Eu não entendo como alguém queira fazer hoje um filme mudo. Não acho que não se deva fazê-lo. Não acho que um filme mudo contemporâneo seria inevitavelmente ruim. Eu só não entendo o que leva um cineasta a fazer um filme mudo hoje. E me incomoda bastante a maneira como “O artista” vem sendo promovido na mídia de maneira geral. É como se o “mudo” fosse uma espécie de valor a priori, como se sua mudez fosse algo por si só digno de elogios. Acho isso tão estranho. E, na verdade, me parece que essa questão está lá no filme. Embora “O artista” seja divertido e tenha lá suas grandes cenas (como quando a atriz coloca um de seus braços no paletó de seu ídolo ou quando o protagonista é engolido pela areia movediça), o cinema mudo para ele é algo como um verbete de dicionário, uma coisa meio morta, reduzida a códigos, regras e efeitos. Isto, aliás, é bem curioso. Por que, neste sentido, este filme de Michel Hazanavicius não poderia ser mais contemporâneo nessa sua valorização pelo estilo (como arte da cópia) e pela obediência a um certo número de regras. Fiquei pensando no “Machete”. São filmes opostos. “O artista” é sério, orgulhoso de seu ar de alta cultura, apesar de ter sido produzido para o consumo rápido das classes média do mundo inteiro. O filme de Rodrigues caracteriza-se por uma negação da seriedade, por um certo desprezo por instâncias oficiais de legitimação do gosto na arte e na cultura.
* outra coisa: não gosto da atuação e das caretas dos atores deste filme, com a exceção de John Goodman.
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