segunda-feira, agosto 04, 2014

os residentes ***

Este filme de Tiago Mata Machado é diferente. Ele quer ser diferente. E o é, sem dúvida. Por aí já dá pra ver que tive uma experiência um tanto conturbada com "Os Residentes". Quer dizer: a primeira impressão era de um filme muito preocupado em ser diverso, inteligente, difícil, onde a imagem vem agarrada à um conceito, é ela mesma uma conceito, querendo sempre dizer algo para além dela. As ações não costuram e ou mediam o mundo constituído em filme. O que existem são representações. Refletir sobre a linguagem para poder pensar sobre o mundo. Hoje isso soa como mais um código na gaveta, na grande maioria das vezes. É estranho. Esse incômodo inicial não me abandonou ao longo do filme. "Os Residentes", contudo, ganhava-me devagarzinho, com momentos muito fortes, reencontrando uma energia criativa/destruidora talvez adormecida nos anais da história do cinema. A própria complexidade da fruição do filme mostrava-se pouco a pouco apenas aparente.

Machado interpela a imagem. O que ela pode? Nada sabemos sobre o que pode a imagem cinematográfica. Esta declaração de ignorância é, no entanto, uma provocação e um ponto de partida para uma aventura estético-ideológica. Existe neste filme a consciência de ter vindo depois, de ter chegado depois. Para Machado, este depois diz respeito às diversas vanguardas que tomaram o cinema de assalto ao longo dos anos 60 e 70 com uma vontade de intervenção na vida, para destruí-la e lhe dar quem sabe um outro nome. "Os Residentes", neste sentido, vive em uma espécie de ruína, dos escombros do grande projeto do cinema moderno e suas vanguardas. Ele é como uma resposta corajosa ao trauma deste "fracasso", encarando-o de frente e ao mesmo tempo jogando-o para o retrovisor e seguindo em frente. Vivemos em um momento em que a vida e o mundo são forjados por códigos estéticos? Somos representações sem referencia? O que resta então ao cinema? "Os Residentes" faz este diagnóstico, sendo ele mesmo um sintoma deste diagnóstico, e prega, por fim, a exploração dos poderes representacionais da imagem.

Lendo sobre o filme na Internet, esbarrei nesta preciosidade, uma conversa sobre "Os Residentes", entre Francis Vogner dos Reis e Tiago Mata Machado. Vejam aqui.


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