terça-feira, fevereiro 21, 2012

j. edgar ***

Acho estranho quando um filme é desqualificado (como ocorreu, por exemplo, na crítica do “O Globo”) por problemas de maquiagem. Ok, a maquiagem de Di Caprio é mesmo ruim. E isso prejudica a nossa entrada no longa até certo ponto. Agora, “J. Edgar” é mais um ótimo filme de Clint Eastwood. É incrível como Eastwood consegue (nesta que é uma de suas assinaturas) construir relações humanas tão carregadas de sentimentos. Este é um filme de cenas antológicas: o beijo e a briga apaixonados e apaixonantes entre os dois protagonistas; a sequência em que Edgar coloca o vestido da mãe recém falecida e se vê no espelho; o último e terno beijo na testa de Tolson já no fim do filme.

Eastwood não quer chegar ao homem por trás do mito. Tampouco toma o personagem como exemplar - gosto muito como, no fim, Hoover não reconhece o mundo em que vive, embora tenha consciência de que ele foi um dos agentes privilegiados deste estado de coisas. O que interessa ao cineasta americano é um gesto de aproximação. Eastwood está sempre privilegiando o elemento humano. E tudo acontece de maneira natural, discreta, sem alardes. O cineasta seleciona e narra fatos. Através deles, identificamos obsessões, desejos e fantasmas. Um personagem próximo, porém distante e por vezes até mesmo incompreensível. Este, na verdade, tem sido um dos grandes mistérios do veterano realizador: ser claro e objetivo e ao mesmo tempo preservar fissuras e obscuridades latentes. Essas lacunas ajudam a entender a força das cenas citadas no primeiro parágrafo.

Nenhum comentário: