“Bamako” (2006) nos lembra que a dominação (política, econômica , técnico e cultural) é hoje reforçada por termos de contrato degradantes e “programas de austeridade”, entre os quais os do Banco Mundial e do FMI, instaurados, é claro, com a ajuda das elites locais, e que impõem regras que os países mais ricos jamais tolerariam. Mas aqui não se trata exatamente de apontar culpabilidades. Em “Bamako” as crianças assistem a um filme na TV chamado “Death in Timbuktu”, uma espécie de western africano cômico com cowboys brancos e negros. No próprio tribunal, temos brancos e negros em ambos os lados. A idéia, me parece, é indicar que a vida de milhões de pessoas é decidida longe de seus universos. E também que, ao contrário do que muitos filmes parecem dizer, os africanos têm sim plena consciência da situação em que se encontram.
“Bamako” também discorre sobre o conceito de “pós-colonialismo”. Adotado no final dos anos 80, o termo foi sendo talvez confusamente universalizado, ferido por certos descuidos e homogeneizações. Em “Crítica da imagem eurocentrica”, Robert Stam e Ella Shohat falam muito bem sobre isso no recorte cinematográfico, afirmando que, dependo do uso que você faz do termo, “o pós-colonial” se torna uma sacanagem conceitual. De certa maneira, é disso também que fala Sissako. O pós-colonial pode evaporar algumas relações de perspectiva, pode obscurecer a presença do colonialismo no presente. Enquanto os meios de comunicação parecem tratar o multiculturalismo como um fenômeno recente, desligado do colonialismo, Sissako baseia o discurso de seu filme em uma longa história de múltiplas opressões específicas.
Mas ao mesmo tempo em que desconfia do termo, “Bamako” parece a ele se referir como uma resposta a uma necessidade genuína de se superar a crise de compreensão produzida pela incapacidade das velhas categorias de explicar o mundo. E, na verdade, o “pós-colonial” não sinaliza apenas uma simples sucessão cronológica do tipo antes/depois. O “pós-colonial” marca a passagem de uma configuração ou conjuntura histórica de poder para outra. Problemas como a dependência, o subdesenvolvimento e a marginalização persistem hoje, mas sob uma nova configuração. O “colonial” não terminou, mas não consegue mais explicar ou entender uma política de cowboys brancos e negros. Como dizem Stuart Hall e Peter Hulme, o termo “pós-colonial” não é avaliativo, mas descritivo.
“Bamako” também discorre sobre o conceito de “pós-colonialismo”. Adotado no final dos anos 80, o termo foi sendo talvez confusamente universalizado, ferido por certos descuidos e homogeneizações. Em “Crítica da imagem eurocentrica”, Robert Stam e Ella Shohat falam muito bem sobre isso no recorte cinematográfico, afirmando que, dependo do uso que você faz do termo, “o pós-colonial” se torna uma sacanagem conceitual. De certa maneira, é disso também que fala Sissako. O pós-colonial pode evaporar algumas relações de perspectiva, pode obscurecer a presença do colonialismo no presente. Enquanto os meios de comunicação parecem tratar o multiculturalismo como um fenômeno recente, desligado do colonialismo, Sissako baseia o discurso de seu filme em uma longa história de múltiplas opressões específicas.
Mas ao mesmo tempo em que desconfia do termo, “Bamako” parece a ele se referir como uma resposta a uma necessidade genuína de se superar a crise de compreensão produzida pela incapacidade das velhas categorias de explicar o mundo. E, na verdade, o “pós-colonial” não sinaliza apenas uma simples sucessão cronológica do tipo antes/depois. O “pós-colonial” marca a passagem de uma configuração ou conjuntura histórica de poder para outra. Problemas como a dependência, o subdesenvolvimento e a marginalização persistem hoje, mas sob uma nova configuração. O “colonial” não terminou, mas não consegue mais explicar ou entender uma política de cowboys brancos e negros. Como dizem Stuart Hall e Peter Hulme, o termo “pós-colonial” não é avaliativo, mas descritivo.
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