RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Depois de "Missão: Impossível - Protocolo Fantasma", de Brad Bird ("Ratatouille"), "John Carter: Entre Dois Mundos" é a segunda produção, em um ano, a recorrer a um diretor de animação da Pixar para dar consistência a um filme de aventura.
Nessa adaptação do livro "A Princess of Mars", de Edgar Rice Burroughs, o escolhido foi Andrew Stanton, diretor dos excelentes "Procurando Nemo" e "Wall-E".
Se Stanton não consegue um resultado com o frescor do mais recente "Missão: Impossível", ele parece ao menos salvar seu material do que poderia ser um desastre sem a sua presença.
O diretor imprime ao filme um espírito dos antigos seriados exibidos em matinês, como "Flash Gordon", em que a única complicação parecia vir dos nomes exóticos de personagens e de planetas.
"John Carter" quer uma fruição simples: protagonista que salta centenas de metros, monstros marcianos que se comportam como cachorros, alienígenas que remetem a tribos africanas, ritmo de aventura incessante e diálogos que indicam que o filme, sabiamente, não se leva a sério.
A esses prazeres talvez antiquados, Stanton adiciona outros mais modernos: efeitos especiais de ponta, cenários digitais grandiosos e uso eficiente do 3D.
Nesses aspectos, "John Carter" se aproxima da série "Star Wars" e de "Avatar" -que, não por acaso, também usaram a tecnologia para resgatar o clima dos antigos seriados de aventura.
A série de Burroughs se presta bem a esse tipo de operação. Nela, o capitão John Carter (Taylor Kitsch) é teletransportado misteriosamente dos Estados Unidos do século 19 para Marte (chamado pelos locais de Barsoom).
Ali ele se torna figura central de uma guerra civil que envolve os humanoides de Helium, com sua princesa Dejah Thoris (Lynn Collins), os de Zodanga, dominados pelo feiticeiro Matai Shang (Mark Strong), e ainda os alienígenas Tharks, liderados por Tars Tarkas (Willem Dafoe).
Por vezes, as relações entre os três grupos marcianos se tornam um tanto confusas -demonstrando que Stanton não conseguiu cumprir plenamente o projeto de uma diversão descomplicada.
Mas o principal problema de seu filme está na dupla de protagonistas, Kitsch e Collins, cuja beleza está num patamar bastante superior ao de seu talento dramático.
Ora eles parecem saídos de uma novela americana, ora parecem seres criados por computação gráfica, menos humanos (e carismáticos) do que os alienígenas do filme.
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