“S’en fou La mort” (1990) é o terceiro filme de Claire Denis. Nele, um longa mais bruto do que “Chocolat” (1988), já é possível identificar a cineasta de “Bom trabalho” (1998), “Desejo e obsessão” (2001), “O intruso” (2004), entre outras grandes obras. Denis deixa-se experimentar a possibilidade de rodar um filme feito de olhares, rostos e corpos. A câmera de Agnes Godard se cola nos personagens e uma profusão sensorial nos impede de concatenar os fatos. A narrativa é passagem, variações sutis de um estado instaurado desde o início do filme. "Todo homem, independente de raça, cor, ou origem, é capaz de tudo e qualquer coisa”, diz Dah (Isaach De Bankolé), citando Chester Himes, logo no início do filme. A violência está sempre na espreita por uma forma que lhe dê vida. “S’em fou La mort” é esta forma. Não há como não pensar em “Galo de briga”, um filme-corpo-estranho de Monte Hellman. Pois mais do que as semelhanças da trama, Denis imprime em seu filme uma sensação muito cara ao cineasta americano: um cinema assombrado pela morte em que se experimenta uma forte sensação de que estamos observando personagens que nunca poderemos realmente entender. Alteridade absoluta.
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