terça-feira, agosto 02, 2011

serbian film 2

Hoje cineastas vão se encontrar na Fundição Progresso às 19h30m numa reunião aberta para debater as medidas que podem ser tomadas a fim de derrubar a censura ao "Serbian Film". Além disso, a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) programou exibições de filmes censurados no passado, seguidas de debates.

Domingo, saiu no “Globo” este texto abaixo assinado pelo Marcelo Janot sobre o censurado “Serbian Film”. Não se trata de uma matéria jornalística. Tampouco exatamente de uma crítica. É algo no meio do caminho. Parece-me até certo ponto um retrocesso em relação ao texto do Cezar Migliorin (veja no post abaixo). Janot ficou em cima do muro. Ele não condena de maneira mais incisiva a censura. É entranho como ela é criticada apenas pelo fato de ter dado sobrevida a um filme (segundo ele) ruim “através da pirataria, despertando o interesse de um público infinitamente superior ao que assistiria ao filme pelas vias legais”. Janot tem razão. Mas este não é definitivamente o x da questão. Estamos falando de liberdade de expressão e artística. Estamos falando de censura a um filme que ninguém viu. E o que mais me incomodou mesmo foi está penúltima e incompreensível frase: “E pior: fizeram com que um grupo de abnegados que se mobilizou contra a censura deixasse em muitos a impressão equivocada de estar defendendo um filme que, com ou sem cortes, merecia nada mais do que o completo anonimato”. Como assim?

Leiam o texto:

RIO – Milos é um ex-astro do cinema pornô sérvio. Passando por dificuldades para sustentar a mulher e o filho, ele aceita uma proposta milionária para voltar a atuar em um filme de um misterioso produtor. Desde o momento em que chega ao local das gravações, todos os seus passos são filmados. Ele é forçado a espancar uma mulher que lhe fornece sexo oral ao mesmo tempo em que observa uma adolescente chupando pirulito e se maquiando. Quando o produtor lhe mostra um vídeo em que um homem estupra um recém-nascido logo após o parto, aquilo é a gota d’água para Milos. Mas arrumam um jeito de drogá-lo para que ele volte a filmar e cometa barbaridades ainda piores.

Esta é a sinopse de “A Serbian film – Terror sem limites” (“Srpski film”). A simples leitura do parágrafo acima já insinua algo que se confirma nos primeiros minutos da projeção: o diretor estreante Srjdan Spasojevic fez um filme para chocar, abordando sem sutileza os mais variados tipos de tabus sexuais. Ao oferecê-los sem a menor preocupação de poupar o espectador (com exceção da cena com o recém-nascido, vista de longe e onde percebe-se que se trata de um boneco), e sem contextualizar as violações (que incluem sexo com cadáver e um estupro do filho de 5 anos) dentro do fiapo de roteiro, o diretor deu um tiro $próprio pé. Apesar de justificáveis apenas sob a ótica doentia do personagem do produtor, as cenas são tão gratuitas, grotescas e exageradas que perdem o impacto pretendido.

Nem a presença do bom ator Srdjan Todorovic, conhecido por filmes do diretor bósnio Emir Kusturica, empresta qualidade a essa produção de proposta realista. O que confere ao filme um caráter trash e alguma semelhança com os gore movies, mesmo sem o humor que caracteriza essas produções, é o excesso de tripas e sangue e a ausência de um roteiro consistente. Risíveis são as declarações dadas pelo diretor de que o filme seria uma espécie de metáfora do que passou o povo sérvio nos últimos anos.

Segundo o site IMDB, na Sérvia o filme arrecadou menos de 7 mil. E, por mais que gerasse algum burburinho em exibições esporádicas em festivais, por sua má qualidade artística passaria quase despercebido pelos cinemas onde fosse lançado. E aí quem resolveu dar um tiro no próprio pé foram as autoridades brasileiras. Ao proibirem a exibição do filme, garantiram a ele uma sobrevida com a circulação através da pirataria, despertando o interesse de um público infinitamente superior ao que assistiria ao filme pelas vias legais. E pior: fizeram com que um grupo de abnegados que se mobilizou contra a censura deixasse em muitos a impressão equivocada de estar defendendo um filme que, com ou sem cortes, merecia nada mais do que o completo anonimato. Não se espantem se em breve surgir uma onda de obras à altura da mediocridade de “Um filme sérvio”, já que a publicidade gratuita estará garantida.

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