sexta-feira, julho 01, 2011

borat ****


Eu revi pedaços de "Borat" outro dia. Para quem não lembra, Borat é um repórter da TV estatal do Casaquistão, machista, anti-semita, e hiper-sexualizado. Enviado aos Estados Unidos para uma série de reportagens sobre o modo de vida daquele rico e poderoso país. “Borat” registra as andanças do repórter Cazaque pelos Estados Unidos. Ele aterriza em Nova York, deixa um frango escapar no metrô, pensa que o elevador do hotel é o seu quarto, lava roupa no Central Park, inferniza a vida de algumas feministas, e, por fim, se apaixona por Pamela Anderson. Com medo que os judeus repitam o ataque de 11 de setembro, o repórter convence o produtor Azamat a alugar um pequeno caminhão de sorvete e partir para a Califórnia.

Nas filmagens, Baron Cohen se apresenta como Borat aos entrevistados, convence-os a assinar autorizações para uso de imagens e faz perguntas constrangedoras (“as mulheres devem ser educadas?”, “Qual a melhor arma para se matar um judeu?”). Mas o curioso é que quando Borat despeja um comentário estúpido sobre mulheres, deficientes mentais, e/ou judeus, seus entrevistados tentam ser compreensivos. Afinal, trata-se de um pobre jornalista Cazaque, que se masturba diante de uma vitrine da Victoria Secret, mantém relações sexuais freqüentes com sua irmã, etc.. É como se os entrevistados se sentissem conclamados a orientarem o pobre jornalista Cazaque, ensinando-o a respeito, por exemplo, da etiqueta americana. Porém, aos poucos, o jornalista consegue sem muito esforço declarações a favor da escravidão, do encarceramento de homosexuais, do extermínio de judeus.

Em determinado momento, uma mulher que recebia Borat em sua casa diz que apesar das diferenças culturais, não seria muito difícil americanizar o repórter. Cohen fala então de uma tolerância repressiva, concebida agora como “tolerância” do Outro em sua forma asséptica e benigna. Em “Borat”, multiculturalismo é uma espécie de versão invertida e alto-referencial dos mais variados preconceitos. Quando, por exemplo, Borat ri da idéia de que alguém pode ser contra a crueldade com animais, o que Baron Cohen parece querer nos dizer é que não há como controlar legalmente nossos preconceitos, que dirá exterminá-los. Eles estão aí para serem discutidos. É preciso aceitar o caráter radicalmente antagônico e político da vida social, e admitir a necessidade de se “tomar partido”.

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