"O intruso", de Claire Denis, como que reproduz a percepção de mundo típica de um bebê: confusão sensorial própria a tudo aquilo que vem ao mundo como acontecimento inteiramente novo, singular, diferente. O impacto que este filme nos causa é da ordem do sonho, onde pensamentos, sentimentos e sensações ainda não ganharam forma dentro de uma gramática bem ordenada e lógica. Diante de um filme como este somos afetados por algo que nossas coordenadas não conseguem capturar por inteiro, ordenamos um sentido daquilo independentemente de uma interpretação. Esse é o delicioso mistério de Denis: referir-se às coisas do mundo antes de elas fazerem parte de um mundo. Ao experimentarmos "O intruso" descobrimos que não há nenhum sentido para além da experiência imanente das imagens que as justifique, e que o “ser-no-mundo” se dá primeiramente nesta relação de contigüidade entre corpos.
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