Jonathan Demme costura uma apresentação solo de Neil Young em Toronto com breves depoimentos do músico em visita à cidade em que cresceu, no interior de Ontario, no Canadá. Demme chegou a dizer que via este longa não como um filme concerto, com eram “Heart of Gold” (2006) e “Trunk Show” (2009). E é bem evidente que os fragmentos que não são mostrados (a cidade em transformação, basicamente) buscam visivelmente uma certa afinidade com o que vemos se passar no palco. Eu, contudo, acho que Young sozinho no palco é algo já tão hipnótico que conjugá-la com o que quer que seja é na grande maioria dos casos criar uma estranha cisão. É curioso: quando um corte nos levava para fora do show, sentia-me ansioso para que algo igualmente intenso viesse à tona, porém, quase sempre me decepcionava.
Young sozinho no palco é uma força da natureza solta tempo e no espaço. O Fábio Andrade da Cinética recorre ao termo “fotogenia”. Acho que é por aí mesmo. O conceito, da ordem do inefável ou do não-analisável, foi criado pelo cineasta e teórico Jean Epstein para dar conta daquilo que para ele era a qualidade misteriosa do cinema: a transfiguração da realidade. A fotogenia expressa o poder de revelação do mundo registrado pela imagem, designa o discurso mudo das coisas. O que é fascinante em Neil Young é poder paralisante que sua imagem, sozinho, cantando e tocando, expressa. É como se estas imagens não se constituíssem “para nós”. Somos, ao contrário, colocados à mercê delas. Nestes momentos, Demme prova como o cinema é capaz de nos levar para fora dos labirintos da razão rumo à riqueza inesgotável da experiência.
terça-feira, outubro 30, 2012
domingo, outubro 28, 2012
sexta-feira, outubro 26, 2012
killer joe ***
Gostei bastante do novo filme de William Friedkin, cuja surpreendente abertura, em plano sequencia, termina com o close de uma vagina cabeluda. “Killer Joe” chega chegando. Um melodrama violento e lascivo, um misto de noir com comédia farsesca, que se passa em um sua maior parte dentro de um trailer. Como “Possuídos” (2006), Friedkin investe em uma atmosfera claustrofóbica. O roteirista, o dramaturgo Tracy Letts, também é o mesmo. “Killer Joe”, contudo, explora um humor extremamente negro, e empurra seus personagens a situações limítrofes que revelam seus impulsos mais básicos - algo particular ao cinema do americano. Uma das coisas que mais me atraem neste filme é a centralidade da narrativa. O estilo segue de perto os aspectos narrativos, deixando quase nada para o que não é útil para a trama. É difícil ou pouco proveitoso individualizar seja os poucos personagens, o trabalho de câmera, a cenografia, os diálogos, a mais uma vez incrível direção de atores... Tudo ali funciona em uma mesma sintonia, na mesma hierarquia, em nome desta conspiração familiar que ruma inesperadamente para uma farsa violenta e obcena.
segunda-feira, outubro 22, 2012
ted ***
Quem passa por aqui sabe que eu gosto bastante das séries de Seth MacFarlane. Gostei também de “Teddy”, que, em seus melhores momentos, lembra o humor hiper-um monte de coisas de “Uma família da pesada”. O Sérgio Alpendre lá na “Interlúdio” fala de uma certa influência de Joe Dante e dos Irmãos Farelly que eu sinceramente não vejo. Acho que o filme tem uma relação mais direta com o universo de Judd Apatow e com o próprio e particular estilo desenvolvido ao longo das dez temporadas de “Uma família da pesada”. Eu concordo, contudo, que a história do sequestro do urso torna o filme um pouco enfadonho. Acho que essa junção de Apatow com “Uma família da pesada” talvez não seja possível. Não sei. A série se faz em uma lógica de acúmulo desenfreado de piadas corrosivas que se sobrepõe à centralidade da narrativa, à coerência interna dos personagens... O nonsense parece logo ali, mas as piadas são sempre algo como comentários sobre o mundo em que vivemos. Enfim, os vai-e-vens da história pouco importam, devem estar à serviço das piadas e não o contrário. Outra coisa: achei o final mais ou menos. Ela diz que quer a vida que tinha de volta. Isso quer dizer que ele poderá levar aquela vida à base de preguiça, baseados e Ted? Eu acho que sim, e haveria aí um pequeno elogio á subversão e tal... mas isto não esta muito claro. Logo depois que o urso ressuscita, eles casam e o filme termina. Uma ceninha dos amigos chapados no sofá depois da ressuscitação talvez resolvesse a questão.
quarta-feira, outubro 17, 2012
cineastas do nosso tempo
Uma mostra em DVD da série "Cineastas do nosso tempo", na Caixa Cultural:
Quarta – feira, 17 de outubro
14h50 – De um silêncio, outro + O dinossauro e o bebê: diálogo em oito partes entre Fritz Lang e Jean-Luc Godard (França, 12 anos, 112 min)
17h – Era uma vez André S. Labarthe (França, livre, 94 min)
19h – Conferência: Filmar o ato de criação. Cineastas do nosso tempo e a poética do cinema, por Pedro Guimarães
Quinta – feira, 18 de outubro
15h – Renoir, o patrão – Em busca do relativo (França, 12 anos, 94 min)
17h - Renoir, o patrão – Michel Simon, a direção de atores (França, 12 anos, 95 min)
19h – Jean Vigo (França, livre, 94 min)
Sexta – feira, 19 de outubro
13:30 - Luis Buñuel: um cineasta do nosso tempo + Oliveira, arquiteto (França, livre, 104 min)
15:30 - Pasolini colérico (França, 12 anos,65 min)
17:00 - Alain Cavalier, 7 capítulos, 5 dias, 2 cômodos e cozinha + Philippe Garrel, artista (França, livre,103 min)
19:00 - Um dia de Andrei Arsenevitch + Diourka, pegar ou largar (França, livre,104 min)
Sábado, 20 de outubro
13:30 – Onde jaz o teu sorriso? (França, 12 anos, 104 min)
15:30 – E no entanto eles filmam (França, livre,95 min)
17:30 – Samuel Fuller, cineasta independente (França, 12 anos, 68 min)
19:00 – John Cassavetes + Roma em chamas: retrato de Shirley Clarke (França, 12 anos,104 min)
Domingo, 21 de outubro
13:20 – Eric Rohmer, provas irrefutáveis 1 e 2 (França, livre,114 min)
15:30 - François Truffaut ou o espírito crítico (França, livre,64 min)
17:00 - Jean-Luc Godard ou o cinema desafiado (França, livre,75 min)
18:30 - Jacques Rivette, o vigia. 1ª parte : De dia. 2ª parte : De noite (França, livre,124 min)
Terça – feira, 23 de outubro
16h – Jean-Luc Godard ou o cinema desafiado (França, livre,75 min)
17:30– Jean Rouch (França, livre,73 min)
19h – Chantal Akerman, de cá (Brasil, livre,62 min), sessão apresentada pelo diretor Gustavo Beck
Quarta – feira, 24 de outubro
14:30 - Jacques Rivette, o vigia. 1ª parte : De dia. 2ª parte : De noite (França, livre,124 min)
17:00 - François Truffaut ou o espírito crítico (França, livre,64 min)
18:30 – Debate: Cineastas do nosso tempo, no Brasil. Com José Carlos Avellar e Daniel Caetano, mediação de Patrícia Mourão
Quinta – feira, 25 de outubro
13h - Pasolini colérico (França, 12 anos, 65 min)
14:30 - Um dia de Andrei Arsenevitch + Diourka, pegar ou largar (França, livre,114 min)
16:40 - Oliveira, arquiteto + René Clair (França, livre,115 min)
19h - Max Ophüls ou A ronda ou O prazer de filmar + Busby Berkeley (França, livre,111 min)
Sexta – feira, 26 de outubro
12:50 - Eric Rohmer (França, livre,117 min)
15h - John Cassavetes + Roma em chamas: retrato de Shirley Clarke (França, 12 anos,104 min)
17h - E no entanto eles filmam (França, livre,95 min)
19h – Belair (Brasil, livre,80 min), sessão apresentada pelos diretores Bruno Safadi e Noa Bressane
Sábado, 27 de outubro
13h – A Nouvelle Vague por ela mesma + Luis Buñuel: um cineasta do nosso tempo (França, livre,101 min)
15h - De um silêncio, outro, + O dinossauro e o bebê: diálogo em oito partes entre Fritz Lang e Jean-Luc Godard (França, 12 anos, 112 min)
17:10 - HHH, retrato de Hou Hsiao-hsien (França, 12 anos, 91 min)
19h – A etnografia da amizade (Brasil, livre,85 min), sessão apresentada pelo diretor Ricardo Miranda
Domingo, 28 de outubro
13:30 - Renoir, o patrão - em busca do relativo (França,94 min, 12 anos)
15:30 – Jean Vigo (França, livre,94 min)
17:30 – A primeira onda 1 (França, livre, 76 min)
19:00 – A primeira onda 2 (França, livre, 77 min)
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