vicky cristina barcelona ***
Revi “Vicky Cristina Barcelona”. É um filme bem legal. Acho o melhor de Woody Allen em muito tempo. Ele vem traçando um caminho incerto por gêneros variados. E o que se vê é uma metamorfose bem discreta, um cineasta que vem arriscando se desvincular da imagem que seu cinema construiu. É um longa sobre as aparências, assim como “O sonho de Cassandra”, em que tudo já ficava estritamente na superfície das coisas. Mas se “Cassandra” sofria toda vez que Allen se dizia profundo, “Vicky Cristina” é subliteratura assumida. É um moderno romance de folhetim.
Quase tudo neste filme é clichê, estereótipo e ou aparência. A começar pela Barcelona idílica, digna de um cartão-postal. Os personagens não passam de máscaras, tipos de fácil identificação sob rótulos como o artista, o gênio imprevisível, o yuppie caxias e indiferente, a mulher inocente e inexperiente. É retórica tipicamente folhetinesca, em que se destaca um procedimento de adjetivação. A temática, por sua vez, contrapõe os personagens e o que eles representam, com desenvolvimentos capazes de revelar o patético de cada um deles e de refletir sobre o próprio percurso dessas criaturas no cumprimento de um destino cheio de emboscadas. E não esqueçam, é claro, do amor-paixão, que priva os personagens da razão e dá-lhes o motivo das ações em que se envolvem.
Há uma forte dose de pedagogia nesse filme. “Vicky Cristina Barcelona” é marcado pela participação - ou melhor: interferência mesmo - de um autor na matéria narrada; um narrador intervém comentando, esclarecendo, apelando, destacando certas coincidências, espantando-se e por vezes até julgando. É uma pedagogia que faz com que o factual predomine sobre o descritivo, desenvolvendo-se a ação pelo modelo dramático. O que interessa é o nível do factual, das ações diretas e simples. Os personagens "são" apenas quando postos diante de alguma situação.
ps 1: apesar de tanto amor, “Vicky Cristina” é um filme triste pra burro. Os personagens terminam o filme como começaram. Ninguém muda. Alguns ficam até piores do que estavam.
ps 2: Vicky vai para Barcelona para estudar o Catalão, não é? Mas na cidade para onde ela foi só se fala em espanhol... Muito estranho.
Um comentário:
Achei esse filme espetacular, e concordo com vc qdo diz q é bem triste. É uma espécie de paródia de filmes de turismo misturado com Henry James. E a Penélope Cruz está um fenômeno. Abs!
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