas um livro de Mark Twain. Tudo neste filme simboliza outra coisa, maior, mais profunda. Um certo esquematismo se faz transparente. "Eternos amantes", apesar da vibração poderosa de algumas de suas locações, das comoventes interpretações de seus protagonistas, da beleza plástica de suas acinzentadas imagens, de seus momentos de poesia sobre o nada, mostra-se excessivamente cauteloso na administração de seus temas e proposições formais.
domingo, agosto 17, 2014
cães errantes ****
O universo truffautiano de Tsai Ming-Liang parece estar se esvaindo. Vejam bem: eu não falo em um cansaço ou desgaste do universo de Tsai, mas algo mais para um esvanecimento, uma dissolução. Em "Cães Errantes" talvez tenhamos chegado a uma espécie de capítulo final. O digital tem culpa. Este é o primeiro longa de Tsai a ser rodado inteiramente em digital. É um dado importante. Pois em "Cães Errantes" vemos uma relação diversa entre câmera, atores e espaços, a começar pela longa duração dos planos e pela sensação (talvez inédita mesmo para um cineasta como Tsai) de paralisia e isolamento. Tsai jamais havia isolado tanto seus planos. São raros os momentos em que conexões entre planos são expressas, implicadas, sugeridas. Os planos duram, duram, duram, e, dificilmente, se compõem em sequências, como se o cinema narrativo estivesse ameaçado. Ainda assim, como todos os longas de Tsai, este é um filme centrado em um corpo-personagem e na exploração de suas possíveis narrativas. É bem interessante como Tsai consegue enxertar micronarrativas no interior de uma estrutura mais ampla sem ter necessariamente em conta uma conectividade mais literal às cenas em torno delas.
Vale uma menção aos dois últimos planos de "Cães Errantes". Em um drama silencioso e melancólico, estes planos são como um clímax íntimo. A imagem nos mostra marido e mulher. Ela tem o rosto em primeiro plano. Ele está por trás dela. Nenhum dos dois falam por quase 14 minutos. A única ação que vemos na maior parte do plano é o marido tomando goles de cerveja enquanto a mulher chora. Não temos ideia de quando esta cena vai terminar. Até porque nenhuma trajetória mais claro se configurou. Depois de 13 minutos, ele agarra o ombro dela e inclina sua cabeça cansada. Em um filme como este, um movimento mínimo e aparentemente aleatório se transforma em um verdadeiro acontecimento. E o filme, subitamente, se abre novamente a uma série de possibilidades narrativas. Estaria ele querendo reatar o relacionamento? Pedindo desculpas? Desculpas pelo quê exatamente? O corte interrompe o fluxo e nos põe distantes do casal, agora de costas, com o mural em relevo e as ruínas da casa. Mais dez minutos se passam. Marido e mulher saem de quadro. Para onde? Ela sai primeiro. Estaria nervosa? Será que vão ficar juntos?
É triste, contudo, que a maioria das pessoas só enxergue o desespero, vazio e as lágrimas. Lembrei das últimas cenas de “Viver l’amour” (1994). Vejam bem. Não refiro-me somente da famosa cena final. Pois pouco antes da cena de choro de Mey, Tsai nos oferece um outro longo plano que fecha as participações dos demais protagonistas do longa, Hsiao-kang e Ah-jung. O primeiro sai debaixo da cama, onde estava escondido. Ele deita ao lado de Ah-jung, que permanece dormindo. Hsiao-kang encena uma cena romântica, com os olhos esbugalhados, apreensivo, porém entusiasmado com a própria brincadeira. Ele beija o rosto de Ah-jung, cobre-se com o braço do rapaz e fecha os olhos. Em um certo sentido, a plenitude estranha dessa cena, funciona como contraponto da que virá logo em seguida. Poderíamos falar em um filme com dois finais - talvez seja um exagero dizer o mesmo de "Cães Errantes".
Vale uma menção aos dois últimos planos de "Cães Errantes". Em um drama silencioso e melancólico, estes planos são como um clímax íntimo. A imagem nos mostra marido e mulher. Ela tem o rosto em primeiro plano. Ele está por trás dela. Nenhum dos dois falam por quase 14 minutos. A única ação que vemos na maior parte do plano é o marido tomando goles de cerveja enquanto a mulher chora. Não temos ideia de quando esta cena vai terminar. Até porque nenhuma trajetória mais claro se configurou. Depois de 13 minutos, ele agarra o ombro dela e inclina sua cabeça cansada. Em um filme como este, um movimento mínimo e aparentemente aleatório se transforma em um verdadeiro acontecimento. E o filme, subitamente, se abre novamente a uma série de possibilidades narrativas. Estaria ele querendo reatar o relacionamento? Pedindo desculpas? Desculpas pelo quê exatamente? O corte interrompe o fluxo e nos põe distantes do casal, agora de costas, com o mural em relevo e as ruínas da casa. Mais dez minutos se passam. Marido e mulher saem de quadro. Para onde? Ela sai primeiro. Estaria nervosa? Será que vão ficar juntos?
É triste, contudo, que a maioria das pessoas só enxergue o desespero, vazio e as lágrimas. Lembrei das últimas cenas de “Viver l’amour” (1994). Vejam bem. Não refiro-me somente da famosa cena final. Pois pouco antes da cena de choro de Mey, Tsai nos oferece um outro longo plano que fecha as participações dos demais protagonistas do longa, Hsiao-kang e Ah-jung. O primeiro sai debaixo da cama, onde estava escondido. Ele deita ao lado de Ah-jung, que permanece dormindo. Hsiao-kang encena uma cena romântica, com os olhos esbugalhados, apreensivo, porém entusiasmado com a própria brincadeira. Ele beija o rosto de Ah-jung, cobre-se com o braço do rapaz e fecha os olhos. Em um certo sentido, a plenitude estranha dessa cena, funciona como contraponto da que virá logo em seguida. Poderíamos falar em um filme com dois finais - talvez seja um exagero dizer o mesmo de "Cães Errantes".
terça-feira, agosto 12, 2014
FRITZ LANG!
Começa amanhã a retrospectiva do Frtiz Lang no CCBB do Rio. Dá pra ver a programação desta primeira semana clicando aqui.
quarta-feira, agosto 06, 2014
jia zhang-ke na caixa!
Vejam abaixo a retrospectiva do Jia Zhang-ke na Caixa Cultural. Começou ontem:
06 | quarta
16h30 | sala 1: Memórias de Xangai
19h | sala 2: 24 city
07 | quinta
16h30 | sala 2: Inútil + Our ten years
19h | sala 2: Volta pra casa + In public
8 | sexta
14h | sala 2: Yulu + Remembrance
16h30 | sala 2: Dong + Cry me a river + Black Breakfast
19h | sala 1: Em busca da vida
9 | sábado
14h | sala 1: Plataforma
16h | MASTERCLASS com Jia Zhangke
10 | domingo
14h | sala 2: Prazeres Desconhecidos
16h30 | sala 2: O Mundo
19h | sala 1: Um artista batedor de carteiras + Dog’s condition
12 | terça
16h30 | sala 2: Volta pra casa + In public
19h | sala 1: Um artista batedor de carteiras + Dog’s condition
13 | quarta
16h30 | sala 1: Plataforma
19h | sala 2: Prazeres Desconhecidos
14 | quinta
16h30 | sala 2: O Mundo
19h | sala 1: Em busca da vida
15 | sexta
14h | sala 2: Dong + Cry me a river + Black Beakfast
16h30 | sala 2: Inútil + Our ten years
19h | sala 2: 24 city
16 | sábado
16h30 | sala 1: Memórias de Xangai
19h | sala 2: Yulu + Remembrance
17 | domingo
14h | sala 2: Jia de volta pra casa
16h30 | sala 2: Um toque de pecado
19h | sala 1: mesa de debate 1
06 | quarta
16h30 | sala 1: Memórias de Xangai
19h | sala 2: 24 city
07 | quinta
16h30 | sala 2: Inútil + Our ten years
19h | sala 2: Volta pra casa + In public
8 | sexta
14h | sala 2: Yulu + Remembrance
16h30 | sala 2: Dong + Cry me a river + Black Breakfast
19h | sala 1: Em busca da vida
9 | sábado
14h | sala 1: Plataforma
16h | MASTERCLASS com Jia Zhangke
10 | domingo
14h | sala 2: Prazeres Desconhecidos
16h30 | sala 2: O Mundo
19h | sala 1: Um artista batedor de carteiras + Dog’s condition
12 | terça
16h30 | sala 2: Volta pra casa + In public
19h | sala 1: Um artista batedor de carteiras + Dog’s condition
13 | quarta
16h30 | sala 1: Plataforma
19h | sala 2: Prazeres Desconhecidos
14 | quinta
16h30 | sala 2: O Mundo
19h | sala 1: Em busca da vida
15 | sexta
14h | sala 2: Dong + Cry me a river + Black Beakfast
16h30 | sala 2: Inútil + Our ten years
19h | sala 2: 24 city
16 | sábado
16h30 | sala 1: Memórias de Xangai
19h | sala 2: Yulu + Remembrance
17 | domingo
14h | sala 2: Jia de volta pra casa
16h30 | sala 2: Um toque de pecado
19h | sala 1: mesa de debate 1
segunda-feira, agosto 04, 2014
os residentes ***
Este filme de Tiago Mata Machado é diferente. Ele quer ser diferente. E o é, sem dúvida. Por aí já dá pra ver que tive uma experiência um tanto conturbada com "Os Residentes". Quer dizer: a primeira impressão era de um filme muito preocupado em ser diverso, inteligente, difícil, onde a imagem vem agarrada à um conceito, é ela mesma uma conceito, querendo sempre dizer algo para além dela. As ações não costuram e ou mediam o mundo constituído em filme. O que existem são representações. Refletir sobre a linguagem para poder pensar sobre o mundo. Hoje isso soa como mais um código na gaveta, na grande maioria das vezes. É estranho. Esse incômodo inicial não me abandonou ao longo do filme. "Os Residentes", contudo, ganhava-me devagarzinho, com momentos muito fortes, reencontrando uma energia criativa/destruidora talvez adormecida nos anais da história do cinema. A própria complexidade da fruição do filme mostrava-se pouco a pouco apenas aparente.
Machado interpela a imagem. O que ela pode? Nada sabemos sobre o que pode a imagem cinematográfica. Esta declaração de ignorância é, no entanto, uma provocação e um ponto de partida para uma aventura estético-ideológica. Existe neste filme a consciência de ter vindo depois, de ter chegado depois. Para Machado, este depois diz respeito às diversas vanguardas que tomaram o cinema de assalto ao longo dos anos 60 e 70 com uma vontade de intervenção na vida, para destruí-la e lhe dar quem sabe um outro nome. "Os Residentes", neste sentido, vive em uma espécie de ruína, dos escombros do grande projeto do cinema moderno e suas vanguardas. Ele é como uma resposta corajosa ao trauma deste "fracasso", encarando-o de frente e ao mesmo tempo jogando-o para o retrovisor e seguindo em frente. Vivemos em um momento em que a vida e o mundo são forjados por códigos estéticos? Somos representações sem referencia? O que resta então ao cinema? "Os Residentes" faz este diagnóstico, sendo ele mesmo um sintoma deste diagnóstico, e prega, por fim, a exploração dos poderes representacionais da imagem.
Lendo sobre o filme na Internet, esbarrei nesta preciosidade, uma conversa sobre "Os Residentes", entre Francis Vogner dos Reis e Tiago Mata Machado. Vejam aqui.
Machado interpela a imagem. O que ela pode? Nada sabemos sobre o que pode a imagem cinematográfica. Esta declaração de ignorância é, no entanto, uma provocação e um ponto de partida para uma aventura estético-ideológica. Existe neste filme a consciência de ter vindo depois, de ter chegado depois. Para Machado, este depois diz respeito às diversas vanguardas que tomaram o cinema de assalto ao longo dos anos 60 e 70 com uma vontade de intervenção na vida, para destruí-la e lhe dar quem sabe um outro nome. "Os Residentes", neste sentido, vive em uma espécie de ruína, dos escombros do grande projeto do cinema moderno e suas vanguardas. Ele é como uma resposta corajosa ao trauma deste "fracasso", encarando-o de frente e ao mesmo tempo jogando-o para o retrovisor e seguindo em frente. Vivemos em um momento em que a vida e o mundo são forjados por códigos estéticos? Somos representações sem referencia? O que resta então ao cinema? "Os Residentes" faz este diagnóstico, sendo ele mesmo um sintoma deste diagnóstico, e prega, por fim, a exploração dos poderes representacionais da imagem.
Lendo sobre o filme na Internet, esbarrei nesta preciosidade, uma conversa sobre "Os Residentes", entre Francis Vogner dos Reis e Tiago Mata Machado. Vejam aqui.
sexta-feira, agosto 01, 2014
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