Jonathan Demme costura uma apresentação solo de Neil Young em Toronto com breves depoimentos do músico em visita à cidade em que cresceu, no interior de Ontario, no Canadá. Demme chegou a dizer que via este longa não como um filme concerto, com eram “Heart of Gold” (2006) e “Trunk Show” (2009). E é bem evidente que os fragmentos que não são mostrados (a cidade em transformação, basicamente) buscam visivelmente uma certa afinidade com o que vemos se passar no palco. Eu, contudo, acho que Young sozinho no palco é algo já tão hipnótico que conjugá-la com o que quer que seja é na grande maioria dos casos criar uma estranha cisão. É curioso: quando um corte nos levava para fora do show, sentia-me ansioso para que algo igualmente intenso viesse à tona, porém, quase sempre me decepcionava.
Young sozinho no palco é uma força da natureza solta tempo e no espaço. O Fábio Andrade da Cinética recorre ao termo “fotogenia”. Acho que é por aí mesmo. O conceito, da ordem do inefável ou do não-analisável, foi criado pelo cineasta e teórico Jean Epstein para dar conta daquilo que para ele era a qualidade misteriosa do cinema: a transfiguração da realidade. A fotogenia expressa o poder de revelação do mundo registrado pela imagem, designa o discurso mudo das coisas. O que é fascinante em Neil Young é poder paralisante que sua imagem, sozinho, cantando e tocando, expressa. É como se estas imagens não se constituíssem “para nós”. Somos, ao contrário, colocados à mercê delas. Nestes momentos, Demme prova como o cinema é capaz de nos levar para fora dos labirintos da razão rumo à riqueza inesgotável da experiência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário